Mais um capítulo na novela de terror que envolve a crise financeira da Santa Casa de São Paulo, instituição administrada por uma Organização Social de Saúde – a Irmandade Santa Casa de Misericórdia.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ouvirá mais um funcionário da Santa Casa sobre irregularidades e suspeitas de superfaturamento.
Ao site G1, o promotor de Saúde Pública, Arthur Pinto Filho, disse que pretende ouvir mais um funcionário da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, além dos membros da direção, sobre as denúncias de superfaturamento na entidade, que enfrenta uma crise financeira cujos débitos ultrapassam R$ 700 milhões.
De acordo com o promotor, a testemunha e os dirigentes da instituição devem ser ouvidos a partir desta quinta-feira (8), quando o judiciário retorna do período de recesso de final de ano. No dia 10 de dezembro, uma funcionária do hospital prestou depoimento e detalhou os indícios de superfaturamento.
No dia seguinte ao depoimento, o relato da funcionária foi confirmado pelo relatório da auditoria externa apresentada pela Secretaria Estadual de Saúde, disse o promotor. Além da irregularidade na compra dos medicamentos, a auditoria constatou superfaturamento de reformas. A auditoria externa constatou que a crise financeira na instituição é quase o dobro maior do que foi anunciado em setembro.
A primeira auditoria, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e Conselho Estadual de Saúde havia apontado uma dívida de R$ 433,5 milhões. A auditoria externa, porém, revelou que o montante devido pela Santa Casa é superior a R$ 773 milhões.
Prestadores abandonam o barco
Enquanto foi interessante, os prestadores de serviços contratados pela OS que administra o Hospital permaneceram na instituição, drenando os recursos repassados pelo Estado, que a todo momento socorre a instituição quando esta ameaça fechar as portas. Agora, que o rombo é gigantesco, começam a abandonar o barco.
A Logimed, empresa que presta serviços e fornece remédios e medicamentos à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, anunciou, por meio de nota à imprensa, na noite desta terça-feira (6) a rescisão de contrato com a instituição. A prestadora de serviço, acusada de praticar sobrepreço na compra de produtos, alega que tem a receber da Santa Casa R$ 79 milhões em dívidas atrasadas por serviços já prestados e materiais e medicamentos já entregues. Diz ainda que acumulou dívida de R$ 11 milhões com seus fornecedores, além de sofrer protestos no valor de R$ 3,5 milhões.
A Santa Casa, por sua vez, diz que a crise financeira é reflexo da falta de repasse de recursos pelo governo. Em julho, o pronto-socorro central do hospital ficou fechado por 28 horas, devido à falta de dinheiro para comprar remédios e materiais.
No final de dezembro, o Governo de São Paulo havia anunciado uma nova ajuda financeira de R$ 3 milhões para manter a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo funcionando. O Estado decidiu ajudar a instituição desde que uma auditoria independente fosse feita nas contas da entidade. E foi justamente esta auditoria que detectadou problemas em vários setores do hospital, hoje investigados pelo MP-SP.
O salario da maior parte dos profissionais que ainda atuam na instituição seguem atrasados e o serviço terceirizado de limpeza também deixou de ser realizado. Agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos com esclarecimentos sobre o teor das suspeitas de superfaturamento após os depoimentos tomados pelos promotores. O fim desta história, ainda longe de acontecer, certamente não será feliz para a população que depende de atendimento.