MÉDICAS GINECOLOGISTAS FALTAM AO TRABALHO EM HOSPITAL PÚBLICO COMANDADO POR OS, DÃO AULAS, FAZEM COMPRAS E PILATES EM HORÁRIO DE PLANTÃO E DEIXAM MULHERES SEM CONSULTA

MÉDICAS GINECOLOGISTAS FALTAM AO TRABALHO EM HOSPITAL PÚBLICO COMANDADO POR OS, DÃO AULAS, FAZEM COMPRAS E PILATES EM HORÁRIO DE PLANTÃO E DEIXAM MULHERES SEM CONSULTA

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Isso é terceirização com as chamadas Organizações sociais (OSs) na saúde pública!

Três ginecologistas do Hospital Heliópolis, na zona sul de São Paulo, foram flagradas em compras, aulas e pilates entre 17 e 26 de novembro, enquanto moradoras esperam mais de 6 meses por consulta.

É o que aponta uma investigação da TV Globo, que flagrou as três ginecologistas do ambulatório de especialidades do Complexo Hospitalar Heliópolis, na zona sul de São Paulo, longe do plantão em horários em que deveriam atender pacientes. VEJA AQUI O VÍDEO

Somados, os salários das três profissionais contratadas pela organização social Albert Einstein, somam mais de R$ 210 mil, entre janeiro e outubro de 2025. Dinheiro pago com verba do Estado via contrato de terceirização da gestão do hospital.

Enquanto mulheres como as irmãs Rita e Gil ouvem há mais de 6 meses que “não tem vaga para ginecologista”, as médicas aparecem dando aulas, fazendo compras e até aula de pilates.
Escala afixada na recepção mostra que Márcia Camilos, Silmara Fialho e Mara Gomes são as responsáveis pelos atendimentos, mas uma delas está afastada há um ano com atestado de 365 dias por “capacidade laborativa prejudicada” e, ainda assim, segue ativa em consultório particular e em congressos.

Com a repercussão do caso, as profissionais foram afastadas depois que a Secretaria Estadual da Saúde determinou à organização social Albert Einstein uma apuração imediata e rigorosa das denúncias.

Moradoras de Heliópolis sem consulta há mais de 6 meses
Na favela de Heliópolis, na zona sul da capital, a rotina de dona Rita e da irmã Gil é de trabalho pesado e humilhação.

Elas tentam marcar uma consulta com ginecologistas há mais de 6 meses e sempre escutam a mesma resposta na unidade de saúde: “não tá tendo vaga para ginecologista, a gente tá sem médico”. O direito básico a um atendimento ginecológico vem sendo adiado indefinidamente.

Enquanto isso, o ambulatório de especialidades do Complexo Hospitalar Heliópolis continua informando ao público que a escala conta com três ginecologistas.

Na prática, porém, as portas seguem fechadas para as pacientes, que ouvem que não há vaga, não há médico e que não existe previsão para o retorno das consultas, mesmo com o quadro formalmente completo.Márcia Camilos: afastamento oficial, consultório particular e circuitos de congressos

A primeira da escala é a ginecologista Márcia Camilos. Segundo publicação no Diário Oficial, ela está afastada do hospital há um ano com um atestado médico de 365 dias por “capacidade laborativa prejudicada”, o que indica que sua saúde teria sido afetada a ponto de impedir ou dificultar o trabalho. Apesar disso, a reportagem encontrou agenda cheia em consultório particular na região dos Jardins, em São Paulo.

Ao ligar para a clínica privada, a equipe ouviu que havia horários disponíveis com a médica no dia 17 de dezembro, com opções às 8, 9 e 10 horas.

Nas redes sociais, a própria Márcia registrou participação em eventos científicos: em maio, ela contou que ministrava um curso pré-congresso em um centro de convenções na capital; em setembro, palestrou por três dias em Goiânia; em outubro, esteve no Instituto Paulo Guimarães, em Brasília.

Ou seja, enquanto segue afastada do serviço público, a ginecologista mantém uma rotina ativa de aulas, palestras e atendimentos particulares. Procurada, a ginecologista Márcia Camilos afirmou que a administração do hospital tem total ciência do afastamento dela e de toda a documentação apresentada. Não há, porém, explicação clara para a discrepância entre a incapacidade para o trabalho no Hospital Heliópolis e a intensa agenda de consultório e congressos.

Silmara Fialho: saídas antecipadas, atrasos e compras em horário de plantão
A escala de trabalho da ginecologista Silmara Fialho prevê atendimento às segundas-feiras, das 7 às 15 horas, e às quartas-feiras, das 7 às 14 horas. No dia 17 de novembro, uma segunda-feira, ela bateu o ponto às 7h38 e foi registrada pela equipe circulando entre os atendimentos.

Às 13 horas, duas horas antes do fim oficial do plantão, deixou o hospital e não voltou para registrar a saída, encerrando na prática a jornada mais cedo.

No dia 19 de novembro, quarta-feira, Silmara chegou com uma hora de atraso, começou a atender e deixou de ver pacientes por volta de 12h30. Às 13h30, ainda independente de o plantão seguir em vigor, a ginecologista foi flagrada fazendo compras em uma área comercial da zona sul de São Paulo.

Ela ainda tinha pelo menos uma hora e meia de expediente a cumprir no Hospital Heliópolis quando foi vista circulando em lojas, longe das pacientes que aguardam por atendimento.
Na semana seguinte, nos dias 24 e 26 de novembro, a ginecologista não apareceu para trabalhar. Ao ligar para a unidade, a resposta foi de que “essa semana não, que ela não vai atender essa semana”, confirmando a ausência completa em dias em que deveria estar de plantão.

A reportagem tentou contato com Silmara Fialho por telefone em cinco oportunidades e também por mensagem de aplicativo, mas não obteve resposta.

Mara Gomes: pilates em outra cidade e almoço fora no meio do expediente
A terceira ginecologista da escala é Mara Gomes. Os registros mostram que ela deveria cumprir jornadas de 10 horas às segundas e quartas-feiras e de 6 horas às sextas-feiras no Hospital Heliópolis.

Mas, na prática, a reportagem flagrou longos períodos de ausência em horário de plantão.
No dia 19 de novembro, por volta de meio-dia e 10, Mara foi filmada retornando ao ambulatório depois de ficar aproximadamente três horas fora do hospital.

Nesse intervalo, ela foi a uma aula de pilates e depois almoçou, só então voltando para iniciar o atendimento no consultório 5.

O horário de entrada havia sido às 7 horas da manhã, e, até a saída para o pilates, não houve registro de atendimento a nenhuma paciente no ambulatório.

Na segunda-feira, 24 de novembro, o padrão se repetiu. Mara bateu o ponto, saiu do hospital e foi para uma aula de pilates em São Caetano, cidade vizinha, na turma das 9 horas, quando deveria estar em pleno atendimento no serviço público.

Somente à tarde voltou ao Hospital Heliópolis para atender pacientes, acumulando mais um dia com parte da carga horária desviada para atividades pessoais.

A ginecologista Mara Gomes também foi procurada insistentemente pela reportagem, por telefone e por mensagens, mas, assim como Silmara Fialho, não respondeu aos contatos nem apresentou explicações para as ausências e saídas em horário de expediente.

Salários acima de R$ 210 mil e reação da Secretaria da Saúde e do Einstein
De acordo com o Portal da Transparência do Estado de São Paulo, entre janeiro e outubro de 2025 as ginecologistas Márcia Camilos, Mara Gomes e Silmara Fialho receberam, somadas, mais de R$ 210 mil em salários pagos com dinheiro público.

O valor considera apenas os dez primeiros meses do ano e não inclui benefícios adicionais que possam existir.

Após a veiculação das imagens e dos relatos, a Secretaria Estadual da Saúde informou, em nota, que determinou à organização social Albert Einstein, responsável pela gestão do Hospital Heliópolis, uma “apuração imediata e rigorosa dos fatos”.

A pasta declarou que repudia qualquer conduta incompatível com a ética profissional e afirmou que, se as irregularidades forem confirmadas, as profissionais envolvidas poderão sofrer sanções administrativas, trabalhistas e legais.

O Hospital Israelita Albert Einstein, por sua vez, não comentou diretamente as denúncias apresentadas na reportagem sobre o comportamento das ginecologistas.

Em nota, limitou-se a informar que iniciou a implementação de melhorias nos controles internos, como o registro de ponto por biometria facial, para reforçar a supervisão dos colaboradores.

CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!

Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas.

Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.

No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.

Embora seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social. O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.

Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.

Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!