A casa do jornalista responsável pelo jornal ‘Varal de Notícias’, de Nova Odessa, Renato Silva, foi atacada por criminosos na madrugada de domingo (26). O local funciona também como sede do jornal e, segundo Silva, uma bomba caseira causou danos a eletrodomésticos, portas e janelas.

O profissional vinha denunciando o prefeito Benjamim Bill Vieira de Souza (PSDB) e alguns assessores de um suposto esquema de corrupção na área da Saúde. Esquema entre o Executivo e a Organização Social de Saúde (OSS) Instituto Vida e Ciência (ICV).

Atentado

Ninguém ficou ferido com a explosão, que pôde ser ouvida a quilômetros de distância. A Polícia Civil já investiga a autoria do atentado, através de imagens de aproximadamente 15 câmeras de segurança existentes em imóveis ao longo da Rua Frederico Lanzoni.

A polícia também investiga duas ações criminosas contra uma banca de jornal da área central para impedir a circulação do Varal, no início de março. Um grupo tomou 60% dos 8 mil exemplares distribuídos nas bancas e colocou fogo em uma das bancas.

A explosão de domingo foi por volta da 1h. O jornalista recorda-se que apagou as luzes da casa, ouviu uma de suas cachorras chorando e imaginou que havia alguém do lado de fora jogando pedras. Logo depois houve a explosão. “Os policiais disseram para mim que achavam que fosse explosão de caixa eletrônico, tamanho o impacto. Uma de minhas cadelas estava amarrada na máquina de lavar e graças a Deus não ficou ferida”, disse.

Bilhete
Os responsáveis pelo atentado deixaram um bilhete dizendo que foi “só o começo”, conforme material apreendido pela Polícia Militar (PM) durante a perícia, efetuada no local por volta das 7h de domingo. O jornal está em circulação na cidade há quase três anos. “Eu tenho compromisso com Nova Odessa. Eu me envergonho de uma atitude dessas. Mas não vamos nos calar”, afirmou o jornalista.

Silva postou nas redes sociais na manhã de domingo, antes da chegada da perícia da Polícia Civil, um vídeo onde mostra a destruição na garagem da casa. A força da explosão danificou a máquina de lavar, a porta lateral de entrada e quebrou vidros.

Intimidação
O jornalista diz que tem registrado 10 ligações anônimas de intimidação ao seu trabalho nos últimos meses. No começo do mês de março, o jornal já havia sofrido ameaças logo depois da publicação de uma denúncia contra o prefeito Benjamim Bill Vieira de Souza (PSDB) e alguns assessores, de um suposto esquema de corrupção na área da Saúde.

Depois desse episódio, Renato Silva teria sido convidado para trabalhar como jornalista no setor de comunicação da Prefeitura de Nova Odessa. O jornalista recusou o cargo e questiona o prefeito pelo fato de ele ter ido até a Delegacia Seccional de Americana, dez dias depois do convite, registrar ocorrência contra o jornalista alegando crimes de difamação e calúnia em relação à reportagem publicada.

Posição da Prefeitura
“É no mínimo curioso essa atitude do prefeito. Mas estive na Seccional e apresentei cópias de entrevistas, planilhas e áudio (referentes à reportagem sobre o contrato da prefeitura com uma organização social que gerencia a saúde municipal)”, disse.
A Prefeitura de Nova Odessa informou que “desconhece tais fatos e repudia qualquer tipo de cerceamento. Cabe à Polícia Civil conduzir as investigações”.

A Administração não informou se houve negociação para que o jornalista fosse trabalhar na Prefeitura ou sobre o conteúdo denunciado contra Silva pelo prefeito à Polícia Civil de Americana.

AS DENÚNCIAS

O ICV (Instituto Ciências da Vida) realiza a gestão da saúde pública do município de Nova Odessa em um contrato que prevê o repasse de R$ 33 milhões anuais.

O contrato assinado com o Instituto em julho do ano passado teria a duração de cinco anos, com revisões anuais. Em áudio Renato Silva explica, ao participar de uma audiência pública na Câmara de Vereadores, no último dia 27 de fevereiro, um dossiê com denúncias sobre os supostos esquemas de desvio de dinheiro público da saúde por meio de notas fiscais fraudadas lançadas pela OSS  ICV.

O jornalista ainda acusa o prefeito Benjamim Vieira Biill de Souza (PSDB) de ter pedido propina ao diretor do Instituto para manter a OS na gestão. O pedido teria sido feito pessoalmente.

Inquérito no MPT

O MPT (Ministério Público do Trabalho) de Campinas também instaurou inquérito civil para investigar denúncias do sindicato dos servidores de Nova Odessa contra o ICV. O MPT apura denúncia sobre suposta contratação de trabalhadores sem registro, inclusive de médicos, falta de pagamento e atraso dos salários e de verbas rescisórias de funcionários, além de problemas com ambulâncias.

A assessoria de imprensa do órgão informou que os veículos de transporte de passageiros estariam com assentos e freio de mão quebrados, sem embreagem, com problemas em porta lateral e vazamento de combustível. A apuração ainda abordará suposta falta de pessoal, uma vez que o denunciante relatou haver plantões de atendimentos em que faltam médicos e medicamentos.

Além de solicitar documentos, a Procuradoria solicitou a fiscalização do setor, em data ainda a ser agendada.

Pelo contrato, a OS administra o Hospital e Maternidade Municipal Dr. Acílio Carreon Garcia, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde), Ambulatório de Especialidades Médicas, Farmácia Central e o Caps (Centro de Atendimento Psicossocial).

A reportagem do Jornal Todo Dia contatou o diretor técnico Fabio Alves, da ICV, por telefone, que informou um e-mail para que os questionamentos fossem enviados. Até o fechamento da edição não houve retorno.

A prefeitura informou que como o inquérito foi aberto contra o ICV, o Executivo não foi notificado ainda. Porém, o Executivo ressaltou que colabora com o MPT, fornecendo todas as informações que são solicitadas. Em paralelo, acrescentou que acompanha e fiscaliza a gestão do instituto e que “usará suas ferramentas para sanar qualquer eventual irregularidade apontada”.