Prefeitura transfere a culpa pelo péssimo atendimento na UPA para os pacientes

Prefeitura transfere a culpa pelo péssimo atendimento na UPA para os pacientes

ouvidoria-24-11-site

Presencialmente, pelas redes sociais, por e-mail ou pelo whatsapp… As reclamações sobre o atendimento precário prestado na UPA Central terceirizada chegam por vários os canais até o site Ataque aos Cofres Públicos, que desde setembro está fazendo uma ouvidoria popular junto aos pacientes.

As pessoas relatam situações que variam de mau atendimento a descaso e não ganham nenhum tipo de “caixinha” para falar. Os depoimentos são voluntários e carregados de indignação.

Ciente da realidade que desmascara dia a dia o discurso da “excelência através da gestão compartilhada com OSs”, a Prefeitura agora utiliza-se da máquina pública e da imprensa para construir a seguinte narrativa aos munícipes: “A culpa da UPA estar superlotada é da população, que não sabe usar o serviço”. No Diário Oficial e nos jornais da Cidade o secretário Marcos Calvo aparece para justificar o injustificável.

Um golpe mais do que baixo! Calvo cita que uma dor nas costas, por exemplo, deve ser tratada nas unidades básicas. Por esse raciocínio, o paciente que procura a UPA para se livrar da dor colabora para lotar a unidade. Mas o secretário não diz que nas policlínicas a espera para marcar uma consulta é de meses. Há especialidades em algumas unidades com agendamento superior a seis meses!

Ora, se o cidadão que está com dor e precisa de um médico não consegue acessar a rede básica, ele deve aguentar as dores por semanas ou meses para não sobrecarregar o serviço?

Outro golpe baixo do governo é “trabalhar” os dados conforme sua própria conveniência. Quando é para definir as metas quantitativas de consultas a serem cumpridas pela Fundação do ABC a administração considera apenas clínico geral, pediatria e ortopedia. Quando é para mostrar na imprensa como o atendimento cresceu de forma “inesperada” infla os dados incluindo os atendimentos odontológicos na conta.

A população não têm instrumentos para interpretar a maquiagem nos números, mas sabe muito bem o que é ser tratada com descaso. Os pacientes sabem que faltam médicos e funcionários na unidade e que essa é real causa das enormes filas. Enquanto isso, os repasses mensais à empresa que gerencia esse caos estão em dia. Por ano, R$ 19,1 milhões.

Sheila Olave é uma das que se queixam. Pelo facebook ela conta que a UPA não tem cadeira de rodas e, mesmo que tivesse, as cadeiras não entram na sala de triagem e atendimento. “Os cadeirantes precisam ser carregados para dentro da sala!!! Absurdo!!!”.

E segue desabafando: “Primeira vez que fui nessa Upa Central cheguei às 14h30 e consegui ser medicada às 20h. Vi dois cadeirantes serem carregados e muitas pessoas passando mal, se arrastando das cadeiras. É bizarro”.

Na última segunda-feira (7), durante a Ouvidoria Popular, nos deparamos com o caso do estivador Júlio Mateus Leite Neto. Ele e a esposa se acidentaram de moto e chegaram na UPA meio-dia, em viatura dos bombeiros. Por volta das 15 horas, desistiram de ser atendidos e foram embora com diversas escoriações e hematomas. “Não tem ortopedista. Ele foi almoçar e não avisou ninguém. Também não tem radiologista. Estava na maca até agora. Estou saindo com dor no peito e vou para a Santa Casa. Isso é um matadouro”.

Maria Cristina Pereira, dona de casa, também desistiu de esperar. Ela chegou com o filho e o afilhado às 10h40 e após quase cinco horas no local perdeu a paciência na fila enorme para a medicação.

“Meu filho caiu de um telhado e está com a coluna doendo. Tá inchado eles falam que não é nada. Passaram remédio, mas não tem aqui e eu não tenho condições. Meu afilhado está vomitando, com febre, e dizem que não é nada. Mandaram para injeção, mas tem muita gente. Eles estão com fome, sem comer nada nessas cinco horas. A gente vem porque precisa. Na policlínica demora três meses para passar no médico”.

A atendente Janaína Barbosa, também saiu insatisfeita. “Está uma porcaria. Crianças misturadas com adultos. Não tem medicação. Minha filha precisava fazer inalação e não tem. Estou indo para outro hospital”.

 

Com a palavra, os pacientes:

Mariana Leite, vendedora

mariana_leitesite

“Alegam que não têm Nimesulida, amoxicilina, xarope e nem dipirona, que é simples, e que toda unidade tem que ter. Está deixando a desejar. Tem gente que chegou às 10h e até agora, três da tarde, não foi atendida. Outro dia eu vim passar na ortopedia e fiquei 4 horas para ser atendida. Ninguém vem no médico para passear né?”.

Maria José Gonçalves de Santana, diarista

maria_jose_gonc%cc%a7alvessite

“Cheguei meio-dia e meia. Até agora, 15h25, eu não fui atendida. Estou com minha garganta cheia de pus. Tem gente que chegou às 10 horas e não foi chamada. Vi uma médica tratar mal um paciente, empurrando.

E o prefeito de Santos ainda fala que a UPA é uma maravilha. Ele que venha aqui disfarçado e espere pra ver.

Eu tenho mais o que fazer. Não estou atrás de atestado porque trabalho por minha conta. Vim porque preciso de atendimento e estou sendo maltratada”.

Adelcio Jeremias, eletricista

adelcio_jeremiassite

“Cheguei 0h30, por causa de um sangramento e presenciei uma médica maltratando as pessoas. Uma senhora de 64 anos está lá dentro sendo maltratada por ela. Agora no retorno, o enfermeiro me levou até essa doutora, que chama Melissa, e ela não quis me atender porque falou que não era com ela. Pegou o papel, levantou da mesa, entregou e xingou também o enfermeiro. Nesse momento, chegou a senhora e a doutora disse com grosseria: ‘se você não levar o papel na minha sala não vou entender nada’. Eu reclamei e ela disse ‘se vocês quiserem reclamar vão lá na Prefeitura’.

É o caos aí dentro. O prédio está bonito, mas o funcionamento está péssimo. Vim buscar o resultado do exame no horário marcado e não estava pronto.

Onde foi parar o dinheiro do povo? Não tem remédio. Captopril, por exemplo, vou ter que comprar.”.

Cláudia Viana, auxiliar administrativo
claudia_vianasite

“Semana passada estive aqui para tomar medicação porque estou com hemorragia. Na hora da enfermeira tirar a agulha, por inabilidade saiu um esguicho de sangue. Ela não tinha preparo nenhum. Pegou um pedaço de algodão que não estancou o sangue, mandou dobrar o braço e ir embora. Ao virar o corredor esguichou mais e fiquei lavada. Tive que voltar correndo e mostrei para ela. Ela disse ‘problema seu, você lave se quiser’. E saiu andando.

Voltei hoje porque a medicação não surtiu efeito. O atendimento é precário, demora bastante. Cheguei com hemorragia e estava com a mesma classificação de quem estava com dor de cabeça. Os médicos e enfermeiros são mal preparados. Medicação muitas vezes não tem. O prefeito fala que tá bom, mas só pra ele. Ninguém vem enfrentar fila sem precisar”.

Andreza Lopes dos Santos, cozinheira

andressasite

“Meu esposo teve uma distensão na perna. A gente está precisando de ortopedista e só tem um. Um hospital deste tamanho, dessa capacidade, você ter um médico só para atender é um absurdo. Se está com gente morrendo lá na emergência, o restante dos pacientes fica morrendo onde estão esperando. É dinheiro público, é nosso. Então a gente tem que ser bem atendido. É uma falta de respeito com o ser humano. Ninguém vem aqui porque está brincando. Não tem nem lugar pra sentar”.

 

 

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.