A secretária de Saúde do Amazonas, Nayara Maksoud, fez declarações à imprensa dando conta de um incremento de 80% nas cirurgias eletivas realizadas no Hospital 28 de Agosto depois que a Organização Social Agir assumiu a gestão do equipamento.
A fala foi prontamente rebatida por um deputado e também pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mário Vianna. “É impossível que isso tenha ocorrido, porque as salas de cirurgia da unidade são basicamente ocupadas pelas emergências”, disse Vianna à imprensa local.
O deputado Wilker Barreto (Mobiliza) também havia feito um desafio para que a pasta comprovasse com dados a declaração de aumento nos procedimentos.
De acordo com o médico sindicalista, Vianna explica que tanto o 28 de Agosto quanto o Hospital João Lúcio, ambos localizados na capital Manaus, não podem ser considerados hospitais. “São Pronto-Socorros. Não há rotina médica ali e sim um protocolo de emergências”, diz ele. Por isso mesmo, é impossível que a Agir tenha conseguido aumentar o número de cirurgias eletivas na unidade. “O que eu sei é que tá morrendo gente lá por falta de atendimento, pessoas que chegam com fratura exposta e são colocadas na enfermaria. E nos outros também, até porque não houve aumento de equipe. O Itoam (Instituto de Traumo-Ortopedia do Amazonas) tinha mais gente trabalhando”, denuncia.
“O deputado tem razão. A secretária precisa divulgar a listagem das cirurgias realizadas. Se não o fizer, fica a palavra dela contra a dos médicos que estão trabalhando e percebendo a mentira”, ataca Vianna. Ele vai além e diz que a Agir está, sim, enviando pacientes para outras unidades para fazer parecer que está melhorando o atendimento. “Estão saturando o João Lúcio e o Platão Araújo. Basta ver as imagens que circulam nas redes sociais. Infelizmente o Ministério Público não percebeu a artimanha e se limitou a ameaçar os profissionais da ortopedia, os únicos que estão colocando alguma resistência ao que vem acontecendo no Estado, um verdadeiro absurdo”, afirma o médico.
O Departamento Jurídico do Sindicato dos Médicos fez um levantamento e descobriu que a Agir responde a nada menos que 542 processos judiciais. “E o Governo não viu isso antes de contratar?”, questiona.
Segundo Vianna, a situação é grave também no Instituto Dona Lindú, também administrado agora pela Agir. “Lá, pacientes que precisam de curetagem estão sendo encaminhadas para as salas de parto. Isso nunca aconteceu. É um absurdo”, denuncia.
A Federação Médica Brasileira também se manifestou com a seguinte nota:
A Federação Médica Brasileira (FMB) e seus sindicatos de base expressam repúdio às ações do Governo do Amazonas ao contratar uma Organização Social de Saúde com histórico de irregularidades para gerir os hospitais 28 de Agosto e Instituto da Mulher Dona Lindú. Essas unidades, que operaram por mais de 30 anos com médicos contratados, enfrentam dificuldades devido às precárias condições de trabalho impostas pela gestão atual.
O Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam) refere que profissionais que denunciaram irregularidades tiveram seus dados expostos, o que configura violação do sigilo médico. A transição desrespeitosa e a falta de consideração pelos profissionais geraram indignação. O Simeam considera que a moralidade administrativa está sendo violada, já que a empresa contratada (AGIR) enfrenta processos em outros estados.
Essa situação não é nova; durante a pandemia, a compra de respiradores em uma vinícola evidenciou possíveis desvios de recursos na saúde. O Simeam comunicou esses fatos a várias entidades nacionais, incluindo a Confederação Médica Latino-Ibero-Americana e Caribe, Conselho Federal de Medicina, Polícia Federal, além do Ministério Público, Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Amazonas e Câmara Municipal de Manaus.
A FMB e suas bases sindicais continuarão a lutar incansavelmente para garantir a responsabilidade, a ética e a qualidade no atendimento à saúde no estado do Amazonas, exigindo a reparação das injustiças e a responsabilização dos envolvidos.