Um caos generalizado. Essa é a situação do Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso, em Guarulhos, gerido pela Organização Social IDGT.
Em nota oficial do Sindicato dos Médicos, a situação descrita é grave, inclusive com mortes de pacientes cuja causa suspeita é falta de medicamentos.
Veja abaixo:
NOTA OFICIAL DO SINDICATO DOS MÉDICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO
Situação gravíssima em Guarulhos: Hospital Pimentas funciona sem medicamentos básicos e ficará sem 90% dos médicos preceptores a partir de março
O Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso, em Guarulhos, passa por uma grave falta de medicamentos, que culminou na morte de pelo menos cinco pacientes só nas últimas semanas. Em razão do sucateamento do serviço e das súplicas por melhorias não serem atendidas, 90% dos médicos preceptores do serviço pediram demissão e os pacientes ficarão desassistidos a partir de março. Desde a troca de gestão do hospital, que passou a ser administrado pela organização social (OS) Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social (IDGT) em janeiro de 2020, o serviço passa por inúmeros problemas que se agudizaram nos últimos meses, tornando inviável a atuação dos médicos residentes no local.
De acordo com denúncias recebidas pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), o hospital sobrevive há meses com empréstimos de medicações ou com estoques esgotados com total ciência da diretoria, que nada faz para solucionar o problema. Também faltam monitores de sinais vitais e cateteres de diálise. “Pacientes já faleceram por falta de sedativos, bloqueadores neuromusculares, drogas vasoativas, trombolíticos, antiarrítmicos, antibióticos e anticoagulantes. Os médicos estão presenciando a morte de pacientes em extrema agonia sem poderem usar sedativos. Isso é um total absurdo e vai contra a ética médica”, conta Augusto Ribeiro, diretor do Simesp.
Ainda, o hospital se tornou referência de serviço de portas abertas para atendimentos de psiquiatria há três meses, mas não possui médico psiquiatra de plantão. “O atendimento contraria os direitos humanos, pois os pacientes ficam presos em um espaço pequeno, sem janelas, sem separação entre gêneros e sem banheiros aguardando por dias por uma avaliação com o especialista”, explica Ribeiro.
Outro problema enfrentado no Pimentas é a falta de tomógrafo há dois meses, fazendo com que pacientes sejam removidos para outra unidade para a realização do exame, adiando assim seu tratamento. Há algumas semanas também está em falta o aparelho de radiografia, que funciona apenas por poucas horas por dia.
Médicos preceptores são os responsáveis pela orientação dos médicos residentes; ou seja, são médicos experientes, responsáveis pelos recém-formados.
A Secretaria de Saúde diz que não foi informada oficialmente sobre as denúncias da nota do Sindicato e que trabalha para garantir o melhor atendimento possível no Hospital, não permitindo que a população fique desassistida. Já a Organização Social IDGT divulgou nota afirmando que enfrentando dificuldades para a aquisição de alguns medicamentos, como a maioria dos hospitais, tendo em vista a alta demanda provocada pela Covid-19.
“Além disso, a procura fez os preços subirem, o que também complica a compra. Apesar das dificuldades, a diretoria tem trabalhado com todos os meios e o hospital vem sendo abastecido regularmente. A afirmação feita pelo Simesp de que a morte de cinco pacientes nas últimas semanas está ligada a falta de medicamentos é genérica e não corresponde a verdade”.
Negou a que pacientes fiquem desassistidos e que haja falta de monitores de sinais vitais ou cateteres de diálise no HMPB.
Terceirização ameaça as políticas públicas de várias formas
Mais uma vez fica claro a quem e a qual objetivo a terceirização e privatização da saúde pública servem.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas em busca de lucro fácil, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Há até casos em que esse as organizações sociais são protegidas ou controladas integrantes de facções do crime organizado, como PCC.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!