O jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem neste domingo que ilustra a diferença no atendimento entre servidores concursados da Saúde e profissionais terceirizados por empresas que apenas buscam lucro na atenção médica.
A denúncia envolve um caso de suposta homofobia, praticada por um médico contratado pela Organização Social SPDM, em uma UPA de Santo André.
Abaixo reproduzimos na íntegra a matéria:
Médico suspeito de homofobia contra paciente com varíola dos macacos é afastado em Santo André
Prefeitura diz que apura caso e que profissionais estão capacitados para lidar com a doença; entidades temem estigma
Patrícia Pasquini
A Prefeitura de Santo André, na Grande São Paulo, afastou um médico suspeito de homofobia contra um paciente que tinha sintomas de varíola dos
macacos.O caso foi relatado pelo ator Matheus Góis, 23, que fez uma consulta na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Central. O serviço é gerenciado pela organização social SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), responsável pelas unidades de urgência e emergência da cidade. O médico suspeito é funcionário da entidade privada e não é concursado.
Em nota, a prefeitura lamentou o ocorrido e disse que apura os fatos. Durante a investigação, o médico ficará afastado e sem receber salário.
Em entrevista à Folha, Góis relata que procurou atendimento na última segunda-feira (25). Uma médica suspeitou de sífilis e o encaminhou ao Centro Médico de Especialidades da Vila Vitória para a realização de exame, que deu negativo para essa doença.
O paciente diz que ficou isolado no centro de especialidades e que uma médica tirou fotos das lesões que apareceram no corpo. Depois, o encaminhou à UPA Central de Santo André. Góis conta que sentiu desdém por parte do médico que o atendeu no local.
“Logo ele perguntou o que eu tinha e o que estava fazendo lá. Eu expliquei todo o processo. Provavelmente, no meu prontuário estava escrito que eu tinha vindo do centro de especialidades. Esse centro trata de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), conta.
“Ele perguntou: Você tem doença?”, relata o ator. “Eu perguntei: Doença? Ele disse: É, doença. Qual é a sua sorologia?”. Góis então respondeu que tinha resultado negativo em exames de sangue que detectam vírus como o HIV e ouviu do médico que, se ele tinha vindo do centro de especialidades, “alguma coisa ele tinha”.
O paciente diz que foi então encaminhando para uma enfermeira e que o médico não finalizou o atendimento. O diagnóstico de varíola dos macacos foi confirmado.
“Assim que eu entrei na sala, ele me olhou dos pés à cabeça e obviamente viu que eu era gay. Depois, ele só olhou para mim na hora que perguntou se eu tinha doença. Foi bem rude. Pelo prontuário, ele sabia de onde eu tinha vindo, porque nesse centro de especialidade eu faço acompanhamento de PrEP
(Profilaxia Pré-Exposição, terapia de prevenção ao HIV), conta.“Eu faço o relato porque as duas médicas não me trataram assim. Elas realizaram o processo padrão de acolhimento e não me perguntaram nada. Não sabia que ia dar repercussão. Achei importante falar porque pode ter outros casos”, afirma Góis, que também denunciou o caso nas redes sociais.
O atual surto de varíola dos macacos atinge com mais recorrência homens que fazem sexo com outros homens. O vírus é transmitido ao se tocar as feridas causadas pela infecção ou por contato próximo e prolongado com secreções respiratórias de pessoas infectadas, como ocorre em relações sexuais.
Especialistas alertam, no entanto, que qualquer pessoa pode ser infectada.
Entidades como a Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) já apontaram preocupação com o risco de estigmatização de comunidades em razão de estereótipos racistas e homofóbicos que têm sido associados à varíola dos macacos.
A Prefeitura de Santo André diz que profissionais da rede de saúde pública e privada receberam capacitações sobre os protocolos, condutas e encaminhamentos a respeito da doença oferecidas pela Secretaria Municipal de Saúde.
Por telefone, a assessoria de imprensa da SPDM disse que o médico é elogiado na unidade e que as perguntas feitas ao rapaz foram necessárias.
Segundo Góis, nenhum funcionário da prefeitura ou da organização social o procurou até este domingo (31).
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos dos trabalhadores.
Falando em ensino público municipal, a Educação Infantil tem cada vez mais unidades subvencionadas para entidades que recebem dinheiro público e não são fiscalizadas. A assistência social também tem sido rifada desta mesma forma pelo atual governo.
É evidente que todo esse processo de terceirização à galope em todo o Brasil traz como saldo para a sociedade a má qualidade do atendimento e o desmonte das políticas públicas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais da classe trabalhadora, aumento da exploração e acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais.
Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores, enquanto executores dos serviços ou enquanto usuários destes mesmos serviços. O modelo de gestão pública por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido sempre.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos! Contra da PEC 32 e em defesa das políticas públicas!