ESCÂNDALO EM REDE NACIONAL: O CASO DO DESVIO MILIONÁRIO E ASSASSINATO ENVOLVENDO UMA OSC EM BAURU (SP)

ESCÂNDALO EM REDE NACIONAL: O CASO DO DESVIO MILIONÁRIO E ASSASSINATO ENVOLVENDO UMA OSC EM BAURU (SP)

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Reportagem do programa de TV dominical Fantástico, da Rede Globo, trouxe projeção nacional a um caso que representa muitos outros que ocorrem corriqueiramente e sem alarde em centenas de cidades brasileiras.

Estamos falando do esquema que desviou mais de R$ 7 milhões em recursos públicos por meio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru e que ainda culminou em um assassinato.

De acordo com a investigação, o dinheiro era repartido entre o presidente da Apae, a diretora executiva dele e empresários, que emitiam notas fiscais.

Veja abaixo a matéria em texto. Para ver o vídeo na íntegra, clique aqui.

 

Desvio milionário e assassinato: os bastidores de um crime envolvendo a Apae de Bauru

Mais de R$ 7 milhões foram desviados da Apae, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, de Bauru, interior de São Paulo.

O crime
No dia 6 de agosto de 2024, Cláudia Lobo foi vista pela última vez. Ela entrou com um envelope em um carro onde se encontrou com Roberto Franceschetti Filho, presidente da Apae de Bauru. Os dois saíram, trocaram de lugar e voltaram para o carro. Moradores do bairro teriam ouvido um tiro.

Para a polícia, Cláudia foi assassinada por Roberto. O corpo dela desapareceu.

“Tem a mancha de sangue no banco de trás, e depois a perícia comprova que se trata de sangue da Cláudia. E é encontrada também uma cápsula, um cartucho deflagrado… E a prova pericial demonstra que aquele cartucho foi disparado pela arma do Roberto”, diz Gláucio Stocco, delegado da Polícia Civil.

A amizade
Cláudia era secretária executiva de Roberto na Apae de Bauru, em São Paulo. A polícia resgatou conversas entre os dois e descobriu um esquema criminoso. A maioria das mensagens estava gravada nos aparelhos da própria instituição. Veja, abaixo, parte de um diálogo entre Roberto e Cláudia:

Cláudia: “Banco do Brasil, como que é o pix?”
Roberto: “É o seu CPF registrado aqui.”
Cláudia: “Ah, então tá bom. Deu certo?”
Roberto: “Vou dar R$ 3.000 para você.”

A Apae presta atendimentos de saúde e educação no país inteiro. A unidade de Bauru funciona há 60 anos e atende cerca de 2.800 pessoas. Mais de 80% da verba da instituição vem de dinheiro público, que, segundo a polícia, era desviado por Cláudia e Roberto.

O golpe
O esquema desviou mais de R$ 7 milhões de três maneiras principais:

“Primeira: desvio direto, a retirada de valores das contas da Apae diretamente pras contas de Cláudia e Roberto. Segunda: o cabide de emprego. E a outra forma era o superfaturamento de notas fiscais”, explica o delegado.

A investigação apontou que algumas empresas recebiam o dinheiro da Apae e emitiam notas fiscais, por exemplo, de produtos de limpeza, que não chegavam à entidade. Uma nota de R$ 120 mil foi emitida por um dos investigados.

Segundo a polícia, o dinheiro era repartido entre Cláudia, Roberto e os empresários. Mas, depois que as investigações começaram, produtos que deveriam ter sido entregues há anos começaram a chegar.

A testemunha
Começou a faltar dinheiro para manter a Apae funcionando no dia a dia. Leandro Martins, fisioterapeuta da instituição, recebia menos do que o piso salarial e pediu uma correção.

“Foi negado. Ela alegou que a Apae não tinha dinheiro […] Eu percebi que tinha vários parentes da Cláudia trabalhando na instituição. Ali me acendeu um alerta”, conta.

Prisões
A investigação da polícia confirmou que parentes de Cláudia ganharam empregos na Apae – alguns nem iam à instituição. Os indícios são de rachadinhas.

A filha, a irmã, o ex-marido e o cunhado de Cláudia estão em prisão preventiva.

“Eles já esclareceram que não têm nenhuma participação, que não tinham conhecimento algum de eventuais desvios da entidade. E, no nosso entendimento, não há requisitos para que eles continuem presos”, afirma o advogado.

Roberto Franceschetti Filho, também preso pelo desvio de dinheiro, é réu por homicídio e ocultação de cadáver. A defesa dele disse, em nota, que as acusações são baseadas em delações e que não há sequer comprovação de que Cláudia Lobo esteja morta.

“Ele pega os vestígios que ficaram lá, as cinzas, e esparrama pelo pasto que tem nas imediações ali do local onde houve a incineração”, afirma o delegado.

CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!

Terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas.

Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, OSs, organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes. No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.

Embora seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.

Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.

Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!