MUTIRÃO DE CATARATA EM AME COMANDADO POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL DEIXA 12 PACIENTES CEGOS

MUTIRÃO DE CATARATA EM AME COMANDADO POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL DEIXA 12 PACIENTES CEGOS

catarata

Entregar a saúde pública na mão de empresas que visam lucro é aumentar os riscos aos usuários que dependem do SUS. É também a escolha por um modelo de gestão que não visa a eficiência e a transparência no uso dos recursos públicos. 

Vem da cidade de Taguatinga, no interior de São Paulo, mais um triste exemplo disso. No município, um mutirão de cirurgia de catarata, realizado em outubro de 2024, deixou 12 pacientes cegos. 

O caso foi revelado na última semana. No dia do mutirão, 24 pacientes foram atendidos.

Além de Taguaritinga, os procedimentos foram realizados nos municípios de Itápolis, Monte Alto, Santa Ernestina e Matão.

As cirurgias mal-sucedidas ocorreram no Ambulatório Médico de Especialidades de Taquaritinga, que é comandado pela organização social Santa Casa de Franca. 

Os pacientes serão acompanhados por uma comissão especial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, os pacientes estão recebendo suporte e tratamento em unidades de referência por equipe especializada. 

Em nota, a Secretaria disse que “lamenta profundamente o atendimento prestado aos pacientes e abriu investigação para apurar o caso”. Os profissionais envolvidos nos atendimentos foram afastados dos cargos.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que o Grupo de Vigilância Sanitária de Araraquara realizou uma visita técnica na unidade de saúde, junto da Vigilância Sanitária Municipal. Na vistoria, foram identificadas inadequações na sala de materiais e esterilização do AME e a sala foi interditada.

A organização social Santa Casa de Franca afirmou, em nota, que “a investigação instaurada pelo Grupo Santa Casa de Franca no AME Taquaritinga concluiu que houve uma troca no protocolo assistencial, especificamente no preparo cirúrgico; esse erro foi restrito exclusivamente ao dia 21 de outubro de 2024, afetando 12 pacientes dos 23 operados neste dia”. 

Os efeitos inesperados das cirurgias começaram a aparecer pouco após a força-tarefa, quando os os pacientes foram encaminhados para serviços de referência nessa especialidade, na Santa Casa de Araraquara ou no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, também no interior do estado, onde foram informados de que o quadro era irreversível.

O pintor Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos, morador de Santa Ernestina (SP) conta que, logo após passar pelo procedimento no olho esquerdo, começou a sentir dores e sentiu que a visão piorou.

Na consulta pós-operatório, ele reclamou da visão embaçada para a médica, mas, segundo ele, a profissional disse que a situação era normal e que os sintomas desapareceriam em dois ou três meses.

“No segundo dia pós-cirurgia, a médica constatou que estava tudo normal e não estava. Ela era uma especialista e já deveria ter falado. Aí foram segurando a gente, enganando. Daqui um mês, dois meses, pode a visão ir voltando. Passaram um mês, dois meses, três meses, e nada.”

Com o agravamento da situação, Carlos ficou cego do olho esquerdo. O diagnóstico veio em janeiro deste ano após ser encaminhado pelo próprio AME para tratamento especializado em uma clínica em Araraquara (SP). “Não tem como fazer mais nada”, diz Carlos sobre o quadro irreversível.

A salgadeira Maria de Fátima Garcia Chiari, que mora em Matão (SP), teve um quadro ainda pior. Ela alega que após meses aguardando a visão voltar por orientação de médicos do AME, não só parou de enxergar do olho direito como quase perdeu o globo ocular.

“Com o passar dos dias, eu comecei a ver uns vultos e ficou nisso até o dia que eu perdi a visão totalmente. No dia 31 de dezembro, eu comecei a perder a visão. No dia 1 [de janeiro deste ano] ficou tudo cinza e quando foi no dia 2, estava tudo preto.”

Noticiamos aqui na página outros casos envolvendo vítimas de mutirões mal executados em unidades com gestão terceirizada para OSs. Veja abaixo nos links: 

PACIENTES PERDEM A VISÃO EM AME TERCEIRIZADO PARA A FUABC

JUSTIÇA CONDENA PRÓ-SAÚDE A INDENIZAR PACIENTE QUE PERDEU VISÃO APÓS MUTIRÃO DE CATARATA

Fantástico denuncia fraudes e erros em terceirização de operações de catarata no Mato Grosso

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São Bernardo terceiriza cirurgias de cataratas e pacientes ficam cegos

São Bernardo insiste na terceirização para cirurgias de catarata

CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!

Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas.

Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.

No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Embora seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte das políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.

Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.

Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!