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ELEIÇÕES PASSAM, TEMPESTADES CHEGAM
O mar de rosas que nos últimos tempos marca a rotina da Câmara de Santos, ao menos fora dos bastidores, ficou agitado na sessão desta segunda-feira (05).
Os vereadores voltaram do Feriado de Finados afiados. Tivemos alguns momentos de águas revoltas. Uma tempestade de palavras irônicas foi lançada pelo vereador Benedito Furtado (PSB, 5º Mandato) na direção do maior cabo eleitoral do governador eleito, João Dória (PSDB), Augusto Duarte (PSDB, 1º Mandato).
O veterano e colega de partido do atual governador, Márcio França (PSB), aproveitou a discussão do projeto sobre o Programa Vizinhança Solidária para bradar em alto e bom som indiretas mais contundentes do que um tufão, no que diz respeito às promessas de Dória para a Segurança Pública.
“Eu vou votar a favor da lei, mas acho que ela vai vigorar por muito pouco tempo. Porque a partir de 1º de janeiro, o novo vereador, brilhante governador, Dória, já afirmou que vai contratar 9 mil policiais civis, 13 mil policiais militares. Vai comprar armamentos, inclusive fuzis. Equipamentos novos, veículos novos. Vai comprar novos coletes, não esse coletes vagabundos por aí não, esses que estão dando inclusive para o presidente da república utilizar. Dória vai comprar drones para todas as unidades policiais, centenas de bases serão acrescidas às que existem. Ele vai melhorar a remuneração de todos que atuam na segurança. Tenho certeza absoluta que não haverá necessidade de uma mobilização da sociedade para se defender”, ironizou.
E seguiu com as alfinetadas: “O novo governador vai trabalhar para qualificar melhor os policiais. Eu tenho testemunha que essas medidas vão acontecer sim, porque o vereador Augusto está aqui e vai comprovar que isso vai ocorrer em quatro anos, que agora não tem mais reeleição. Vai ser a melhor polícia do mundo. Vai bater os americanos, os policiais ingleses e até os israelitas que são considerados os melhores. Tenho certeza que o projeto (Vizinhança Solidária) vai entrar em desuso e a senhora vai simplesmente pedir a revogação”, finalizou.
O tucano estreante na vereança vestiu bem a carapuça e pediu aparte. “Estaremos nessa casa durante dois anos e eu ainda vou ver vossa excelência subir no púlpito para fazer vários elogios à gestão de João Dória, porque ele realmente representa a nova política. E ele vai mostrar para as pessoas como é fácil acelerar de uma forma coesa e sensata”.
Não achando suficiente a réplica, no fim da sessão, Duarte utilizou o instrumento regimental da Câmara, chamado de “Explicações Pessoais”, para devolver a provocação em tom mais enfático.
De início prometeu que não falaria com o fígado. No entanto o tom de voz foi subindo. “Não posso deixar de externar minha angústia e minha aflição após as eleições (…). Fui um candidato de lado. Diferente dos meus pares – alguns decidiram e declinaram a apoiar o atual governador Márcio França – eu decidi apoiar o candidato João Dória, o qual faço menção porque esta Casa aprovou um decreto legislativo de honra ao mérito a ele. (…) Eu não vou me curvar perante as minhas decisões. Respeito qualquer secretário da cidade que queira ser candidato, seja a prefeito ou a vereador, mas faço um alerta: antes de ser, primeiro venha a esta casa aprender”.
Continuou avisando que não se deixará ser refém de colocações do secretariado desta cidade. “O senhor prefeito tem que rever muito as pessoas que o cercam. (…) Não vou me curvar às decisões do Executivo, eu tenho uma forma independente, eu sou PSDB e vou lutar pela reformulação do PSDB na região. Eu não vou ficar calado. Eu cansei de fazer tudo o que sempre me pediram como base do governo. Eu faço, faço, faço e só tomo facada nas costas. Então chega. Eu cansei. Quem quer se candidato, que seja candidato e venha a essa casa de leis para debater ideias e sugestões. Ser nomeado é fácil. Ocupar cargo de comissão é a maior moleza. Eu ocupei e sei como é fácil. Eu quero ver é passar pelo crivo do povo. Cada um dos 21 aqui merecem respeito. Não vou aceitar pessoas me colocarem na parede para fazer determinadas coisas”.
Ao menos diante das câmeras o Legislativo sempre passou a impressão de ser uma casa de chá repleta de amigos de longa data. Amizades sólidas não só entre os parlamentares, mas também entre membros dos dois poderes.
O tempo virou?
Além do temporal nas relações entre perdedores e vencedores do pleito estadual, outras rusgas puderam ser sentidas via discordâncias regimentais nesta mesma sessão.
Sadao Nakai (PSDB, 3º Mandato), por exemplo, atravessou sem cerimônia os “consensos” da Casa. Ele exigiu o fim do “jeitinho” legislativo que tem usado de forma irregular o artigo 68 do regimento da Câmara. A regra diz que esse dispositivo dá o direito de fala ao vereador quando alguém diretamente interessado no tema a ser abordado estiver presente nas galerias.
Nos últimos anos não é o que vem acontecendo. Por acordo, o 68 virou “carne de vaca” e vinha sendo usado indiscriminadamente para qualquer coisa.
Enquanto alguns colegas torceram o nariz para o tucano recém-regresso, outros “fingiram demência” quando levaram um puxão de orelha de outro vereador, sobre outro assunto.
Sérgio Santana (PR, 2º Mandato) resolveu pegar no pé dos parlamentares que faltam às sessões e que depois, por telefone, mandam colegas justificarem as ausências. “Se o funcionário da Câmara falta e não traz atestado, é descontado. Se o vereador falta ou participa do esvaziamento da sessão, também tem que ser descontado. Outra coisa é o recesso de julho. Se a Câmara Federal e a Assembleia só entram em recesso no dia 18, porque esta casa entra16 dias antes?”. Todos esses questionamentos têm sido feitos aqui nesta página.
Grilos foram ouvidos. Ninguém ousou tocou no assunto. Sabemos que o vereador quis fazer seu comercial, já que nunca falta, fazendo jus ao bordão “sempre presente”. Mas tudo bem, neste aspecto (e só neste colocamos a mão no fogo) seu telhado não é de vidro e aguenta até granizo.
Não arriscamos prever o tempo legislativo para as próximas sessões. Noites sujeitas a chuvas e trovoadas? Ou depois da tempestade, virá a bonança de sempre para eles?
Uma coisa é certa: os problemas da cidade continuam os mesmos, faça chuva, faça sol.
Vereadores de Santos, para quem eles trabalham?