Os integrantes do Coro Lírico Municipal e o Sindicato dos Músicos estão indignados com a fora que a organização social Sustenidos, que administra o Theatro Municipal de São Paulo, está tratando os profissionais.
Os coristas afirmaram que pode haver uma onda de demissões e o sucateamento do atual corpo artístico, num contexto de má gestão dos recursos orçamentários.
A organização social anunciou no início da semana passada que realizaria uma avaliação interna obrigatória dos coristas, entre os dias 23 e 26 de fevereiro, indicando uma nota de corte para a permanência dos artistas no coro.
O Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado de São Paulo também divulgou uma carta aberta se solidarizando com os cantores. “Como entidade defensora dos interesses dos trabalhadores do Theatro Municipal de São Paulo, se solidariza e se posiciona em relação aos últimos acontecimentos nesta instituição, a mais importante no cenário da ópera da nossa cidade, do país e da América Latina. O coral lírico do Teatro Municipal de São Paulo, que completará 84 anos neste ano, passa por um dos momentos mais difíceis da sua existência. Isto porque, sob a alegação de verificação de excelência, está sendo o primeiro dos corpos artísticos a ser questionado em sua qualidade artística e técnica, pela organização social que gere o complexo TMSP (Sustenidos). Logo os outros serão também. Cite-se que, sem o amparo da atual direção da Fundação Theatro Municipal, a qual está sujeita, e sem o amparo de qualquer questionamento público!”, diz parte do documento.
Em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira (23), a Sustenidos admitiu as falhas orçamentárias e voltou atrás em relação às provas internas com nota de corte, que foram suspensas.
“O processo de avaliação interna é saudável e preza pela excelência técnica, artística e eficiência no uso dos recursos públicos”, diz a nota. “No momento, vamos suspender a avaliação interna e focar na negociação com a Fundação Theatro Municipal e Secretaria Municipal de Cultural acerca do necessário ajuste orçamentário, relativo à inflação.”
Consta no documento divulgado na semana passada que o teste teria o objetivo de analisar as qualidades “tecnico-vocais e interpretativas” dos cantores, além de “suas habilidades de leitura musical”. Para tanto, seria formada uma comissão julgadora com cinco profissionais que não fazem parte da equipe do Municipal.
Cada corista teria de executar uma ária de ópera ou opereta no idioma alemão, uma ária de ópera no idioma francês e “dois trechos de leitura à primeira vista”. As avaliações seriam gravadas, realizadas às cegas, com utilização de biombos, e os jurados não teriam acesso aos nomes dos cantores.
Só seria apto a permanecer no coro quem obtivesse média final maior ou igual a 7,5 pontos. O teste foi concebido à revelia do regente titular do coro, Mário Zaccaro, que está afastado para tratar uma doença cardíaca.
Logo que receberam a convocatória, os funcionários do Municipal iniciaram uma mobilização contra a realização dos testes, vistos por eles como desmonte. Na noite deste domingo (22), os músicos da Orquestra Sinfônica Municipal escreveram um “apelo à sociedade”, intitulado “SOS Artistas do Municipal”. “A organização social Sustenidos, gestora do Theatro Municipal de São Paulo, tornou-se sinônimo de descaso com os artistas”, diz a nota, publicada nas redes sociais.
O texto afirma que há um processo de “uberização” do teatro e que o teste tinha caráter demissionário. “Uma banca com caráter inquisidor foi contratada, não se sabe com quais critérios, para o que nos parece a demissão em massa de artistas. Isso fica evidente, pois, no mesmo dia da convocação desse descabido teste, foi aberto um edital de seleção de cantores, que, caso aprovados, irão trabalhar sem nenhum direito trabalhista.”
Em 2011, 37 músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira, a OSB, foram demitidos, depois de se recusarem a fazer testes qualitativos. À época, Roberto Minczuk, agora diretor musical do Municipal de São Paulo, estava à frente da OSB.
Em outro trecho da Carta Aberta, o Sindicato dos Músicos Profissionais no Estado ressalta a indignação diante de uma intenção clara e material de um retrocesso na conquista direitos fundamentais para a classe de cantores líricos, na cidade de São Paulo e no Brasil.”
Em matéria publicada pelo site Yahoo consta que nos bastidores um funcionário afirmou que a iniciativa foi tomada para conter despesas e que a Sustenidos não gere bem os recursos.
A gestão da OS também foi questionada, em dezembro de 2021, pelo Tribunal de Contas do Município.
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIAÇÃO!
Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de empresas.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.