Em mais um dia de Ouvidoria Popular na UPA Central de Santos, realizada na manhã da última quarta-feira (16), o Ataque aos Cofres Públicos constatou que a unidade estava menos lotada que de costume. Na semana anterior (dia 7/11), pessoas que precisaram de atendimento ortopédico relataram que não havia nenhum profissional atendendo pela especialidade durante em um intervalo de pelo menos duas horas. Outras desistiram de esperar ser chamadas para o clínico geral.
Nesta quarta, ou a Fundação do ABC cumpriu com o seu papel de colocar a quantidade minimamente satisfatória de médicos no plantão, ou o primeiro dia útil após um feriado prolongado levou menos doentes ao serviço. Ainda assim, o movimento um pouco menos intenso não foi capaz de evitar as críticas dos usuários sobre a qualidade do serviços, que por ano custam quase R$ 20 milhões aos cofres municipais.
Por sua vez, a Prefeitura segue com a postura de colocar o peso da demora e da precariedade do atendimento nas costas da população, ao invés de exigir respostas da empresa contratada – a Fundação do ABC.
Uma faixa foi colocada na esquina da ruas Joaquim Távora e São Paulo com os seguintes dizeres: “Atenção: A UPA e os PSs estão priorizando os atendimentos de urgência e emergência. Se o seu caso é de menor gravidade solicitamos que procure a unidade de saúde de seu bairro ou cidade. Contamos com a sua colaboração para melhor atendê-lo”.
Os pacientes que precisam do SUS também esperam a colaboração do poder público para garantir o acesso à saúde de qualidade e o direito de serem tratados com dignidade, conforme reza a Constituição Federal.
Abaixo estão os relatos dos usuários santistas que procuraram a Ouvidoria Popular voluntariamente:
Robson Cardoso Galvão, advogado
“O modelo de atendimento de saúde em Santos é para inglês ver. UPA, policlínicas e a distribuição de remédios também. Uma precariedade total. Já precisei de atendimento nesta UPA e entrei às 7 e saí de madrugada. E quando você é direcionado à farmácia, não tem remédio básico como dipirona, omeprazol, entre outros. Não adianta dizer que vem gente de Peruíbe, Guarujá, Mongaguá, Cubatão, São Vicente, porque as pessoas precisam ser atendidas. A saúde não é metropolitana?
Minha médica pediu um Raio X. Fui no Ambesp e lá demora três meses. Para uma endoscopia, dois anos. Quem é que, doente, pode esperar três meses por um Raio X? Se tiver com pneumonia, morre. Se tiver tuberculoso, morre. Dizer que as pessoas vão na UPA sem precisar não é verdadeiro. Ninguém procura médico sem necessidade. Só quem sente a dor é que sabe. Manda o prefeito vir aqui na UPA, trazer seus filhos. É bonito falar no jornal.
Quando o poder público começa a terceirizar aquilo que é sua obrigação enquanto gestor público, alguma coisa não está correta. O que a gente tem visto por aí, no Vale do Ribeira, em Cubatão, é que essas OSs metem os pés pelas mãos. É uma forma de o dinheiro vazar pelo ladrão. Nem ouvidoria daqui de Santos você consegue falar pelo 0800. Acham que está tudo bonitinho e as pessoas continuam sem atendimento, sem remédio e sem saúde”.
Moacir de Freitas Duarte, mecânico
Falta informação. Você vai falar com alguém e a pessoa não te trata bem, dá as costas e sai andando. As pessoas acham que estão fazendo favor. Parece uma entidade que está fazendo caridade para o povo. Tem que tratar melhor as pessoas.
Podem receber R$ 20 milhões, mas será que estão passando o necessário para um médico ou um atendente ganhar? Alguém tá querendo ficar com a parte maior, né? As pessoas trabalham descontentes, desanimadas. Hoje foi a primeira vez que entrei aqui e falei ‘Jesus, tem mudar alguma coisa’.
Trouxe meu pai já idoso. Foi chamado e quando fomos no consultório ouvimos ‘fica aqui na porta’. Era o funcionário já gritando. É uma falta de respeito com o cidadão, que apesar de não ter um convênio, paga impostos.
Sandra Faria de Oliveira, promotora de eventos
Decidi reclamar porque não acho justo misturar pediatria com clínico geral. As crianças têm baixa imunidade e têm pessoas com tuberculose, doenças graves e não deveriam ficar perto das crianças.
Estou desde 9 horas da manhã e só agora consegui atendimento para minha filha. Notei algumas pediatras sem paciência com os pais. A que me atendeu foi ótima, mas muita coisa está errada e nada é feito. Deveriam separar melhor os atendimentos ou tirar as crianças daqui e passar de novo para a Santa Casa.
Estive na sala da assistente social e falei que tinha um bebê de 15 dias esperando atendimento no meio de pessoas com doenças graves e ela me disse que nada poderia fazer. Disse que tem uma salinha especial para crianças. Mas lá não tem nem lugar para sentar.
Sinto como se estivesse pedindo esmola. A gente tem que pagar o IPTU todo o ano, mas ficamos vulneráveis. Não tem quem faça nada pela gente.