Não é novidade que as entidades ditas do terceiro setor sejam usadas como cabide de emprego por gestores. Este é só mais um aspecto da “troca de favores” que envolve a terceirização dos serviços públicos para as antigas ONGs, atuais OSCs (Organizações da Sociedade Civil), Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) e OSs (Organizações Sociais).
Em Mauá (SP), não é diferente. Reportagem do jornal Diário do Grande ABC mostra que a Polícia Federal já sabe que uma OS foi usada como instrumento para benefício pessoal do prefeito, Átila Jacomussi (PSB), que aliás é acusado de indicar aliados para cargos em fornecedoras do Paço Municipal.
Jacomussi é acusado pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Trato Feito, de usar cargos na Fundação do ABC, a OS que gerencia o sistema de Saúde na cidade, para empregar o próprio cunhado.
Representação da PF também revela que Atila tinha poder de indicação de aliados em diversas empresas privadas que prestam ou prestaram serviços ao Paço e à Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), o que a polícia considera como “capilaridade de sua influência e possível existência de troca de favores”.
Vários documentos foram apreendidos pelo policiais na residência do ex-secretário João Gaspar (PCdoB, Governo), braço direito de Atila, que também foi preso. Segundo a PF, em meio a papelada, os agentes encontraram uma anotação que “demonstra o uso de cargos comissionados para indicação de pessoas de interesse da organização criminosa”. Nesse esquema, o prefeito Atila seria o principal beneficiário.
A folha – rascunho escrito à mão – lista cargos e salários. No papel tem ainda a anotação “colocar o cunhado”. O parente seria Thiago Rolim Rios, irmão da primeira-dama Andreia Rolim Rios – que também exerce cargo de secretária de Políticas para as Mulheres –, que era funcionário da FUABC (gerente administrativo) e que supostamente atuava no Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini.
Não são apenas as planilhas de João Gaspar que servem de elementos de prova. A Polícia Federal ainda apreendeu um pendrive em posse do prefeito. Dele foi extraída uma “extensa relação de pessoas que foram indicadas para contratação por empresas diversas que prestam serviços à Prefeitura, à Sama e à Câmara”.
De acordo com a PF, são diversas as prestadoras de serviços usadas para absorver no quadro de empregados aliados de Atila. A maioria destas empresas atua na área da construção civil. São elas: Alfa Real Construtora e Comércio; Construbrás Construtora; Garloc Transporte, Logística e Locações; Geométrica Engenharia de Projetos; MCA Bombas; Oestevalle Pavimentações e Construções; e Probase Engenharia e Vector Serviços.
Consta num dos trechos da representação da Polícia Federal encaminhada à Justiça Federal o seguinte: “observa-se, assim, que as indicações foram negociadas com empresários que mantêm vínculo estreito com o prefeito Atila e, concomitantemente, contrato com a administração pública de Mauá, tratando-se de mais um indício de que fraudes licitatórias são realizadas em benefício dessas empresas”.
Entretanto, o relatório pondera, porém, que “não é possível afirmar” que os aliados que supostamente foram empregados em troca de favores “atuem nos interesses da organização criminosa”.
Na época da contratação de Thiago Rolim Rios, a FUABC informou ao Jornal Diário do Grande ABC que o quadro de pessoal que atuava em equipamentos de Mauá estava passando por “rigorosa fiscalização” e que “todos os casos que estivessem em desacordo com as políticas de trabalho da Fundação do ABC” seriam “adequadamente resolvidos”.