Em fevereiro deste ano um médico da UPA Central de Santos que encontrou acidentalmente um paciente em parada cardiorrespiratória no banheiro da unidade foi demitido sem motivo. Ele também havia questionado a chefia sobre as equipes reduzidas nos plantões e o não cumprimento de algumas condições de trabalho.
A UPA é terceirizada e comandada pela Organização Social Fundação do ABC.
Já em maio, uma enfermeira foi demitida do Hospital Municipal de Cubatão após pedir que a prefeita Márcia Rosa respeitasse os protocolos de segurança hospitalar e não entrasse no centro cirúrgico sem estar devidamente paramentada. Também não lhe deram nenhuma justificativa plausível para seu desligamento, apenas que eram ordens superiores.
O Hospital de Cubatão é terceirizado e comandado pela Organização Social ABBC.
E na semana passada foi a vez da médica Adriana Maria Benaglia sofrer retaliações Ela criticou publicamente o fato de o Hospital Irmã Dulce, onde trabalhava, estar sem condições de atender dignamente os pacientes, pois faltam materiais básicos, vários tipos de insumos e medicamentos. Ela também foi demitida e enviou a carta abaixo para o prefeito Alberto Mourão (PSDB), via mensagem no Facebook.
O Hospital Irmã Dulce é terceirizado e comandado pela Organização Social Fundação do ABC.
Esse é o modelo de eficiência em gestão que as OSs trazem para a saúde pública? É isso o que o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) quer trazer para o Hospital dos Estivadores?
Veja abaixo a íntegra da carta enviada pela médica ao prefeito de Praia Grande:
Prezado Sr. Prefeito de Praia Grande Alberto Mourão
Permita me apresentar. Meu nome é Adriana Maria Benaglia, sou médica ginecologista, residente em Praia Grande há 20 anos e plantonista da maternidade do hospital Irmã Dulce desde o dia 26 de janeiro de 1997.
Nesse período já vivenciei as várias fases do hospital, com mudança de gestores e tenho visto o descaso que esses têm dado a Saúde de nossa cidade. Quando da entrada da Fundação ABC no gerenciamento do hospital, vislumbrei um grande avanço na melhoria do atendimento da população praiagrandense, pois houve importantes mudanças da estrutura física do mesmo, com implantação de UTI adulta e neonatal, centro cirúrgico com equipamentos de ponta, além de contratação de novas equipes médicas, enfermagem, segurança e outros.
Porém tenho visto nos últimos anos uma piora em vários setores do hospital, especialmente no setor de obstetrícia onde até ontem trabalhava, como seguem alguns exemplos a seguir
Há alguns meses eu e outros colegas compramos luvas de procedimento com recursos próprios para podermos trabalhar e não corrermos risco de contaminação; em outra ocasião não havia fios cirúrgicos, instrumental cirúrgico, exames complementares laboratoriais de suma importância para diagnóstico e tratamento, tais como exame para sífilis, Beta HCH (diagnóstico de gravidez) creatinina (para avaliar funcionamento dos rins).
Quem me conhece sabe que me sinto extremamente indignada com tal situação e tenho o bom, ou mal hábito (dependendo do ponto de vista) de expor minhas opiniões e críticas, doa a quem doer e tenho pontuado esses situações publicamente.
Recentemente em um dos meus plantões, li a reportagem de capa do jornalzinho do hospital que dizia a respeito da contratação de uma camareira para trocar as roupas de cama dos pacientes. Nesse dia, o laboratório não estava realizando o exame de Beta hcg, pois não dispunha de reagente, situação esse que se arrastou por mais de uma semana, retardando o diagnóstico e tratamento de pacientes com gravidez tubária, o que poderia colocar em risco a vida dessas pacientes.
Considerando-se que há pelo menos 4 alas do hospital e que cada ala tenha uma camareira; que um funcionário custa ao hospital em média, 1500 reais, visto que sobre um salário mínimo incide-se encargos trabalhistas como INSS, FGTS Férias, 13º salário, o custo mensal seria de 6000 reais. Há de ressaltar que a rouparia do hospital está bem sucateada e que vários lençóis estão tão rasgados, puídos e remendados sem condições de se reutilizar. Supondo que 1 lençol custe 30 reais, com o valor gasto com 4 camareiras daria para repor 200 lençóis em 1 mês, demonstrando claramente a má gestão do dinheiro público, que em última instância sou eu quem pago através dos impostos, que não são poucos.
Ontem pela manhã recebi um telefone do chefe do serviço de obstetrícia do hospital Irmã Dulce agendando uma reunião no final da tarde. Encontrei-me com o Sr. Hadi Al Malat na lanchonete em frente ao hospital as 18:30 hs e fui comunicada verbalmente que havia recebido ordens do diretor técnico do hospital Sr. José Airton de que estava sendo demitida dos plantões, caracterizando-se claramente a represália pessoal e vingativa, visto que não há nenhuma infração ética ou legal reportada a mim pela Comissão de ética do hospital ou de qualquer outro setor do hospital, em virtude das críticas feitas a administração do hospital.
Simples assim. 20 anos de Excelentes serviços prestados a população feminina da Praia Grande terminam assim: com o perdão da palavra: “COM UM PÉ DA BUNDA”!!!
O intuito de enviar essa missiva a V. Sra. é apenas torná-lo ciente do que realmente ocorre nos bastidores do Hospital Irmã Dulce, visto que em última instância V. Sra. é o Representante Maior do município e guardião do dinheiro público que nós, cidadãos pagamos através do impostos.
As medidas legais já estão sendo tomadas e os órgãos competentes serão acionados em tempo hábil para minimizar os danos éticos e morais sofridos por minha pessoa.
Atenciosamente.
Dra. Adriana Maria Benaglia
A carta também foi reproduzida pela página no Facebook Praia Grande Mil Grau e no post há centenas de comentários com muitas outras queixas relativas ao atendimento no Irmã Dulce. Acesse o post e confira a repercussão.
