Alvo de vários escândalos nos últimos meses, a Fundação do ABC, organização social que atua em diversas cidades do ABC paulista, na capital e também na Baixada Santista, terá um aumento de mais de 100% nos repasses da prefeitura de São Caetano do Sul (SP).
De acordo com o prefeito Tite Campanella (Cidadania), o acréscimo do aporte serve para garantir as atividades no atual exercício nas gestões dos equipamentos municipais de saúde, em função da sobrecarga gerada pela pandemia de Covid-19.
O aumento foi aprovado na Câmara de São Caetano, nesta quinta (24), em duas sessões extraordinárias. Com o aval, a transferência para a organização social de saúde sairá de R$ 6 milhões para R$ 13,2 milhões neste ano.
Um escândalo atrás do outro
Nas últimas semanas a OS FUABC tem protagonizado um caso seguido do outro envolvendo irregularidades e mortes suspeitas de negligência. O último tem a ver com a morte de três pessoas, que estavam internadas em estado grave com a Covid-19. Elas faleceram após uma falha no sistema de fornecimento de oxigênio, no AME de Santo André, gerido pela mesma entidade privada.
Dias antes, o escândalo envolvendo a Fundação teve a ver com o fura-fila na vacinação. Funcionários de alto escalão, ligados à presidência da OS foram vacinados antes do prazo correto, sem estarem no grupo de risco. O caso está sendo apurado pelas autoridades policiais, pelo Ministério Público e também em comissões parlamentares de várias Câmaras da região do Grande ABC.
Veja os últimos links sobre estes e outros episódios que depõem contra a empresa :
TROCA DE CORPO EM HOSPITAL GERIDO PELA FUABC REVOLTA FAMÍLIA DE VÍTIMA DA COVID
INQUÉRITO INVESTIGA MORTES POR FALTA DE OXIGÊNIO EM AME GERIDO PELA FUABC
UNIDADE DA FUABC TEM PANE E PACIENTES MORREM SEM OXIGÊNIO
POLÍCIA INVESTIGA ENFERMEIRO SUSPEITO DE MOLESTAR PACIENTE EM HOSPITAL GERIDO PELA FUABC
FUABC DEVE R$ 109 MILHÕES PARA A PREVIDÊNCIA
CONTRATO MILIONÁRIO DA FUABC ‘É PAGO COM SOFRIMENTO DO POVO’, DENUNCIA JORNAL
FUABC É REPROVADA TAMBÉM NA SAÚDE TERCEIRIZADA DE MOGI
COVID: UPA CENTRAL DE SANTOS GERA RECLAMAÇÕES POR ESPERA DE 5 HORAS
Em março desta ano, dez pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de São Paulo, foram transferidos durante a madrugada do dia 20 por conta de problemas no fornecimento de oxigênio na unidade.
Na ocasião, uma fila de ambulâncias se formou na porta da UPA para transportar pacientes com Covid-19 para outros serviços de saúde, com mostra o vídeo abaixo. A falha é alvo de investigação do Ministério Público.
Em Santos, a UPA Central, administrada pela FUABC também foi palco de mortes suspeitas de negligência. Antes da pandemia, parte da Câmara tentou abrir uma comissão especial de inquérito (CEI) para averiguar os casos, mas os vereadores da situação conseguiram impedir que o requerimento de instalação tivesse o número mínimo de assinaturas.
Logo que foi aberta, em 2016, a mesma UPA, comandada pela mesma OS, foi alvo de reportagens sobre a morte de um paciente encontrado em parada cardiorrespiratória no banheiro da unidade. O médico que denunciou problemas nos protocolos de atendimento e reclamou do número reduzido de profissionais foi demitido pela empresa. Relembre aqui.
SISTEMA FRAUDULENTO ORGANIZADO PARA LUCRAR ÀS CUSTAS DO ESTADO
Ocips e Organizações Sociais (OSs), ONGs e outros tipos de entidades “sem fins lucrativos” recebendo dinheiro público nada mais são que empresas com redes de atuação (muitas vezes bem organizadas e sofisticadas) para lucrar burlando os mecanismos de controle de gastos em áreas públicas e fraudando o estado. Quase sempre atuam em vários municípios de mais de um estado da federação.
Conforme documento da Frente em Defesa dos Serviços Públicos, Estatais e de Qualidade, “OSs e oscips somente se interessam em atuar em cidades e em serviços onde é possível morder sobretaxas nas compras de muitos materiais e equipamentos e onde pode pagar baixos salários. O resultado é superfaturamento nas compras (o modelo dispensa licitação para adquirir insumos e equipamentos), a contratação sem concurso público de profissionais com baixa qualificação e, por vezes, falsos profissionais.
O dinheiro que é gasto desnecessariamente nos contratos com estas empresas sai do bolso do contribuinte, que paga pelos serviços públicos mesmo sem utilizá-los e acaba custeando o superfaturamento e os esquemas de propinas para partidos e apadrinhados políticos”.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!