Mais um reflexo do atendimento precarizado fornecido pela SPDM na Baixada Santista. Virou notícia o caso de uma paciente que descobriu ter sido vítima do esquecimento de uma agulha de medicação na nádega. Isso aconteceu após ela tomar uma medicação na UPA do bairro Quietude, unidade municipal de Praia Grande, gerida pela organização social.
Como mostrou o site G1, nesta quarta (17), a paciente Tamires Fernanda dos Santos, de 23 anos, relata que percebeu o que aconteceu apenas quando chegou em casa, ao começar a sentir muita dor. (Veja a matéria)
“Lamentável. Infelizmente, estamos largados à própria sorte”, descreve Tamires.
A moradora procurou o serviço de pronto atendimento na tarde desta terça-feira (16), após sentir uma forte dor de garganta. Ela passou por atendimento médico e foi tomar a medicação receitada. A autônoma não sentiu nada anormal enquanto a injeção intramuscular era aplicada, e foi para casa.
Só quando deitou para descansar percebeu a agulha entrar mais na pele e a dor a levou a examinar o local. Foi então que ela constatou que a enfermeira havia esquecido o objeto após aplicar a medicação.
A jovem conta que retirou o objeto sozinha, guardou e foi até a Ouvidoria do município denunciar o caso, para que seja investigado. ‘Eu fiquei assustada, com medo. E, se acontece coisa pior?”, questiona.
Tamires decidiu falar sobre o que passou para evitar que aconteça com mais pessoas, e aguarda providências por parte do município.
“Graças a Deus, não aconteceu nada grave, consegui ver a tempo. Eu penso se fosse com meus filhos. Espero que esta profissional, que cometeu tamanha imprudência, receba uma advertência, ou então, que tomem providências para que não aconteça com mais ninguém”, desabafa a autônoma.
Ainda na reportagem, a Prefeitura de Praia Grande, que, por nota, informou que a Secretaria de Saúde está investigando o caso. A pasta reitera que um processo administrativo já foi aberto, e que todas as providências cabíveis serão tomadas.
Más condições de trabalho
A SPDM ganha milhões da Prefeitura, mas de forma recorrente vem sendo questionada na mídia, junto ao Ministério Público e Tribunal de Contas em relação aos problemas no cotidiano dos serviços que administra.
No ano passado mostramos aqui no Ataque aos Cofres Públicos, que a situação precária na UPA Quietude levou médicos e profissionais da saúde a apelarem ao Ministério Público do Estado e ao Conselho Municipal de Saúde.
Ao todo, 17 profissionais fizeram uma carta aberta e protocolaram no MP, no CMPG e em outros órgãos. Na denúncia os trabalhadores enumeram problemas decorrentes da administração ineficiente por parte das chefias do serviço.
O manifesto ressaltava que os profissionais se arriscam por falta de equipe médica exclusiva para o atendimento ao combate da pandemia já que são obrigados a atender suspeitos no interior da unidade de pronto atendimento e também na tenda emergencial montada para casos suspeitos de COVID-19. Isso porque os pacientes com suspeita da doença precisavam adentrar à UPA para fazer exames de Raio X, misturando-se inclusive com os demais pacientes.
Os casos suspeitos graves e que por vezes até precisam ser entubados, ficavam na emergência comum a todos os pacientes.
Os funcionários e médicos relatam que o espaço da tenda apresentava sujidade e insalubridade. Já a sala de emergência e internação foi improvisada em um antigo e inativo refeitório.
Além disso, faltam locais adequados para lavar os macacões impermeáveis. Com isso, os profissionais são obrigados a levarem as peças para suas casas para que possam ser limpos e reutilizados. A situação aumentou o risco de contágio no ambiente doméstico destes profissionais.
O manifesto ainda chamava a atenção para a reutilização de materiais, o que não é ideal. E faltavam de filtro de ar para respiradores e material para análise de Raio X.
Sobrecarregados em virtude das equipes reduzidas, os trabalhadores queixaram-se ainda na ocasião de serem submetidos a alto nível de estresse, aumentando o adoecimento e afastamento justamente na fase mais intensa da pandemia. Já houve plantões em que apenas um médico atuou no local.
Ainda segundo o manifesto, servidores concursados são remanejados para atender por períodos de até seis horas na tenda, desfalcando plantões fixos e prejudicando o atendimento à população.
Vale lembrar que enquanto a unidade municipal da Quietude segue sucateada em plena pandemia, a organização social SPDM segue faturando alto nas unidades terceirizadas (Hospital Irmã Dulce, UPA Samambaia e Nefro-PG), oferecendo atendimento ruim e um serviço reprovado pela maioria dos usuários.
A SPDM é a mesma organização social que atua na UPA da Zona Noroeste de Santos e que tem protagonizado muitas denúncias de ineficiência e caos no atendimento. Em âmbito estadual, a OS também tem nas costas várias investigações e problemas na prestação de contas.
Veja nos links abaixo as matérias mais recentes envolvendo a OS ficha suja:
SPDM: ALAGAMENTOS E SUSPEITA DE ERRO MÉDICO MARCAM TERCEIRIZAÇÃO DO HOSPITAL IRMÃ DULCE
OSs EM SANTOS: SPDM DEIXA UPA DA Z. NOROESTE SEM PEDIATRA
SPDM: JUDICIÁRIO CONDENA HOSPITAL IRMÃ DULCE POR NÃO GARANTIR SEGURANÇA SANITÁRIA
MÉDICO DA SPDM É ACUSADO DE AGREDIR CRIANÇA DE 8 ANOS NA UPA DE PRAIA GRANDE
JUDICIÁRIO DO TRABALHO FECHA O CERCO CONTRA SPDM POR FALHAS NO IRMÃ DULCE
UPA DA ZONA NOROESTE ERRA EM DIAGNÓSTICO E GERA SOFRIMENTO DESNECESSÁRIO A PACIENTE
Terceirização ameaça as políticas públicas de várias formas
Mais uma vez fica claro a quem e a qual objetivo a terceirização e privatização da saúde pública servem.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas em busca de lucro fácil, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Há até casos em que esse as organizações sociais são protegidas ou controladas integrantes de facções do crime organizado, como PCC.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!