Recebemos da leitora Yara Esteves Peres nesta quinta-feira (21) um registro em texto dos momentos em que o pai dela precisou de ajuda médica na UPA Central de Santos, administrada pela Fundação do ABC. Ela esteve com ele como acompanhante e classifica o atendimento como um verdadeiro “calvário”.
Os detalhes desmentem claramente as palavras do secretário de Gestão, Fábio Ferraz, que em diversas oportunidades insiste em reafirmar como acertada a decisão de terceirizar a gestão do serviço de urgência e emergência, antes realizado por servidores de carreira no PS Central anexo à Santa Casa.
Uma montanha de dinheiro é destinada religiosamente à uma empresa qualificada como organização social (OS), contra a qual pesam inúmeras investigações e reprovações de contas em outras cidades.
Enquanto isso, os PSs e UBSs seguem literalmente caindo aos pedaços, sem as mínimas condições de trabalho. Ao mesmo tempo, os servidores públicos amargam atraso no 13º e outros benefícios como a pecúnia e as progressões funcionais.
Leia abaixo o relato de Yara sobre o atendimento deficitário na UPA e depois reflita: será que está valendo a pena a terceirização dos serviços públicos capitaneada pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB)???
Minha experiência com a UPA Central de Santos
Domingo, 23 de abril, estive com meu pai na UPA central, em Santos. Ele estava com a pressão alta e tivemos que passar por uma verdadeira via crucis até sairmos de lá, às 5h00 do dia 24/04, segunda-feira.
Quando cheguei à UPA, às 22h00, meu pai já havia recebido o primeiro atendimento, às 21h00. Havia medido a pressão, passado pelo médico e tomado a medicação. A partir daí iniciamos uma peregrinação insana.
Depois de uma hora, ele tinha que medir novamente a pressão para saber se os remédios haviam surtido efeito. No PS Central quem fazia isso era o médico mas na UPA você precisa ir à sala de medicação, pegar fila e esperar para ter o procedimento realizado. Depois você vai ao médico que faz a receita e então você retorna à sala de medicação e toma os remédios. Aguarda por uma hora, e retorna à sala de medicação para medir a pressão. Qual o problema de tudo isso?
Cada vez que você vai à sala de medicação você espera, em pé (seja qual for a sua condição), em uma fila que, naquele dia, levou pelo menos 40 minutos. Isso porque havia duas enfermeiras ou técnicas ou auxiliares de enfermagem, não sei qual a função de cada uma, para: preparar a medicação, dar para o paciente, medir pressão, fazer exames como eletrocardiograma (que fica em uma sala diferente da de medicação), dar inalação, acompanhar pacientes etc. Isso tudo para duas únicas funcionárias que estavam lá da hora que entramos até a hora em que saímos, ou seja, pelo menos das 21h00 às 5h00.
Na segunda ou terceira vez em que fui acompanhar meu pai à sala de medicação para medir a pressão, percebi que o aparelho estava ruim. Encontrei meu pai, sentado em uma cadeira, todo torto, sozinho, com o braço para cima e com o aparelho caseiro rodando em seu braço. Solicitei, no retorno ao médico que pudéssemos medir a pressão dele novamente, na triagem, onde o aparelho era aquele convencional, com a bombinha. O médico autorizou e realmente, houve diferença de um aparelho para o outro. O médico se guiou pela medição da triagem e, a partir daí, nosso caminho aumentou. Nós íamos à sala de medicação, depois à triagem, depois ao médico e depois à sala de medicação para que meu pai tomasse os remédios.
Em uma das idas, o remédio foi substituído, porque o receitado estava em falta.
Lá pelas três da madrugada, o porteiro veio trazendo uma senhora que estava com taquicardia e me pediu para que a acompanhasse ao banheiro, pois ele era homem e não podia fazer aquilo.
Lembro que quando fui ao PS Central com minha mãe, em 2013, e ela apresentou quadro de taquicardia, encaminharam-na direto para a emergência. Aquela senhora estava ali, há mais de uma hora, sendo atendida na sala de medicação e sendo acompanhada pelo porteiro.
Na última vez em que meu pai mediu a pressão na sala de medicação o resultado foi 12 por 8, quando chegamos à triagem e fizemos novamente a medição, o resultado foi 17 por 10. Registro esse dado, apenas para que se tenha ideia das diferenças entre um e outro aparelho. Sem contar que durante o tempo em que meu pai esteve lá, em nenhuma das vezes, foi atendido pelo mesmo médico, ao contrário do que acontecia no PS Central.
As paredes do prédio apresentavam rachaduras e aparência de que havia infiltrações em alguns lugares.
Enfim, os funcionários, médicos, enfermeiros, nos atenderam da maneira mais cortês possível porém é notória a precarização das condições de trabalho desses profissionais e o reflexo disso faz com que o atendimento seja péssimo para o paciente.
Um verdadeiro ataque aos cofres públicos.
Veja também mais um relato, desta vez em uma matéria do Expresso Popular de Santos, de 17/12, sobre a situação na unidade. Por meio da reportagem é possível concluir que a Fundação do ABC falta com a verdade e ainda sugere que os usuários que reclamam do péssimo serviço são mentirosos. Essa é a empresa que fatura R$ 20 milhões com a UPA Central de Santos e que está pressionando por aumento nos repasses. O Governo de Santos continua dizendo que terceirizar a saúde é ótimo.