À custa de muitos milhões e do martírio de quem depende do SUS, a Fundação do ABC segue tirando a paciência dos usuários de saúde de Mogi das Cruzes.
O jornal Gazeta Regional voltou a retratar a rotina de sofrimento dos pacientes que frequentam a UPA do bairro Rodeio.
A entidade privada, que ostenta uma ficha corrida enorme de irregularidades e investigações por falhas e ineficiência, é a mesma responsável pela gestão da UPA Central de Santos.
No último dia 15 o veículo também publicou as queixas dos munícipes sobre o serviço terceirizado (leia aqui)
Três dias antes, a OS foi alvo de reportagens aqui no Ataque aos Cofres Públicos, mostrando os problemas de atendimento na cidade litorânea (veja aqui). E no dia 12 deste mês outra matéria mostra que a empresa teve mais uma condenação no Tribunal de Contas, por falhas na prestação de contas relativa à gestão do Hospital Municipal de Bertioga (leia aqui).
Veja abaixo a íntegra da nova reportagem, de Aristides Barros. Para ler diretamente na página, clique aqui.
Contrato milionário da FUABC em UPA de Mogi das Cruzes é ‘pago com o sofrimento do povo’
Entidade sem fins lucrativos mantém contrato de mais de R$ 37 milhões com a prefeituraPor Aristides Barros / Foto: Bruno Arib
A OSS (Organização Social de Saúde) Fundação do ABC responsável pelos trabalhos da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) “Dr. Manoel Maisette Salgado”, no bairro do Rodeio, atua no local desde 2015, por meio de um contrato com a Prefeitura de Mogi das Cruzes para gerir o funcionamento da unidade de saúde.
O contrato foi assinado à época que o prefeito da cidade era o hoje deputado federal Marco Aurélio Bertaiolli (PSD). O valor atual do contrato são de exatos R$ 37.813.328,54. Ele já teve duas prorrogações e a mais recente, com duração de 36 meses, foi assinada em 1º de outubro de 2020, ainda na gestão do ex-prefeito Marcus Mello (PSDB).
Bertaiolli foi para Brasília, Marcos Mello deixou o governo, e a UPA e a Fundação ficaram em Mogi. Em março do ano passado veio a pandemia da Covid-10. Ninguém estava preparado para o pior e o excesso de reclamações de usuários da UPA do Rodeio evidenciam que a Fundação também não se “armou” para enfrentar o perigo real.
A GAZETA fez nova reportagem ouvindo acompanhantes de pacientes que estavam sem qualquer informação das pessoas que eles levaram ao local, outros que enfrentavam longas horas de espera para serem atendidos. Pessoas doentes e tensas aglomeradas quebravam, involuntariamente, protocolos que ditam o distanciamento.
As queixas recorrentes foram relatadas por José Pedro da Silva, 56 anos, que levou seu irmão, Sebastião dos Reis da Silva, 55 anos, na UPA. “Cheguei oito horas aqui. Já ‘é duas horas’ e ele ainda está aí dentro”, falou. “Perguntei àquela senhora do balcão sobre ele. Ela disse que ia ver não viu nada até agora”, reclamou. “Quando a gente pergunta eles ainda ficam nervosos”, disse.
Um dos seguranças da unidade de saúde indagou se a reportagem “estava fotografando o local e se estava credenciada para fazer o trabalho de imprensa”. A demonstração de hostilidade não freou os jornalistas.
As situações dramáticas registradas na UPA do Rodeio não são exclusividades de Mogi, se repetindo em outras cidades onde a Fundação do ABC “cuida” de unidades de saúde. Em um rápido acesso ao site Ataque aos Cofres Públicos pode se ver a extensão da atuação da organização social que mantém contratos “gordos” com outros municípios.
Reportagens na internet mostram que as imperfeições da empresa não decorrem do momento atual agravado pela pandemia da Covid-19. A problemática de atuação da OSS já existia, o Coronavírus só fez expor o problema, abrindo ainda mais a ferida.
JUSTIÇA – Dedilhadas mais ousadas na rede mundial de computadores levam a uma viagem as malhas do Judiciário onde site Jusbrasil aponta 31 processos da Fundação do ABC, sendo 28 deles junto ao TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), todos contendo “causas e efeitos” do atuação da organização social de saúde, que passa horas tendo de explicar o que deixou de fazer, quando deveria aplicar todo o tempo no seu objetivo que é cuidar de doentes, e sem qualquer finalidade lucrativa.
Deputados falam sobre o problema de atendimento na UPA gerenciada pela organização social de saúde
Os deputados Marcos Damasio (esq) e Marco Bertaiolli opinaram sobre a situação na unidade de saúde do Rodeio.
O jornal contatou o deputado federal Marco Aurélio Bertaiolli (PSD) para saber como o parlamentar vê a situação da UPA do Rodeio pelo fato da “entrada” da Fundação do ABC ter acontecido quando ele era o prefeito da Mogi. “Olha é fato que todas as cidades do País estão enfrentando uma superlotação nas unidades de saúde em razão desta pandemia da Covid-19. A UPA do Rodeio sofre não só com as consequências do alto índice de contaminação da população por ser uma unidade de urgência e emergência, mas também porque o Hospital Luzia de Pinho Melo, no Mogilar, fechou as portas do Pronto Socorro.
A GAZETA indagou o deputado estadual Marco Damasio (PL) como ele vê o avolumado de reclamações de usuários na UPA do Rodeio no momento crítico da pandemia quando, no mínimo, as unidades de saúde deveriam estar atendendo a população usuária a contento.
Ele foi contundente. “A Prefeitura de Mogi precisa se reunir e cobrar os responsáveis pela administração da UPA do Rodeio e verificar o que está ocorrendo. Não resta dúvida que o atendimento tem que ser a contento, até porque temos na cidade um Hospital Municipal para o atendimento à pandemia, temos o Hospital Regional Luzia, e outros, ou seja, a pandemia prejudica o atendimento na área da saúde, mas no caso, acredito que não sirva de justificativa para não prestar o bom serviço que deve ser oferecido para a população”, disse o parlamentar.
O que diz a Organização Social
Novamente indagada pela reportagem sobre a situação de mal atendimento que persiste na unidade médica veio a resposta da Fundação do ABC informando que “cumpre rigorosamente o contrato de gestão firmado junto à Secretaria de Saúde de Mogi das Cruzes. As equipes assistenciais da UPA Rodeio estão 100% completas, trabalhando ininterruptamente em busca de atender a grande quantidade de pacientes que procuram a unidade nesta que é a pior fase da pandemia na cidade e no País”.
Terceirizar o SUS é ruim por vários motivos
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Há até casos em que esse as organizações sociais são protegidas ou controladas integrantes de facções do crime organizado, como PCC.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!