Está circulando há alguns dias no Facebook um post da página Baixada Mil Grau, que revela a verdadeira face do atendimento prestado pelo Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, terceirizado pela Organização Social de Saúde (OSS) Fundação ABC.
Trata-se da história relatada pela esposa de um paciente que entrou no hospital andando e saiu sem as pernas. O fato aconteceu em 2013 e motivou Luzia Pacheco a escrever uma carta que, segundo ela, foi enviada ao gabinete do governador do Estado. Na postagem original, em seu próprio perfil na rede social, ele pede a ajuda dos internautas para compartilharem a denúncia.
Veja a íntegra da carta no perfil de Luzia Pacheco:
peço que divulguem esta carta, a qual enviei a secretaria da saúde, gabinete do governador, nada vai mudar a situação que ele se encontra, mas creio chegar a alguem muito importante,
Praia Grande, 03 de junho de 2013
Meu nome é luzia Pacheco, sou moradora de Praia Grande a 17 anos, vim em busca de uma vida melhor para minha família. Meu marido Evaldo Medrado de Oliveira com apenas 53 anos, luta pela vida neste exato momento em uma UTI do Hospital Municipal Irmã Dulce, o qual ele se internou em março de 2013 para a realização de uma deblidagem cirúrgica, com alta em 27/03, e em 15/04/2013 ele foi internado novamente com gangrena em MIE, fez alguns exames laboratoriais e ficou no aguardo de uma arteriografia, para então seguir o tratamento adequado, este exame demorou muito a ser realizado, tentei na secretaria da saúde, mas somente em 23/05/2013, foi feito, e com um diagnóstico favorável, ele não perderia a perna.
Mas em 26/05/2013, ele parou de se alimentar, estava com a boca com várias feridas que o impediam de comer, até então ele conseguia se alimentar de liquidos, eu avisei a enfermagem que avisou o médico vascular DR FRIAS, que nada fez(sonda alimentar), ele também ficou muito apático, e no dia 27/05/2013 por volta de 18:30, quando eu cheguei para visita, ele começou com um forte tremor, e constatei que ele estava com febre e o tremor foi aumentando, chamei a enfermagem que por sua vez pediu a avaliação da enfermeira de plantão de nome Camila, ela imediatamente mandou que aplicassem dipirona nele IM, mesmo tendo apenas a 1 hora ter sido aplicado, foi cogitado a presença de um médico, ela disse não ser necessário, e em seguida ela o colocou no oxigênio, eu perguntei se não poderia ser um choque séptico, a resposta foi negativa, no dia seguinte a prostração dele aumentou, e no fatídico dia 29/05/2013, pela manha como sempre eu fazia liguei para meu marido, que não atendeu o telefone em seguida liguei na enfermagem e a mesma Camila estava lá, e ela me disse que ele estava com depressão e pediu avaliação da psicóloga, me dando como justificativa: “A SRA quer o que, até eu no lugar dele ficaria assim, estando 45 dias internado sem saber o que vai ser de minhas pernas.” Palavras dela, e me pediu que fosse até o hospital, retirar uma receita de remédio controlado, antidepressivo, quando cheguei já estavam em intercorrência com meu marido, ele estava morrendo, a PA estava 5 por 4, estava em choque, e foi piorando, até ir parar na UTI, o Dr Frias até a presente data não falou comigo, nem com meus filhos, deixou na UTI uma autorização para a cirurgia, assinamos e fomos hj antes da intervenção, para falar com ele, ele não nos atendeu. Pergunto, como um ser humano, entra em um hospital para tratamento e, andando, falando, e agora luta pela vida sem as 2 pernas? Ele sofreu durante 45 dias com dores, medo, pra nada? Porque não amputaram antes? Porque não colocaram sonda alimentar? Porque? Se todos exames comprovavam a a debilidade física dele. Porque o Dr Frias, nunca via a lesão dele? Como uma enfermeira com ensino superior a D.Camila não sabe, ou não está preparada para distinguir um choque séptico de uma depressão? Porque este médico, sendo a obrigação dele não veio ter com a família de um ser humano, que é marido e pai? Agradeço a equipe da UTI, deste hospital por ele estar vivo, agradeço a equipe da enfermagem da clinica cirúrgica em especial a enfermeira Jovenila e D.Hilda, responsáveis por ele sair vivo do quarto para a UTI no dia29, pois somente qdo elas entraram em plantão olharam pra ele e perceberam que algo estava errado, que pela opinião da enfermeira Camila era depressão, a qual evoluiu em 2 horas para choque séptico.
Tenho fotos, testemunhos de que falo a verdade, mas respostas não, não tenho, apenas uma certeza, mesmo meu marido saindo vivo desta situação, a atitude destas 2 pessoas, que fazem parte do corpo clínico deste hospital, acabaram com minha família.
Má gestão
Após o desabafo de Luzia ser compartilhado pela Página Baixada Mil Grau, dezenas de comentários confirmam a má qualidade no hospital. Muitos queixam-se dos funcionários e da má gestão.
Nós, do Ataque aos Cofres Públicos, sabemos bem o que está em jogo: o lucro de uma de uma Organização Social, tida como entidade sem fins lucrativos – a Fundação ABC – mas que nada mais é do que uma empresa da saúde que visa lucro.
Assim funcionam as unidades entregues para OSSs. Com funcionários mal preparados pagos com baixos salários. Eles também são vítimas de uma equação que garante milhões a empresários da saúde no gerenciamento de unidades e programas de saúde que deveriam ser administradas diretamente pelo Estado ou pelas Prefeituras.
Santos é a próxima
Toda empresa tem como meta a expansão contínua de seus negócios, por meio de uma penetração maior no mercado. A Fundação ABC não é diferente. Com a ajuda do prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, e dos vereadores que aprovaram a Lei das OSs na cidade, a entidade conquistou a ampliação de seu filão de rentabilidade na Baixada Santista. Para administrar a futura UPA, a OS vai faturar R$ 19,1 milhões a mais por ano. Com esse dinheiro todo daria para contratar mais profissionais por concurso público e investir pesado na melhoria do PS Central. Mas a opção do governo foi entregar dinheiro e uma responsabilidade absurda nas mãos de mercadores da saúde. Os usuários vão sentir a consequência na pele, como sentiu Evaldo e sua família, em Praia Grande. Os contribuintes santista também, mas no bolso, quando vier a constatação de que se gastou mais para ter menos.
Veja aqui apenas uma parte dos problemas ligados à Fundação ABC nos contratos em Praia Grande e em outros municípios.
Recentemente tivemos outras denúncias na imprensa. Clique nos links para saber mais:
– Mais um caso de suspeita de erro médico e negligência no Irmã Dulce, terceirizado pela Fundação ABC
– Contrato da Fundação ABC é reprovado pelo Tribunal de Contas
– Fundação ABC: Funcionários do Hospital Irmã Dulce ficam sem almoço por atrasos em pagamento
– Fundação ABC em Santos: Estórias que o Prefeito conta e que não se escrevem
– Praia Grande: Fundação ABC cobrou taxa de administração (lucro) e está irregular