O apelo desesperado da assistente administrativa Andreia Costa para tentar obter uma vaga para o pai idoso com câncer de pulmão escancara a triste realidade da saúde pública em Santos e no Brasil e o quanto a questão pandêmica aprofundou o problema.
Ela procurou o Ataque aos Cofres Públicos para divulgar o caso na esperança de conseguir a sensibilidade das autoridades e tentar evitar o pior. Conta que o estado do paciente Gilberto Francisco da Costa, de 64 anos, tem piorado a cada dia enquanto espera pela internação em alguma ala oncológica da região para seguir com o tratamento especializado.
Francisco tem uma consulta na Santa Casa, marcada para dia 31, pelo SUS. Desde abril a filha, ao ver o pai perdendo o apetite, emagrecendo rapidamente e tendo dificuldades respiratórias, tenta antecipar essa consulta. Como não conseguiu, buscaram uma consulta particular, realizada no último dia 13. A médica que atendeu Francisco orientou a família a procurar a UPA Central para que o idoso passasse por avaliação médica e então fosse feito o encaminhamento, via SUS, para uma vaga em algum hospital com serviço oncológico na região.
Desde então, ele está no oxigênio, aguardando essa transferência. Enquanto espera, o risco de contágio de Covid-19 alarma ainda mais os familiares.
Aliás, a questão pandêmica tem sido um dos entraves burocráticos para que Francisco possa obter o tratamento e internação adequados. Veja abaixo o relato de Andreia com mais detalhes sobre o caso:
“Meu pai foi diagnosticado com câncer de pulmão em setembro de 2020. Faz tratamento de quimioterapia e acompanhamento médico na Santa Casa, pelo SUS. Tem uma consulta marcada para dia 31 de maio, na Santa Casa. Desde abril solicito antecipação desta consulta, porque meu pai esta emagrecendo e sem apetite. Mas foi negada a antecipação. Então, dia 13/5 o levei para uma consulta particular e a Dra. indicou que o levasse para a UPA, para avaliação de internação. Chegando na UPA, no dia 13, às 10h, fui direcionada ao atendimento de suspeita de Covid, devido aos sintomas do meu pai. Ele foi submetido ao exame de swab, exame de sangue e raio x. Ficou no oxigênio e no final do dia informaram que solicitaram autorização ao Sisreg para tentar internar.
A vaga liberada foi no setor enfermaria de Covid, da UPA Central. Alertei novamente que meu pai faz tratamento oncológico e precisava de um hospital com setor oncológico. Mas foi negado pelo sistema e pela Santa Casa, que se justificou infirmando que fechou a ala Covid SUS e só autorizaria sua transferência após o resultado do swab. Então deixei ele na UPA porque precisa do oxigênio para respirar. No domingo, dia 16, meu pai foi levado ao hospital dos Estivadores e fez alguns exames: tomografia, raio x e ultrassom abdominal. Os médicos me ligaram informando que não e mesmo Covid, mas que precisam do resultado swab para novas providências. Me informaram que solicitaram urgência no exame. No entanto, na segunda, dia 17, liguei para o Instituto Adolfo Lutz, responsável pelo resultado do swab e fui informada que só receberam o material coletado naquele dia (17). Expliquei a situação, solicitei urgência. Hoje (terça, 18) liguei novamente e obtive a informação que no material enviado não tem a informação de prioridade / urgência / paciente internado. Por causa disso, o resultado vai demorar 7 dias. Meu pai não pode esperar mais. Ele precisa ter uma avaliação oncológica. Outros hospitais podem recebê-lo. Preciso de ajuda, pois me sinto com as mãos atadas”.