A cena é recorrente no Pronto Socorro do Humaitá, em São Vicente: pacientes esperam horas e horas por consulta por falta de médicos. Matéria publicada nesta segunda (8), no Jornal A Tribuna, mostra que o descaso elevou a tensão na última quinta-feira (4), quando a espera por atendimento ultrapassou seis horas e a Polícia Militar precisou ser acionada.
De acordo com a reportagem, a demora provocou tumulto após os presentes verificarem que apenas um médico, contratado por uma empresa terceirizada, estava responsável por todos os casos. A Prefeitura contraria a versão dos usuários e, em nota, disse que a unidade estava com efetivo completo e que os atendimentos ocorreram conforme o protocolo de classificação de risco, priorizando casos graves.
Para A Tribuna, a auxiliar de cozinha Jéssica Rosa, de 32 anos, contou que chegou ao hospital por volta das 14h, após não se sentir bem. Como havia cerca de vinte pacientes aguardando atendimento, ela decidiu esperar. No entanto, ela só foi atendida às 20h. Veja abaixo a matéria:
“Eu fiquei lá esperando a minha vez. No período de 14h até às 16h, o médico fez apenas três atendimentos”, relatou. A auxiliar de cozinha, então, passou em casa para pegar o carregador do celular e voltou ao local por volta de 17h30. “Como estava demorando o atendimento, imaginei que não chegaria a minha vez até eu retornar. E foi o que aconteceu mesmo”
A situação se agravou quando um paciente que aguardava na recepção sofreu uma crise de ansiedade e desmaiou. Ela conta que ele foi socorrido pelos próprios pacientes, que o levaram até a sala do médico. Nenhum funcionário teria auxiliado no momento inicial. Com a tensão aumentando, por volta das 18h, a recepção acionou a PM para evitar confusão.
Espera e desistência
De acordo com a denunciante, por volta das 19h, durante a troca de plantão, ainda havia pacientes aguardando desde meio-dia. “Quando saí às 20h, ainda estavam atendendo quem tinha chegado às 14h. Havia pelo menos trinta pessoas dentro do hospital esperando atendimento. Então, quem chegou lá às 17h, 18h, deve ter saído de lá à 0h”.“Muita gente desistiu e foi embora, porque não aguentava mais esperar em cadeiras
desconfortáveis, com dor e passando mal”, relatou.
Jéssica afirma que situações semelhantes são frequentes no hospital. “Sempre falta médico, e a desculpa é a mesma: só tem um para tudo. Emergências passam na frente e quem está esperando sofre com a demora”, comenta.O que diz a Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Saúde (Sesau), informou que os atendimentos no Pronto-Socorro do Humaitá “seguem normalmente” e que os repasses à empresa médica credenciada estão sendo realizados conforme o contrato.A Administração Municipal afirmou, ainda, que a unidade contava com efetivo completo na quinta-feira (4) e que o atendimento foi feito de acordo com a classificação de risco, priorizando casos graves conforme o Protocolo de Manchester. A presença da PM, segundo a nota, ocorreu apenas como medida preventiva para garantir a segurança de pacientes e profissionais.
Atualmente, segundo a Sesau, o pronto-socorro realiza, em média, 200 atendimentos por dia. A pasta acrescenta que segue investindo em infraestrutura, contratação de profissionais e ampliação dos serviços “com o objetivo de otimizar o tempo de espera e qualificar ainda mais o acolhimento prestado à população”
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!
Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Embora seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por OSs e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e deve ser combatido.