Está dando o que falar o caso do médico acusado de beber vodka enquanto atendia pacientes no Pronto-Socorro Central de Praia Grande (SP), gerenciado pela organização social Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
Um vídeo, obtido pelo site G1 no último domingo (29), mostra a indignação do mecânico Felipe Gomes Hatzopoulos, que alegou ter descoberto a situação enquanto aguardava por atendimento no local.
A Polícia Militar foi acionada para a ocorrência na noite de sexta-feira (27), no bairro Guilhermina. O caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária (CPJ) da Cidade. Por meio de seu advogado, o médico nega que tenha bebido em serviço.
Em nota, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), responsável pelo Complexo Hospitalar Irmã Dulce, informou que o profissional foi imediatamente retirado e substituído na escala por outro. “A unidade ainda ressalta que o profissional não realizou atendimentos após a observação dessa conduta”, complementou.
A Prefeitura de Praia Grande confirmou o afastamento do médico e pontuou que ele é terceirizado (como se isso eximisse a administração de responsabilidades), contratado pela gestora do PS Central, a SPDM. O município reforçou que a medida “não afetou os atendimentos da unidade e que o caso segue sendo apurado administrativamente”.
Abaixo reproduzimos partes de duas reportagens publicadas no G1 sobre o assunto:
Descoberta
Ao g1, Felipe Gomes Hatzopoulos disse que viu o médico pedindo duas doses de vodka em um comércio nas proximidades antes de entrar na unidade de saúde. O mecânico havia parado no local para comer um salgado antes de ir ao PS. “Sabia que era horário de troca de plantão, ia demorar e estava com muita fome”, justificou ele.Hatzopoulos relatou que viu o médico sem uniforme. Segundo ele, o homem colocou um copo em cima da bancada e pediu as doses. “Eu estava aguardando para pagar. Ele pediu para pagar também, já estava todo se tremendo, acho que querendo acho que querendo beber a vodka”, relembrou.
De acordo com ele, o médico pagou e saiu do comércio sem que ele percebesse o destino. Dessa forma, Hatzopoulos levou um susto ao reencontrá-lo no corredor do PS Central, saindo de um dos consultórios.
“Ele saiu com o jaleco azul, passou na minha frente e falou com o enfermeiro que estava cuidando da distribuição das fichas, foi perguntar de um medicamento na minha frente. Eu fiquei olhando bem para a cara dele e falei: ‘Não acredito que esse cara é médico’”, descreveu Felipe.
Para confirmar a suspeita, o mecânico aproveitou a saída do profissional da sala e pediu para um paciente que estava na porta checar se havia um copo no local, ainda segundo o relato.
Com a confirmação, Hatzopoulos foi até o cômodo e começou uma gravação. Em seguida, ele pegou o copo e abriu para checar se tinha a bebida dentro. “Mas o copo escapou da minha mão. Não caiu, mas deu uma escapada e tombou. Nisso, caiu vodka”, relatou o homem.
De acordo com ele, o líquido caiu em outro paciente e, em pouco tempo, a maior parte das pessoas que aguardavam consulta comentaram sobre o forte cheiro de álcool. “Fechei o copo, coloquei na mesa dele e fui atrás de alguém que comandasse ali para poder passar a situação”, disse.
Discussão
De acordo com o mecânico, o médico fechou a porta ao retornar para o consultório e jogou o líquido na pia. Hatzopoulos disse ter ficado ainda mais revoltado e começado a gravar o profissional.O vídeo mostra uma discussão entre eles. Na ocasião, o médico não negou a ingestão de álcool. Veja o diálogo:
👨⚕ – Se você quiser sentar aqui para a gente conversar
👨- Não. Não tem conversa
👨⚕️- Não tem?
👨- Compra vodka e vem atender, vem cuidar de vidas
👨⚕️- Eu estou bêbado para caramba
👨- Não importa
👨⚕️- Eu estou chamando você para conversar
👨- Não tem o que conversar
👨⚕️- Mas você acha que eu estou bêbado?
👨- Tu vai me atender, vai cuidar da minha vida e da vida de todo mundo que está aqui
👨⚕️- Você acha que eu estou bêbado?
👨- F**-se se você está bêbado ou nãoHatzopoulos contou que enviou mensagens sobre o ocorrido para a esposa, que acionou autoridades locais. Os vereadores Márcio Castilho (União Brasil), Anderson Martins (Podemos) e o presidente do sindicato dos servidores públicos de Praia Grande, Adriano Roberto Lopes, conhecido como Pixoxó, foram ao local e auxiliaram os pacientes na denúncia.
SSP-SP
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como não criminal na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Praia Grande.“Os agentes compareceram ao local e foram recebidos por um médico de plantão, que informou ter comunicado o fato ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para as devidas apurações administrativas”, complementou a pasta.
Vídeo mostra médico fazendo compra antes de ser acusado de beber vodka durante atendimento em PS
O G1 teve acesso às imagens da câmera de monitoramento do comércio onde o médico acusado de beber vodka em um pronto-socorro teria comprado a bebida em Praia Grande, no litoral de São Paulo. A defesa dele nega as acusações (veja o posicionamento completo adiante).
Imagens da câmera de monitoramento da hamburgueria Panda Burguer mostram a movimentação no local. No vídeo, é possível ver o mecânico comendo um salgado no balcão ao lado do médico, que rapidamente pegou algo – não identificado no vídeo – e foi embora.
Comércio
Ao g1, o proprietário do comércio, Daniel de Sousa Lopes Martins, contou que chegou ao local pouco depois da saída do médico. De acordo com ele, a colaboradora que atendeu o profissional lembra de ter servido a bebida alcoólica para o homem.“Ela nem sabia que era médico ou até mesmo que estava de plantão”, disse Martins, acrescentando que o PS possui um grande rodízio de profissionais e a equipe do comércio não conhece todos.
“Somos comerciantes. Estamos ali para servir, mesmo porque o mesmo não estava com roupa ou jaleco”, complementou ele.
Defesa do médico
Em nota, os advogados Rafael Leocadio Cristofoli Cunha e Victor Vilas Boas Aló, que representam o médico, negaram as acusações.“É absolutamente inverídica a afirmação de que o profissional teria atendido pacientes sob efeito de álcool. O vídeo amplamente divulgado não mostra qualquer ato de ingestão de substância, tampouco qualquer sinal de alteração comportamental ou profissional. Trata-se de uma gravação clandestina, realizada sem autorização e sem qualquer contexto, cujo conteúdo foi interpretado de forma distorcida, com viés acusatório injusto e danoso”, pontuaram os advogados.
Segundo eles, também não há “laudo, testemunho técnico ou indício objetivo” que comprove a conduta irregular do médico no plantão. Diante disso, eles disseram que as providências judiciais cabíveis já foram adotadas.
Sobre a ida do médico ao comércio, o advogado Rafael Leocadio Cristofoli Cunha afirmou que o profissional frequenta aquele e outros estabelecimentos. “Ainda que tivesse comprado bebida alcoólica, não há qualquer indício que ele teria bebido a bebida alcoólica, que ele, em tese, teria comprado”.
Ainda de acordo com ele, não há infração criminal ou administrativa em ir a um comércio.
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!
Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Embora seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!