O site Efeito Letal publicou uma reportagem que escancara o risco que pacientes correm nos hospitais públicos geridos por organizações sociais (OSs). Segundo a matéria, feita com base na denúncia comprovada de um vereador, o Hospital Municipal de Bertioga opera com a bomba de infusão vencida.
A unidade é gerenciada pela OS Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão Pública (INTS), que há tempos vem sendo alvo de outras denúncias e matérias negativas neste e em outros canais de comunicação.
De acordo com o site, além de submeter pacientes a tratamentos em equipamentos com vida útil ultrapassada, o Hospital teria declarado que dispõe de equipamentos que nunca foram ligados.
Abaixo, transcrevemos, na íntegra, o texto do repórter Aristides Barros.
CONFIRMADO – SILVIO MAGALHÃES OBTÉM PROVAS DE QUE A UTI DE BERTIOGA É UMA “OBRA DE FICÇÃO”
Empresa do Rio negou que aparelhos dela estejam no HMB e o caso ganha novos contornos após a prisão da ex-secretária de saúde Simone PapaizAristides Barros
O Hospital Municipal de Bertioga (HMB) “vive” uma obra de ficção perigosa com a sua UTI de Covid-19, cujo valor consome dos cofres públicos de Bertioga em torno de R$ 1 milhão por mês. No entanto, o trabalho a ser realizado na ala médica põe em risco à vida de pacientes devido os equipamentos instalados serem de “segunda mão”.
A confirmação do fato que chocou os bertioguenses partiu de um trabalho do vereador oposicionista Silvio Magalhães (PSB) que ao se aprofundar no caso obteve informações de que as bombas de infusão instaladas na ala são inviáveis e “que elas não poderiam estar sendo usadas pelo hospital, pois estão com os prazos de validades vencidos”.
A informação de que as “bombas” usadas na UTI já tiveram seu tempo de vida útil encerrado, o que coloca em risco o paciente que for “ligado” a ela, partiu da Santronic – empresa com sede em São Paulo e que é a responsável pela fabricação do equipamento.
Uma outra constatação dura dá conta de que as bombas de infusão produzidas pela empresa BBraun “nunca estiveram no hospital de Bertioga”. A informação foi da própria BBraum, que tem sede no Rio de Janeiro”. A empresa disse ao vereador que nunca negociou equipamentos com a prefeitura bertioguense.
As duas informações jogaram por terra o sustentado pela prefeitura sobre a UTI quando ela foi ordenada pela Justiça a entregar fotos e numeração dos aparelhos e teria “levado ” ao Judiciário numerações de equipamento modernos – da BBraum, quando na verdade a UTI estaria com aparelhos de segunda mão – da Santonic – que eram usados no HMB desde 2019, em alas cuja sua utilização não oferecia risco aos pacientes”.
Todos que tiveram conhecimento do caso e o acompanham o classificam de “perverso e criminoso”. Já no campo da não ficção o vereador disse que vai seguir em frente no âmbito legislativo pedindo a abertura de uma CPI, que tentará uma posição dura da Câmara de Bertioga visando punição a todos os envolvidos no episódio.
Porém, o grosso da investigação agora vai sair da alçada do vereador indo direto para as mãos da Polícia Civil e dos agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado) e MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) tentáculos do Judiciário para onde o parlamentar já entregou farta documentação sobre o nebuloso caso.
PRISÃO – Outro fato novo relacionado diretamente a UTI de Bertioga e que aumenta a suspeita de irregularidades na “obra” aconteceu a milhares de quilômetro da cidade. Mais precisamente no Amazonas, quando na manhã desta terça-feira (30) a Polícia Federal enquadrou a secretária estadual de saúde Simone Papaiz.
Ela que foi presa na operação da PF que investiga suposto desvio do dinheiro de combate ao coronavírus por parte do governo amazonense também foi secretária municipal de saúde de Bertioga. De acordo com informações, Papaiz é responsável pelos contratos feitos pela prefeitura bertioguense que hoje servem para o enfrentamento da Covid-19.
Há quem diga que se os federais aprofundarem a investigação sobre a ex-secretária de saúde de Bertioga tenderão a descobrir fatos novos sobre as negociações que resultaram na instalação da UTI fictícia bertioguense.
Destaca-se que além da polêmica ala médica instalada no hospital central tem outra UTI que estaria em funcionamento em Boracéia, uma localidade que fica a cerca de 30 km do Centro de Bertioga.
GAECO E MP PEDEM MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O CASO AO VEREADOR
Silvio Magalhães ao falar com a reportagem disse que agentes do Gaeco solicitaram a ele mais documentos sobre o caso, e que o mesmo procedimento também foi adotado pelo MP. Segundo o parlamentar, a Delegacia de Polícia Civil de Bertioga abriu inquérito para apurar o ocorrido.
Se pelo lado do vereador as informações são vastas e fartas do outro lado a situação ocorre ao inverso. Nas ocasião anterior quando o Efeito Letal indagou a Prefeitura de Bertioga sobre o caso, a administração – por meio de sua assessoria de Comunicação – deu respostas evasivas a algumas perguntas e sequer respondeu outras questões formuladas.
Todavia, uma vez que as respostas agora terão de ser dadas ao Gaeco, MP e Polícia Civil, o site Efeito Letal vai aguardar que esses tentáculos do Judiciário tenham mais êxito`que a imprensa e consigam que a prefeitura bertioguense se manifesta com clareza. O site antecipa que mantém o espaço aberto à manifestação da administração municipal.
Destaca-se que a Câmara Municipal de Bertioga conta com nove vereadores e ele – Silvio Magalhães – é o único vereador que faz oposição ao governo municipal. É a voz solitária no Legislativo que faz estremecer a base governista e deixa em estado de choque a “tropa de choque” do prefeito da cidade.
Confira no link abaixo a reportagem quando o que foi confirmado pelo vereador ainda era apenas uma suspeita. https://www.efeitoletal.com.br/post/bomba-hospital-pode-ter-equipamento-que-p%C3%B5e-em-risco-vidas-de-pacientes-acusa-vereador
Seguem abaixo links de outros casos suspeitos envolvendo a INTS já publicados pelo Ataque aos Cofres Públicos.
Gazeta Regional: Instituto que ‘fez’ cair prefeito de Biritiba Mirim chega em Bertioga
INTS, nova OS do Hospital de Bertioga, é destaque negativo na imprensa
GESTÃO DE HOSPITAL DE CAMPANHA POR OS TEM SOBREPREÇO DE R$ 478 MIL
Por que a terceirização é nefasta
Os contratos de terceirização na Saúde e demais áreas, seja por meio de organizações sociais (OSs), seja via organizações da sociedade civil (OSCs) são grandes oportunidades para falcatruas pelo encontro de intenções entre administradores dispostos a se corromper e prestadores que montam organizações de fachada para estruturar esquemas de ganhos ilegais para ambas as partes.
As fraudes proliferam pela existência de corruptos e corruptores, em comunhão de objetivos, mas também pela facilidade que esta modalidade administrativa propicia para a roubalheira. Gestões compartilhadas com OSs e termos de parceria com OSCs não exigem licitações para compras de insumos. As contratações de pessoal também tem critérios frouxos, favorecendo o apadrinhamento político.
A corrupção, seja de que tipo for, é duplamente criminosa, tanto pelo desvio de recursos públicos já escassos quanto pela desestruturação de serviços essenciais como o da saúde, fragilizando o atendimento da população em pleno período de emergência sanitária.
Reafirmamos…
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade! por isso deve ser combatido.