O site Efeito Letal publicou nesta terça (24) uma reportagem que ilustra bem o tratamento limitado e despreparado recebido por pacientes e seus familiares no Hospital Municipal de Bertioga.
O equipamento é administrado de forma terceirizada pela organização social Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia, Inovação e Saúde (INTS). A entidade privada é alvo de denúncias e reclamações em virtude do atendimento precário que oferece, mesmo com um contrato milionário firmado com a administração municipal.
Vale lembrar que o Ataque aos Cofres Públicos mostrou em várias ocasiões a postura contraditória do prefeito Caio Matheus (PSDB) sobre o tema da terceirização da Saúde. Quando tentava ser eleito para seu primeiro mandato, ele se colocava contra o modelo de gestão. Depois que conquistou o poder aumentou a entrega dos serviços médicos para essas empresas que se dizem filantrópicas.
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O resultado, como se vê hoje, é desastroso.
Abaixo, reproduzimos a reportagem do site Efeito Letal, assinada pelo jornalista Aristides Barros. Para ler direto no site, clique aqui.
CRUEL – SECRETÁRIO É ACUSADO DE AMEAÇAR FILHA DE PACIENTE NO HOSPITAL DE BERTIOGA
O motivo seria porque ela vem denunciando nas redes sociais que o pai corre o risco de morrer dentro da unidade de saúde
A operadora de caixa Keila Cristina Ramos Rocha, 29 anos, filha do reciclador Jorge Marcos Alves, 64 anos, acusou o secretário de Saúde de Bertioga, Valter de Almeida Campoi, de ameaça-la durante uma conversa entre ambos, acontecida sexta-feira (20), dentro do Hospital de Bertioga onde seu pai está já há 17 dias. Ela gravou toda a conversa mantida com o titular da pasta.
O pai foi internado no dia 7 de novembro, e a data marca a luta da filha que desde a internação vem tentando conseguir a transferência do idoso, que é cardíaco e tem problemas de diabetes, para um hospital capaz de realizar a cirurgia cardíaca que ele precisa se submeter, com urgência.
A incapacidade do hospital de garantir a sobrevida do paciente foi apontada pelo próprio secretário Campoi que literalmente “chutou o pau da barraca” da unidade de saúde elencando uma série de deficiências que aumentaram a certeza da filha de que o pai corre o risco de morrer no local.
Em trechos da conversa gravada por Keila, o secretário diz que o hospital não tem recursos para fazer a cirurgia que o idoso necessita e na sequência faz “um suco cítrico” da situação da unidade de saúde ao afirmar que “o hospital de Bertioga chegou até onde poderia chegar nas condições técnicas que têm. Não tem mais como espremer essa laranja que não vai sair caldo, nós chegamos a nosso limite. Agora a gente depende dos outros”, disse Campoi.
O secretário continua. “Não temos mais o que fazer a não ser manter ele aqui até a hora que a gente tentar uma transferência. E se em quatro dias não conseguirmos vamos ter que dar alta para você cuidar dele em casa. Aqui ele corre risco de pegar uma pneumonia, corre risco de pegar outra doença, corre risco de pegar uma ‘Covid’, corre risco de uma infecção hospitalar. Então ele corre muito mais risco aqui do que em casa”, disse o secretário, que confirmou o temor da filha de que o pai pode morrer no local caso não seja transferido para outra unidade médica.
AMEAÇA – Momentos tensos da conversa revelaram uma pessoa mostrando poder e autoridade ao repetir sequencialmente que é “secretário de saúde de Bertioga”. Porém, o secretário que apontava mais problemas que soluções “desceu” o nível do diálogo ao indagar.
“Se for querer levar para esse lado de querer discutir a única pessoa que vai perder com tudo isso sabe quem é? A filha do paciente respondeu. “O meu pai”. E o secretário devolveu de pronto. “Exatamente”.
Falando aos jornalistas, Keila disse como entendeu a afirmação de Valter Campoi. “Eu entendi como uma ameaça. Porque quando ele disse que se eu continuar com a posição que eu estava, denunciando, quem ia perder ia ser meu pai. Eu entendi que algo ele deixaria de fazer, ou poderia fazer algo, para prejudicar o meu pai que encontra-se nas mãos deles, dentro do hospital”
Os cerca de 45 minutos de conversa gravada é de “embrulhar” os estômago e difícil de acreditar que partiu de uma alta patente da área da saúde pública de Bertioga.
O crime de ameaça é descrito no Código Penal Brasileiro – Art. 147 – Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
A família do paciente já está com um advogado que deve mover uma ação contra o hospital e contra o secretário de saúde de Bertioga.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A reportagem contatou a Prefeitura de Bertioga nesta terça-feira (24) para que a administração municipal desse a sua versão sobre o caso. A resposta segue abaixo e nela a prefeitura rebate a acusação de ameaça que teria partido do secretário de saúde.
“A Secretaria de Saúde informa que o paciente J.M deu entrada na urgência do Hospital Municipal de Bertioga, no dia 07/11/2020 com fortes dores no peito. O atendimento foi realizado seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde, e com apoio de exames laboratoriais, os quais demonstraram quadro clínico de infarto.
Diante disso, o paciente permaneceu internado até o dia 11/11, recebendo alta com o quadro estável, já orientado a retornar a unidade no dia 17/11 para preparo e realização do procedimento de cateterismo, já naquele momento agendado para ser realizado no Hospital Guilherme Álvaro em Santos, conforme determinado via Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS). E desta forma, o procedimento ocorreu conforme o esperado.
Após o procedimento médico (cateterismo) realizado, cujos resultados demonstraram necessidade de acompanhamento com médico cardiologista para possível realização de cirurgia cardíaca (pois somente após a avaliação cardiológica é possível definir a complexidade do caso), o paciente retornou ao Hospital de Bertioga permanecendo internado, com quadro de saúde estável, recebendo toda assistência médica e terapêutica necessária.
Tal conduta foi adotada para que o paciente permanecesse assistido até que fosse realizada a avaliação cardiológica, agendada na última sexta-feira, para o dia de hoje (24), constatando que o caso terá seguimento ambulatorial e todos os recursos existentes dentro do âmbito do SUS serão acionados para continuar a oferecer ao paciente a assistência integral para o cuidado com a saúde.
Em relação à versão divulgada como ameaça, isso não procede, o que houve foi um diálogo técnico explicando a realidade da situação do paciente que possui comorbidades e, como se verifica no relato da filha (áudio enviado), não são adequadamente tratadas”.
REINCIDENTE – O Hospital de Bertioga, que é gerenciado pela Organização Social INTS, a quem a prefeitura bertioguense paga um contrato milionário pelo gerenciamento da unidade de saúde, é alvo frequente de denúncias de irregularidades, todas elas graves e de repercussão nacional, como a mais recente quando o GAECO esteve no local apurando a instalação de uma UTI de Covid.
Veja aqui.NOTA DA REDAÇÃO – No final da tarde e já início da noite desta terça-feira (24) a filha do idoso contatou o site Efeito Letal para dizer que o hospital decidiu pela liberação (alta médica) do paciente amanhã mesmo sabendo do estado crítico de Jorge Marcos.
Veja nos links abaixo outras reportagens abordando investigações e denúncias envolvendo a organização social INTS:
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CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO!
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Isso ocorre em todas as áreas da administração pública, em especial na Saúde. No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde terceirizados enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários, atrasos nos pagamentos, corte de direitos e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!