“A médica nem quis saber o que minha mãe tinha”. Assim o filho de Marta Silva, paciente que faleceu com infecção generalizada, descreve a forma como sua mãe foi atendida na UPA da Zona Leste de Santos.
A unidade, recém-reformada, tem a gestão sob a responsabilidade da organização social Pró-Saúde. A OS tem ficha suja e é investigada por corrupção e também tem diversas denúncias sobre ineficiência nos serviços prestados.
Veja no link abaixo o histórico:
Em que pese o alto valor do contrato de gestão, que custa R$ 1,8 milhão por mês aos cofres públicos, a unidade não tem o nível de resolutividade para salvar vidas em situação de alta complexidade. Serve como um local de espera para vagas de UTI em hospitais mais bem equipados. A pergunta que se faz é: então por que gastar R$ 21 milhões por ano com uma entidade privada? Cadê a excelência prometida no discurso de inauguração da obra que custou mais de R$ 8,5 milhões e atrasou mais de dois anos?
Veja abaixo a reportagem do jornal A Tribuna sobre o caso:
Idosa com infecção generalizada morre após aguardar três dias por vaga em UTI em Santos
Marta Silva, de 61 anos, deu entrada na UPA da Zona Leste no último sábado (14) e morreu na noite desta terça (17). Segundo a Secretaria de Saúde do município, a vaga foi disponibilizada pouco depois da morte da paciente
Depois de aguardar cerca de três dias por uma vaga de UTI, Marta Martins Silva, de 61 anos, faleceu devido a complicações do quadro clínico. A paciente deu entrada na UPA da Zona Leste no último sábado (14) e desde então a família corria contra o tempo para conseguir uma UTI para Marta.
Indignados, familiares criticaram a demora e questionaram a causa real da morte – se foi realmente um AVC ou infecção generalizada. “A médica mal quis saber o que minha mãe tinha. É um absurdo, uma palhaçada”, lamenta Kmillo Martins, filho de Marta.
Kmillo conta que há menos de um mês a mãe havia passado por uma cirurgia no coração e começou a sentir fortes dores na barriga e convulsionou, então a família decidiu levá-la até a unidade de saúde. Até segunda (16), a suspeita era de que Marta tivesse sofrido um AVC hemorrágico mas, segundo a família, a suspeita foi descartada após uma tomografia.
Ainda segundo o lho, a família tentou buscar ajuda de diversas formas para conseguir a vaga pelo Sistema Único de Saúde, pois não estão em condições de pagar pela internação particular.
Resposta
Procurada pela reportagem de ATribuna.com.br, a Prefeitura informou que a UPA 24h Zona Leste esclarece que a paciente citada deu entrada no sábado (14) já em estado grave e com suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC), hipótese inicial reforçada pelo resultado da tomografia, que apontou “ateromatose de carótidas internas” – ocorrência identificada em mais de 90% dos casos de AVC.Após estabilização, foi imediatamente solicitada a regulação da paciente para uma unidade de referência. Enquanto esteve internada, ela recebeu toda a assistência disponível no perl de atendimento da unidade.
Porém, apesar dos esforços, a paciente não resistiu. Diante do falecimento, ocorrido logo após a troca de plantão, a Declaração de Óbito foi feita com avaliação do histórico clínico, que apontou como causas a sepse com foco pulmonar, pneumonia e AVC.
A UPA lamenta a perda da família e está à disposição para mais esclarecimentos sobre o atendimento.
A Secretaria de Saúde de Santos informa que a paciente estava na sala de emergência da UPA Zona Leste, setor de tratamento semi-intensivo, recebendo toda assistência da equipe multiprofissional da unidade e tendo realizado diversos exames, entre eles a tomografia computadorizada de crânio, para a definição do quadro diagnóstico.
A secretaria informou ainda que na noite de terça (17), a Central de Regulação de Vagas da Prefeitura obteve uma vaga de UTI em um hospital prestador do SUS e informou à UPA, mas, infelizmente, a paciente havia acabado de falecer.
NÃO ÀS OSs E À TERCEIRIZAÇÃO!
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos. No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!