Mais uma matéria na imprensa da Baixada Santista demonstra que mortes prematuras e evitáveis são um dos mais trágicos reflexos da terceirização dos hospitais públicos.
De acordo com a reportagem, publicada na última segunda (28) no site G1, um idoso acabou vindo a óbito após ser internado no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. O Hospital é municipal, mas a gestão é conduzida pela organização social SPDM, que responde por outra denúncias de negligência e também processos por irregularidades em contratos com o poder público.
Abaixo reproduzimos a matéria do site. Para ler direto na página, clique aqui.
Família alega negligência médica após idoso piorar e morrer depois de tomar medicamento forte: ‘Mataram meu pai’
Filho do paciente acredita que hospital só ministrou medicação para que o idoso dormisse e não reclamasse de dores. Caso ocorreu em Praia grande, no litoral paulista.
Por Luana Chaves, G1 Santos
Uma família acusa o Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, no litoral paulista, de negligência médica, após um idoso internado falecer depois de reagir mal a uma medicação. Segundo o porteiro Robson Santos de Menezes, de 37 anos, filho do paciente, o pai havia apresentado uma melhora antes de receber o remédio, e até funcionários do próprio hospital estranharam a receita médica. A unidade afirma que o idoso recebeu todo o atendimento indicado ao seu quadro.
Carlos Corcino de Menezes, de 65 anos, possuía um problema no coração e fazia hemodiálise, por conta de um problema nos rins. Ele era acompanhado pela Unidade de Saúde da Família (Usafa) do bairro Guilhermina, e fazia hemodiálise três vezes por semana em uma clínica do município.
No dia 18 de junho, ao passar por uma consulta na Usafa, o médico observou sintomas que podiam ser de uma possível infecção nos rins, e orientou ao filho do idoso que o levasse a um hospital para ser internado.
A internação aconteceu no Hospital Irmã Dulce, no mesmo dia. O filho, no entanto, só teve notícias sobre o pai no dia seguinte, quando a médica informou que ele estava tomando dois antibióticos, por realmente estar com uma infecção, mas que estava estável.
Na última segunda-feira (21), Corcino precisava ser levado à clínica de hemodiálise para realizar o procedimento. Porém, segundo o porteiro, a clínica esclareceu a ele que a equipe do hospital não o levou ao local. Eles conseguiram abrir uma nova data na terça-feira (22) e atenderam o paciente, que nos últimos três dias estava melhorando.
“Fiquei contente, porque pensei: logo logo meu pai vai poder voltar para casa comigo, porque vi que ele estava muito melhor na terça-feira, conversando, brincando, respondendo bem”, conta.
Piora
Robson fotografou o estado em que encontrou o pai e outro paciente que, segundo ele, estavam ‘jogados’ em macas — Foto: Arquivo Pessoal
Robson fotografou o estado em que encontrou o pai e outro paciente que, segundo ele, estavam ‘jogados’ em macas — Foto: Arquivo PessoalPorém, na quarta-feira (23), ao voltar à clínica para uma nova sessão, o filho e os funcionários se assustaram ao ver que o homem estava muito pior. “Quando ele chegou, não parecia meu pai. Ele estava pior do que quando foi internado”, explica. O rapaz relata que a enfermeira da clínica de hemodiálise olhou o prontuário do paciente, por achar estranha a mudança brusca em seu estado de saúde de um dia para o outro.
Na ficha, ainda segundo o filho do paciente, ela viu que ele estava tomando ‘Diazepam’, e falou que era um absurdo darem essa medicação para uma pessoa que estava fazendo hemodiálise. O Diazepam é indicado para alívio da ansiedade, tensão e outras queixas associadas com síndrome da ansiedade, além de atuar como coadjuvante no tratamento de problemas neurológicos.
Corcino não teve condições de fazer o procedimento e voltou ao hospital, aguardando avaliação médica das 8h30 às 13h, quando foi atendido. Ao ser questionada pela família, a profissional esclareceu que a medicação não influenciava no quadro do paciente, que já era crítico, porém, Menezes não concordou com a afirmação, já que viu que o pai estava melhorando.
O rapaz ainda apresentou à médica uma carta escrita pela especialista da clínica de hemodiálise, relatando a mudança no quadro do paciente, que havia sido enviada ao hospital, porém, não era de conhecimento da médica de plantão. Ao ler a avaliação, a médica do hospital pediu para que o paciente fosse para a emergência.
Na última sexta-feira (25), o aposentado foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e não conseguiu mais realizar a hemodiálise, por conta de seu estado de saúde. Ele chegou a ser intubado, mas teve mais duas paradas cardiorrespiratórias, não resistiu e faleceu na madrugada de domingo (27).
O porteiro explica que o médico que estava na emergência, assim como o que acompanhou o idoso na UTI, estranharam a presença do remédio Diazepam no prontuário do paciente, por se tratar de uma medicação muito forte.
Ele ainda conta que uma enfermeira da unidade explicou que não aplicariam Tramal, outra medicação, no paciente por ser forte. Por isso, ele não imagina por que deram outro remédio tão forte, como o Diazepam.
“Me sinto indignado, porque a gente vai para um hospital para melhorar, e do dia para a noite ele tem uma decadência de saúde dessa forma. É irresponsabilidade e negligência médica total. Quando ele foi mandado para o repouso, eu cheguei e ele estava jogado de qualquer jeito lá. Jogaram ele como um saco de roupa suja, todo bagunçado. Eu que cheguei e ajeitei ele. O descuido que eles têm ali com o paciente é absurdo. Foi tipo: está morrendo, deixa aí que logo logo vai embora”, desabafa.
Denúncia
Diante do ocorrido, a família acredita que o que levou o idoso a piorar e falecer foi o uso do remédio, que não seria necessário, já que o paciente apresentava uma evolução em seu quadro de saúde. Menezes conta que, quando chegou ao hospital na quarta-feira em que o pai piorou, outro paciente que estava no quarto contou a ele que todos no quarto haviam dormido sob efeito de uma medicação forte.Por isso, ele acredita que o hospital tenha ministrado o remédio apenas para que os pacientes dormissem “sem incomodar”.
“Eu tenho certeza absoluta que foi isso. Quando a enfermeira da clínica viu ele, pegou no meu braço, triste, e falou que dificilmente quem tomava Diazepam no estado dele voltava. Ele não conseguia falar, só gemia de dor. Vou mover uma ação judicial, porque eles mataram meu pai”, alega.
“Eu sei que não vai trazer meu pai de volta, mas tem que denunciar, para que não haja um próximo. O jeito que eles tratam os pacientes não é certo. Não são todos, mas existem maus profissionais ali”, conclui.
O G1 entrou em contato com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), gestora do Hospital Irmã Dulce, para obter informações sobre o uso do medicamento e o posicionamento da unidade. Confira a resposta na íntegra:
“A direção do Hospital Municipal Irmã Dulce esclarece que o paciente deu entrada na unidade no dia 18/06, recebendo toda a assistência necessária ao seu caso. Trata-se de um paciente que apresentava um quadro gravíssimo de saúde, com uma série de comorbidades que agravavam sua situação. Durante o período no qual foi atendido na unidade, recebeu todo o atendimento indicado ao seu quadro, porém, infelizmente, não respondeu aos tratamentos ofertados, evoluindo a óbito em 27/06. A equipe do hospital se solidariza com os familiares, permanecendo à sua disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários”.
SISTEMA FRAUDULENTO ORGANIZADO PARA LUCRAR ÀS CUSTAS DO ESTADO
Ocips e Organizações Sociais (OSs), ONGs e outros tipos de entidades “sem fins lucrativos” recebendo dinheiro público nada mais são que empresas com redes de atuação (muitas vezes bem organizadas e sofisticadas) para lucrar burlando os mecanismos de controle de gastos em áreas públicas e fraudando o estado. Quase sempre atuam em vários municípios de mais de um estado da federação.
Conforme documento da Frente em Defesa dos Serviços Públicos, Estatais e de Qualidade, “OSs e oscips somente se interessam em atuar em cidades e em serviços onde é possível morder sobretaxas nas compras de muitos materiais e equipamentos e onde pode pagar baixos salários. O resultado é superfaturamento nas compras (o modelo dispensa licitação para adquirir insumos e equipamentos), a contratação sem concurso público de profissionais com baixa qualificação e, por vezes, falsos profissionais.
O dinheiro que é gasto desnecessariamente nos contratos com estas empresas sai do bolso do contribuinte, que paga pelos serviços públicos mesmo sem utilizá-los e acaba custeando o superfaturamento e os esquemas de propinas para partidos e apadrinhados políticos”.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!