Gerido pela organização social SPDM, o Hospital de Campanha de Praia Grande foi destaque na imprensa da Baixada Santista após uma paciente denunciar que o equipamento receitou o chamado ‘kit covid’, com a prescrição de medicamentos que não são recomendados para esse tratamento e que têm sido alvos de alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de especialistas.
E o pior: as receitas já estão prontas e são distribuídas de forma automática, a todos que se queixam dos sintomas, sem nem mesmo serem testados.
A usuária não tomou, porque tem informação suficiente a respeito sobre as contraindicações. Mas não é o caso de muitas pessoas.
Veja abaixo a matéria:
Hospital de campanha em Praia Grande receita ‘kit covid’ não recomendado pela OMS: ‘Só carimbou’
Paciente com suspeita de coronavírus relata ter recebido prescrição médica ‘pronta’ com Ivermectina e Azitromicina na unidade de saúde instalada no Ginásio Falcão, no bairro Mirim
Uma moradora de Praia Grande com suspeita de covid-19 recebeu, na última semana, no Hospital de Campanha Falcão, uma prescrição médica de ivermectina – remédio que não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento da doença.
De acordo com Rosângela Serena dos Santos, de 24 anos, ela compareceu ao hospital – instalado no Ginásio localizado no bairro Mirim – junto com o filho de oito anos e a irmã, após o sobrinho de 15 anos testar positivo para doença, com qual os três tiveram contato.
Em entrevista para ATribuna.com.br, Rosângela explicou que chegou no local com cansaço e dor de cabeça, enquanto o filho já havia apresentado febre nos dias anteriores. Durante a consulta, ela explicou que a médica receitou ivermectina como método de tratamento precoce para a covid, sem a paciente testar positivo para a doença, como forma de prevenção. “A receita já estava pronta, só destacada de um ‘bloquinho’ com outras receitas iguais. A médica colocou só meu nome e o carimbo dela”, contou Rosângela.
O medicamento normalmente utilizado para casos de doenças envolvendo parasitas, não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento da doença. Contudo, popularizou-se entre os brasileiros, assim como o uso de azitromicina.
De acordo com o médico infectologista Marcos Caseiro, o remédio não tem nenhuma comprovação científica e não há nenhum estudo sério na área da saúde que comprove sua eficácia. “Não existe isso em nenhum País do mundo, só aqui no Brasil”, disse durante entrevista para Atribuna.com.br .
O médico também definiu o uso do medicamento como ‘crença’ e o relacionou à polarização política do País e excesso de fake news disseminadas nas redes sociais. E criticou os médicos que adotam o tratamento de covid com ivermectina.
“O pior de tudo isso é prescrever e achar que resolve. O que resolve mesmo é o acompanhamento médico”, reforçando a necessidade da observação de cada paciente e seu quadro clínico de saúde.
O médico também disse ter recebido um prontuário médico da Secretaria de Saúde Municipal de São Vicente, que parece um formulário para tratamento precoce de pacientes da doença, no qual ivermectina e azitromicina aparecem como as primeiras opções de uma extensa lista de remédios.
“A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informa que tem os medicamentos disponíveis nas farmácias das unidades de saúde, mas a prescrição dos remédios ca a critério e responsabilidade de cada médico, que responde por sua atuação ao Conselho Regional de Medicina (CRM), não cabendo à Sesau qualquer questionamento sobre sua conduta”. Em nota, a Secretaria de São Vicente armou que a prescrição de medicamentos é de responsabilidade de cada médico.
O que diz a Prefeitura de Praia Grande sobre o caso no Ginásio Falcão
Em nota, a Secretaria de Saúde do município também informou que a decisão de tratamento para covid é de responsabilidade do médico.“A Prefeitura de Praia Grande informa, através do Comitê Técnico Científico da Secretaria de Saúde, que não incentiva o uso de medicamentos que não estejam pautados em evidências científicas, no entanto, segue as recomendações do Conselho Federal de Medicina, no sentido de respeitar a autonomia de prescrição daquele profissional da linha de frente que, baseado em sua experiência pessoal e avaliação individual do caso concreto, decida a alternativa que entender ser a correta e, da mesma forma, respeita a posição do paciente em comum acordo com o médico prescritor em aceitar o tratamento”.
A paciente Rosângela Serena optou por não tomar o medicamento, já que não há nenhuma comprovação científica sobre seu uso.