TROCA DE CORPO EM HOSPITAL GERIDO PELA FUABC REVOLTA FAMÍLIA DE VÍTIMA DA COVID

TROCA DE CORPO EM HOSPITAL GERIDO PELA FUABC REVOLTA FAMÍLIA DE VÍTIMA DA COVID

Sindserv 28 anos (365)

 

TROCACORPO

“Como se não bastasse a dor de perder um ente querido para a Covid-19, uma família de Suzano está enfrentando também outra dor. Quando chegou o momento de enterrar Ana Paula de Souza, que estava internada no Hospital Municipal de Mogi das Cruzes, na manhã desta sexta-feira (4), veio a surpresa de que não era ela, a empresária e mãe de três filhos quem estava no caixão, e sim um homem, Hélio do Carmo Silva”.

O trecho acima faz parte de uma reportagem do jornal O Diário e revela um erro sério no sistema de liberação de corpos no hospital municipal de Mogi, que é gerido pela organização social Fundação do ABC (FUABC).

Abaixo mais trechos da reportagem:

Dona de um estúdio de tatuagem em Suzano, Ana Paula teria contraído o novo coronavírus no último dia 26 de maio. Na época, foi atendida e chegou a receber alta médica, retornando para casa. Mas na quinta-feira (3), após piorar, foi internada no Hospital Municipal de Mogi das Cruzes, em Braz Cubas. Segundo a família, durante tentativa de intubação, ela sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.

A mãe da vítima, Enaura Aparecida Abranches, de 60 anos, diz que, no hospital, o filho mais velho de Ana Paula, Diogo da Silva Gregório dos Santos, 23, reconheceu o corpo da mãe. Segundo ela, a certidão de óbito foi emitida sem complicações, e os problemas começaram quando a funerária contratada pela família, Colina dos Ipês, de Suzano, foi retirar o corpo.

“Na hora (da retirada), o homem resolveu olhar para ver se era o corpo dela. E não era, tinha um senhor no lugar”, lamenta Enaura, indignada. “Sem palavras” para descrever a “tristeza e a angústia” que sente, ela não consegue se conformar com o fato de que “já era para ter enterrado” a filha. “Além do sofrimento de ter perdido uma menina nova, de 42 anos, tem essa confusão toda e a gente não sabe se vai enterrar hoje (4)”.

Para a família de Ana Paula, o hospital tenta empurrar a culpa para um funcionário novo de uma das funerárias, que diz ser inexperiente.  É o que diz uma nota da OS, publicada no mesmo jornal. No entanto, em outra matéria, o filho de Ana Paula, Diogo da Silva Grigório dos Santos, de 23 anos, contesta a justificativa:

Na avaliação de Diogo e o pai André, o hospital e a Funerária Assibraf, contratada pela família de Helio do Carmo Silva, são co-responsáveis pela troca dos corpos. “Tentaram nos convencer que a responsabilidade era de um funcionário novo, mas, isso não está correto, porque se era um funcionário em experiência, ele não poderia retirar e transportar um corpo. Além disso, o hospital é quem responde pela liberação e checagem da identidade de um paciente”, observa André, que pretende recorrer à Justiça contra os prejuízos morais enfrentados pela família.

Diogo conta que a demora na exumação do corpo sepultado no lugar de Helio do Carmo Silva aconteceu por causa da troca de acusações por responsabilidades. “Eu acho que a identificação do corpo precisa ser feita por alguém do hospital e da funerária, como me disseram que acontece no Hospital Luzia de Pinho Melo. Uma situação, como essa, não pode acontecer”, comentou ele.

Para confirmar a história narrada por Enaura, a reportagem de O Diário procurou a funerária Colina dos Ipês, que apresentou a mesma versão.

Por telefone, a agente funerária Valéria Aparecida Catarina diz que “quando o agente funerário foi lá, a Ana Paula não se encontrava”. De acordo com o relato, “ele foi até o necrotério e viu o corpo de um homem, que não trouxe, já que o atendimento era para Ana Paula”.

A família só conseguiu sepultar o corpo da empresária na tarde do último sábado (5), às 14h30, em Suzano, após a exumação realizada para esclarecer o caso.

Em nota, a Prefeitura de Mogi das Cruzes, que contrata a Fundação ABC, responsável pela operação do Hospital Municpal de Braz Cubas, prometeu abrir uma sindicância para apurar responsabilidades.

A Fundação ABC, de seu lado, também lamentou a ocorrência e prometeu providências. Disse que são seguidas as regras para o reconhecimento e a liberação dos corpos para o sepultamento – o que conflita, no entanto, com os relatos apurados neste caso.

Um escândalo atrás do outro

Nas últimas semanas a OS FUABC tem protagonizado um caso seguido do outro envolvendo irregularidades e mortes suspeitas de negligência. O último tem a ver com a morte de três pessoas, que estavam internadas em estado grave com a Covid-19. Elas faleceram após uma falha no sistema de fornecimento de oxigênio, no AME de Santo André, gerido pela mesma entidade privada.

Dias antes, o escândalo envolvendo a Fundação teve a ver com o fura-fila na vacinação. Funcionários de alto escalão, ligados à presidência da OS foram vacinados antes do prazo correto, sem estarem no grupo de risco. O caso está sendo apurado pelas autoridades policiais, pelo Ministério Público e também em comissões parlamentares de várias Câmaras da região do Grande ABC.

Veja os últimos links sobre estes e outros episódios que depõem contra a empresa :

INQUÉRITO INVESTIGA MORTES POR FALTA DE OXIGÊNIO EM AME GERIDO PELA FUABC

UNIDADE DA FUABC TEM PANE E PACIENTES MORREM SEM OXIGÊNIO

POLÍCIA INVESTIGA ENFERMEIRO SUSPEITO DE MOLESTAR PACIENTE EM HOSPITAL GERIDO PELA FUABC

FUABC DEVE R$ 109 MILHÕES PARA A PREVIDÊNCIA

CONTRATO MILIONÁRIO DA FUABC ‘É PAGO COM SOFRIMENTO DO POVO’, DENUNCIA JORNAL

FUABC É REPROVADA TAMBÉM NA SAÚDE TERCEIRIZADA DE MOGI

COVID: UPA CENTRAL DE SANTOS GERA RECLAMAÇÕES POR ESPERA DE 5 HORAS

Caso em UPA da capital

Em março desta ano, dez pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de São Paulo, foram transferidos durante a madrugada do dia 20 por conta de problemas no fornecimento de oxigênio na unidade.

Na ocasião, uma fila de ambulâncias se formou na porta da UPA para transportar pacientes com Covid-19 para outros serviços de saúde, com mostra o vídeo abaixo. A falha é alvo de investigação do Ministério Público.

Em Santos, a UPA Central, administrada pela FUABC também foi palco de mortes suspeitas de negligência. Antes da pandemia, parte da Câmara tentou abrir uma comissão especial de inquérito (CEI) para averiguar os casos, mas os vereadores da situação conseguiram impedir que o requerimento de instalação tivesse o número mínimo de assinaturas.

Logo que foi aberta, em 2016, a mesma UPA, comandada pela mesma OS, foi alvo de reportagens sobre a morte de um paciente encontrado em parada cardiorrespiratória no banheiro da unidade. O médico que denunciou problemas nos protocolos de atendimento e reclamou do número reduzido de profissionais foi demitido pela empresa. Relembre aqui.

SISTEMA FRAUDULENTO ORGANIZADO PARA LUCRAR ÀS CUSTAS DO ESTADO

Ocips e Organizações Sociais (OSs), ONGs e outros tipos de entidades “sem fins lucrativos” recebendo dinheiro público nada mais são que empresas com redes de atuação (muitas vezes bem organizadas e sofisticadas) para lucrar burlando os mecanismos de controle de gastos em áreas públicas e fraudando o estado. Quase sempre atuam em vários municípios de mais de um estado da federação.

Conforme documento da Frente em Defesa dos Serviços Públicos, Estatais e de Qualidade, “OSs e oscips somente se interessam em atuar em cidades e em serviços onde é possível morder sobretaxas nas compras de muitos materiais e equipamentos e onde pode pagar baixos salários. O resultado é superfaturamento nas compras (o modelo dispensa licitação para adquirir insumos e equipamentos), a contratação sem concurso público de profissionais com baixa qualificação e, por vezes, falsos profissionais.

O dinheiro que é gasto desnecessariamente nos contratos com estas empresas sai do bolso do contribuinte, que paga pelos serviços públicos mesmo sem utilizá-los e acaba custeando o superfaturamento e os esquemas de propinas para partidos e apadrinhados políticos”.

No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.

É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.

Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.

Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!

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