Reportagem do Jornal A Tribuna publicada nesta segunda (7), traz o caso de uma menina de apenas um ano, que teria recebido dosagem de soro acima do ideal para o peso, segundo a mãe. A Polícia Civil investiga o caso, que ocorreu no Pronto-Socorro Central de Praia Grande, cuja gestão terceirizada é de responsabilidade da organização social SPDM.
Essa não é a primeira denúncia de erro e negligência médica na saúde da Cidade, entregue há anos para empresas que atuam visando lucro, às custas de precarização dos trabalhadores e sucateamento dos serviços.
Confira abaixo a reportagem:
Bebê de 1 ano morre em Praia Grande após receber medicação errada e exames serem trocados em pronto-socorro
Menina teria recebido dosagem de soro acima do ideal para o peso, segundo a mãe. Polícia Civil investiga o casoMaria Izabel da Silva, de 19 anos, denunciou que sua filha, de apenas 1 ano e 7 meses, morreu após um erro médico no Pronto-Socorro Central de Praia Grande, no dia 30 de março.
Segundo ela, a criança recebeu uma medicação errada, com base em informações incorretas registradas no hospital.
Maria Izabel conta que levou sua filha à unidade de saúde porque ela estava cansada e com catarro no pulmão. Na triagem, a menina foi encaminhada para a emergência, onde um médico solicitou exames de sangue e raio X, mas, segundo a mãe, ele não examinou a criança de perto.
Pouco depois, os exames de sangue foram entregues, mas os resultados eram de outra criança com o mesmo nome. Além disso, o peso da menina foi registrado de forma errada. “Eu falei que minha filha pesava 12 quilos, mas no prontuário constava 30 kg”, afirma a mãe.
Segundo Maria Izabel, a enfermeira mediu a glicemia da filha e, ao notar um leve nível baixo de açúcar no sangue, decidiu administrar um soro com glicose. O problema, de acordo com a mãe, é que a dosagem foi calculada para uma criança de 30 kg – mais do que o dobro do peso real da menina.
Quando houve a troca de plantão, um novo médico percebeu o erro e ordenou que a medicação fosse interrompida imediatamente. “Trocaram o soro para tentar limpar o sangue dela, mas já era tarde demais”, conta a mãe.
Por volta das 20h, os médicos decidiram entubar a criança, e a mãe teve que deixar a sala. Durante horas, a responsável aguardou sem notícias e sem permissão para entrar na emergência. “Invadi a sala com minha mãe e vi minha filha sendo reanimada. Os seguranças nos tiraram de lá. Depois de um tempo, entrei novamente e já encontrei minha filha falecida, sem roupa, deitada na maca”, conta a mãe.
A Polícia Militar (PM) foi chamada e um boletim de ocorrência foi registrado. Agora, a mãe pede que os responsáveis sejam punidos.
Posicionamentos
A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura de Praia Grande, que enviou uma nota afirmando que a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), responsável pelo gerenciamento da unidade de saúde, lamentou o falecimento da paciente.A SPDM reforçou que está colaborando com as investigações das autoridades competentes e abriu sindicância interna para apurar o caso. A instituição também informou que prestou todo o atendimento necessário conforme o estado clínico que a criança apresentava quando deu entrada na unidade.
A Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande informou também que notificou a SPDM sobre o ocorrido para que sejam prestados os devidos esclarecimentos. A Sesap também acionará os órgãos fiscalizadores para apurar o caso.
A Tribuna também entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), que, por meio de nota, informou que o 2º Distrito Policial (DP) de Praia Grande instaurou inquérito policial para apurar todas as circunstâncias relacionadas aos fatos. As buscas estão em andamento e, segundo a pasta, detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial.
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!
Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas que visam lucro a qualquer custo.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas interessadas em substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado com força de trabalho barata e precarizada. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos. Embora a precarização seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social.
O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!