Vítima de abuso sexual na UPA de Santos questiona secretário em reunião do Conselho de Saúde

Vítima de abuso sexual na UPA de Santos questiona secretário em reunião do Conselho de Saúde

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A paciente atacada por um funcionário da Fundação do ABC dentro da UPA Central de Santos, em dezembro do ano passado, está indignada com a falta de providências em relação ao caso.

Na última terça-feira (27), ela foi até a reunião ordinária do Conselho Municipal de Saúde para cobrar em plenária, diretamente do secretário Fábio Ferraz, as medidas tomadas sobre o assunto.

A vítima também quis saber quais providências foram tomadas pela Prefeitura para que novos casos de violência sexual não se repitam dentro do serviço municipal de saúde.

A mulher de 43 anos, que prefere não ter seu nome e rosto divulgados por receio de ser perseguida novamente, fez um desabafo emocionado. Além da indignação, o medo faz parte de sua rotina desde o dia 7 de dezembro, data em que sofreu o ataque, após ficar duas horas e meia em pé na UPA, à espera de consulta com ortopedista por conta de dores na coluna.

Ela conta que vive em estado de tensão e não consegue sequer passar perto da unidade.

“Pensem o que é, num momento de fragilidade, você ser trancada dentro de uma sala e depois ser atacada e não conseguir fugir. O que que você faz? A única coisa que eu consegui fazer foi pedir pelo amor de Deus para ele me deixar sair da sala. Eu fui até lá para procurar ajuda médica”.

Para a paciente, a situação aconteceu porque as OSs não checam os antecedentes dos contratados. “Pra quê terceirizar? Não tem gente o suficiente que possa prestar o concurso?”.

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Visivelmente abalada, a moça seguia questionando o descaso. “O que eu venho perguntar é o que foi feito disso? O que fizeram? O cara não foi nem se apresentar. Foi convocado duas vezes e não foi. Quatro meses se passaram, ninguém da Saúde veio falar comigo. Ninguém veio nem dizer ‘vamos averiguar o que houve’. Ele tá solto, pode voltar a trabalhar em qualquer unidade. Ninguém fez nada. Eu é que estou vindo aqui dar a minha cara a tapa, me expor”.

Contou ainda que esteve na Delegacia da Mulher na semana passada para saber porque que o processo está parado. “Eu quero uma resposta porque eu tenho uma filha. E se ela precisar de atendimento? O cara foi até a rua me perseguir. Tem câmera. Ninguém viu nada? Eu quero meus direitos porque eu moro nesta cidade. Ele não se apresenta, está solto e eu tenho que me esconder? Fiquei escondida dentro da minha casa por mais de dez dias. A imprensa conseguiu os meus dados e ninguém conseguiu achar os dados e a imagem dele? Ninguém se pronuncia. O caso foi abafado. Até hoje tento fazer os meus exames e não consigo. Dois anos na fila da ressonância. Eu quero respostas”.

 

Relembre o caso 

No dia 7 de dezembro de 2017, a paciente procurou a UPA Central com dores na coluna. Após receber uma guia médica com a indicação de remédios e uma outra para imobilizar a região, ela se dirigiu à farmácia do local, mas como não havia ninguém para atendê-la, decidiu retornar ao consultório médico.

Nesse momento, segundo depoimento à polícia, ela foi abordada pelo técnico de gesso, que pegou as guias da mão da paciente e disse que ela não precisaria comprar o colar cervical, pois a unidade tinha disponível.

O acusado então levou a paciente até uma sala, a acomodou em uma cadeira e fez uma espécie de massagem no ombro dela, sob a alegação de que era uma preparação para a imobilização da cervical.

No registro da ocorrência consta que o profissional deixou a sala e retornou à farmácia, dizendo que iria checar os medicamentos da paciente. Ao retornar ele trancou a porta e ficou de joelhos em frente à paciente. O acusado começou a desabotoar a blusa da mulher e a tocar a região do tórax, perguntando se ela sentia alguma dor e, nesse momento, praticou o abuso.

A vítima relatou que imediatamente afastou-se do agressor, mas foi impedida de sair da sala, pois a porta estava fechada. Ela implorou para ser liberada. Teve que prometer não contar o caso a ninguém. Só então a porta foi aberta. Ela então correu para a rua em busca de socorro. O funcionário terceirizado teria ainda seguido a paciente e reforçado o pedido para que não contasse nada para ninguém.

Quando a Polícia Militar chegou na unidade, o técnico já havia fugido. Ele ainda teria três horas a cumprir de sua jornada. No dia, ele foi procurado em sua residência, em São Vicente, mas não foi localizado.

Na época, a Secretaria de Saúde de Santos disse que acionou a organização social para a apuração rigorosa dos fatos denunciados. A OS divulgou que afastou o funcionário de suas funções até a apuração dos fatos.

Na reunião do Conselho, Ferraz informou que o homem foi demitido por justa causa e que todos os trâmites de competência administrativa cabíveis já foram tomados.

 

Em Praia Grande, FUABC é processada por fraude

No último dia 24, a imprensa noticiou mais uma suspeita de irregularidade envolvendo a Fundação do ABC.

A 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça determinou, na semana passada, a indisponibilidade de bens em até R$ 1.492.545,64 dos réus citados em ação civil pública ligada à terceirização da gestão do Hospital Irmã Dulce e à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Samambaia, ambos em Praia Grande.

Segundo o Ministério Público, a FUABC mais cinco integrantes da entidade são acusados de improbidade administrativa por esquema em dois contratos de gestão firmados com uma empresa de fachada, para a locação de aparelhos hospitalares.

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Os contratos foram firmados em 2012 e 2013. Duas pessoas jurídicas – que participaram da cotação de preços – e os respectivos responsáveis, também podem sofrer os bloqueios financeiros decorrentes da liminar.

O autor da ação é o promotor de Justiça do Patrimônio Público de Praia Grande, Marlon Fernandes. Ele acionou o TJ após investigar e constatar um esquema ilícito envolvendo servidores da Fundação ABC e algumas empresas para desviar recursos do SUS, a fim de favorecer esta outra empresa fantasma: a Charmm Comercial (Charlles Rekson Barboza de Lima Comercial – EPP).

Conforme a ação, uma servidora do setor de contratos da OS formatou, no primeiro semestre de 2012, uma fraude a partir da cotação do orçamento para o fornecimento de aparelhos com três fornecedores não especializados no setor.

A empresa vencedora não está instalada no endereço citado na Junta Comercial do Estado (Jucesp), na Capital. No local, há uma propriedade fechada, onde antes era uma agência de veículos.

A segunda empresa que mandou o orçamento para a Fundação ABC foi dissolvida em outubro de 2010 e era especializada no comércio atacadista de café e produtos alimentícios. Uma terceira empresa apenas começou a trabalhar no ramo hospitalar em junho de 2013.

Inicialmente, o contrato com a Charmm Comercial, em vigor desde 2 de julho de 2012, tinha prazo de três meses, mas foi prorrogado várias vezes até maio de 2013. Mensalmente, ela recebia R$ 209.531,16.

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