O rombo praticado contra o Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), por uma quadrilha – a Organização Social Vitale – pode ser muito maior do que os R$ 4,5 milhões até então apurados.
A afirmação é do Ministério Público, que aumentou a prioridade na continuidade das investigações após o fim do recesso de promotores.
Os desvios de recursos no Hospital foram vieram à tona em novembro do ano passado, quando a primeira fase da Operação Ouro Verde foi deflagrada. De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o esquema de corrupção é “muito maior” do que os R$ 4,5 milhões já calculados e “mais pessoas devem ser responsabilizadas”, além dos seis empresários já presos e denunciados à Justiça por uma série de crimes.
À época em que o caso veio à tona, o MP informou que um grupo ligado à Organização Social Vitale, responsável por administrar a unidade entre 2016 e 2017, conseguia obter recursos por meio de consultorias que nunca foram realizadas. Além disso, os promotores mencionaram indícios de superfaturamento na compra de medicamentos, insumos e prestação de serviços no hospital.
De acordo com o Gaeco, o trabalho atual consiste em fazer “pente-fino” nos materiais apreendidos durante os 33 mandados cumpridos em sete cidades paulistas, incluindo computadores, celulares e documentos. Os arquivos estão guardados em duas salas, mas a localização é mantida sob sigilo.
Além disso, os promotores avaliam transcrições de conversas telefônicas gravadas com autorização judicial e cruzam estas informações com os conteúdos revelados em depoimentos já prestados por quatro testemunhas. O objetivo do Gaeco é produzir mais provas para dar andamento às próximas etapas da operação, o que inclui apurações sobre desvios paralelos ao que foi constatado, diz o MP.
A expectativa do Gaeco é de que os empresários ligados à Vitale, Fernando Vitor Torres Nogueira Franco, Daniel e Paulo Câmara, Aparecida Bertoncello e Ronaldo Foloni e Ronaldo Pasquarelli, sejam julgados até o fim deste ano. Eles foram denunciados pelo MP à 4ª Vara Criminal da cidade por organização criminosa, fraude à licitação, falsidade ideológica e peculato.
Entre os investigados pelo MP ainda estão o secretário de Negócios Jurídicos de Campinas, Silvio Bernardin, e o líder de governo na Câmara dos Vereadores, Marcos Bernardelli (PSDB).
Por ter foro privilegiado, o prefeito, Jonas Donizette (PSB), é alvo de apurações da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) desde que foi citado por empresários, em parte das escutas telefônicas gravadas pelo MP, sobre supostas negociações para beneficiar a Vitale. De acordo com o Gaeco, as informações das investigações são compartilhadas, mas os trabalhos também seguem em sigilo.
O Conselho Municipal de Saúde de Campinas está promovendo um abaixo-assinado, com apoio dos sindicatos que representam os trabalhadores, a favor da abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e em defesa da Saúde Pública no município.