A terceirização da Saúde foi um dos engodos mais expressivos da era Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) na cidade de Santos.
A herança maldita das organizações sociais (OS) nas UPAs continua gerando frutos ruins e histórias dramáticas. Algumas com desfechos trágicos e irreversíveis. Outras, por sorte, sem consequências maiores.
Nas redes sociais, um relato de um paciente sobre o atendimento que obteve na UPA da Zona Noroeste ilustra bem a irresponsabilidade de optar por esse modelo de gestão.
A unidade municipal, terceirizada pela Prefeitura para a OS ficha suja SPDM, errou feio no diagnóstico de um paciente que se acidentou de moto.
Por causa disso, ele sofreu com dores, amargou horas na fila e mesmo assim deixou de ter o tratamento imediato que deveria.
Abaixo, transcrevemos o relato, publicado na página Zona Noroeste, no Facebook.
MAIS UMA DO UPA DA ZN. LAMENTÁVEL.
Gostaria de relatar um fato muito desagradável e que parece corriqueiro nas UPAs da cidade.
No dia 7/12 sofri um acidente de moto e procurei atendimento na UPA ZNO, chegando lá relatei o ocorrido na classificação, pois havia pego uma senha para atendimento na ortopedia, pois havia suspeita de fratura nas costelas.
Na classificação recebi a informação que não seria atendido pela ortopedia e sim pela clínica geral, embora estivesse sentindo muita dor e com muita dificuldade de respirar por conta do trauma, recebi uma pulseira azul.
4 horas depois, passei pela médica, relatei tudo novamente e fui encaminhado para a radiologia. Após o RX voltei ao consultório e a médica NÃO identificou a fratura, receitou Tandrilax e me dispensou, dando três dias de atestado, sendo que um já não seria válido, pois foi o dia do atendimento e eu já havia cumprido minha jornada de trabalho.
Dois dias depois, no dia 10, retornei à UPA, na mesma situação, uma dor insuportável dificuldade de respirar e de me movimentar.
Novamente relatei tudo como da primeira vez, e o procedimento foi o mesmo, nada mudou.
Mesmo sentindo fortes dores, retornei ao trabalho, e acabei por procurar uma ajuda alternativa, acreditando que seria somente a contusão.
Fui a uma massoterapeuta, e ela no meio do procedimento disse que, não era normal o que ela estava presenciando e que tinha certeza de que havia fratura não identificada.
Minha esposa inconformada, pegou as radiografias para tentar encontrar algum indício que não foi averiguado e, acabou encontrando as fraturas. Hoje retornei na UPA, e passei por todo o processo novamente, a pessoa que fez a classificação, informou que o procedimento é assim mesmo, que não há nada que possa ser feito, apesar de eu relatar tudo, a mesma me disse que o ortopedista não avalia traumas antigos, somente os que são “novos”, expliquei que no dia eu pedi para ser avaliado por um ortopedista e a atendente informou que esse não é o procedimento.
Passando novamente, pela terceira vez pela clínica geral, a médica pediu outro RX é constatou o que deveria ter sido constatado no primeiro atendimento, fratura na costela.
Minha indignação é a mesma de muitos, que nesse caso poderia ter tido um final pior.
Péssimo atendimento, péssima classificação, imensa demora no atendimento e erro grosseiro no diagnóstico.
Enfim, tudo como sempre foi.
Muito dinheiro, pouco resultado
A SPDM recebe R$ 20 milhões ao ano para gerenciar a UPA inaugurada em fevereiro de 2019 para substituir o antigo Pronto-Socorro da Zona Noroeste, na época anexo ao Hospital Arthur Domingues Pinto.
A promessa do prefeito e de seu secretário de Saúde, Fábio Ferraz, era de que o serviço ficaria melhor e mais ágil. Não é o que se vê. A unidade recebe reclamações frequentes dos usuários. Logo após ser inaugurada foi muito criticada quando uma sequência de mortes suspeitas de negligência repercutiu na mídia local.
A maioria dos vereadores, fieis apoiadores do Governo, se recusou a assinar um pedido de abertura de Comissão Especial de Inquérito (CEI) para averiguar as mortes. O requerimento da CEI foi uma iniciativa da vereadora Telma de Souza (PT).
Os mesmos parlamentares que não acharam pertinente investigar os óbitos suspeitos na unidade terceirizada são praticamente os mesmos que aprovaram a lei que permitiu a entrada das OSs na administração municipal, em 2013.
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO!
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Isso ocorre em todas as áreas da administração pública, em especial na Saúde. No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde terceirizados enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários, atrasos nos pagamentos, corte de direitos e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores.
O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!