Quando se terceiriza um serviço de altíssima importância como é a Saúde, os prejuízos são múltiplos. Perdem os cofres públicos com desvios de verba pública, com a falta de eficiência nos serviços e com a sanha pelo lucro das empresas contratadas. Perdem também os usuários com a má qualidade no atendimento e, neste caso, com a falta de decência por parte dos funcionários terceirizados e mal capacitados.
Transcrevemos abaixo a matéria publicada no Jornal A Tribuna desta terça, que é um exemplo bem concreto disso. Ao que parece, no único hospital público de Praia Grande, o Irmã Dulce, administrado pela organização social SPDM, não se pode confiar nem nos profissionais de saúde. Na unidade, a família de um paciente conta ter sido vítima de furto de uma corrente de ouro. Veja detalhes na matéria transcrita abaixo.
Quando os equipamentos públicos deixam de ser administrados diretamente pelo ente público e com contratação de profissionais sem concurso público, os funcionários são contratados sem qualquer tipo de checagem e treinamento. Mostramos aqui, por exemplo, o caso do falso médico que deu plantões no Hospital por meses antes de ser descoberto. Relembre aqui.
Também envolvendo a SPDM em Praia Grande, mostramos ainda o caso de uma paciente que descobriu ter sido vítima do esquecimento de uma agulha de medicação na nádega. Isso aconteceu após ela tomar uma medicação na UPA do bairro Quietude, também gerida pela organização social. Veja aqui.
Veja nos links abaixo as matérias mais recentes envolvendo a OS ficha suja:
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Leia a matéria de A Tribuna sobre o furto do paciente, publicada nesta terça (14).
Técnico de enfermagem é preso após ser acusado de furtar paciente internado em Praia Grande
Um técnico de enfermagem, de 36 anos, foi preso em agrante por ser suspeito de furtar a correntinha de ouro de um paciente, de 54 anos, em estado grave internado no Pronto-socorro (PS) Central de Praia Grande, durante a manhã deste domingo (12). A vítima tinha dado entrada no hospital após se ferir e ficar desacordada ao sofrer um acidente de trânsito neste sábado (11). A mulher do motociclista percebeu que o funcionário estava com objeto, após ver um colega de trabalho e ele dentro de uma padaria ‘comemorando’ que haviam conseguido o acessório.
O filho do paciente, de 29 anos, -que teve a identidade preservada- contou que seu pai se envolveu num acidente de moto. Segundo ele, o motorista de um Chevrolet Montana freou e o seu pai não conseguiu segurar e bateu. “Assim que ele bateu, já ficou inconsciente. Chamaram a ambulância, o Samu e ele entrou e foi para o hospital”, relembra.
Sua família foi para o PS Central, após ligarem informando sobre ocorrido. De acordo com ele, quando chegaram, uma enfermeira veio até eles e entregou para o seu irmão um saquinho com um pingente. Ao pegá-lo, seu irmão questionou e perguntou onde estava a correntinha de ouro.
“O técnico de enfermagem, estava do lado e falou assim: ‘corrente não veio não…’. Ele (enfermeiro) estava sondando. Meu irmão falou que o enfermeiro estava bem do lado, olhando, querendo falar e não falava nada. ‘A corrente não veio não, deixa eu até dar uma olhada. Não veio corrente nenhuma, só isso. Parece que teve uma agressão…’. Meu irmão estranhou”.
Depois, eles foram até a delegacia. No local, estava o motorista do veículo envolvido no acidente. ” A gente perguntou: teve alguma agressão? Eles falaram, não, não teve agressão nenhuma. Assim que seu pai caiu, ficou desacordado. O dono do carro que meu pai colidiu falou, inclusive, que meu pai entrou na ambulância com a corrente de ouro”.
Por conta disso, os irmãos acharam estranho. No domingo (12), sua madrasta foi tomar café da manhã em uma padaria que fica no Boqueirão. “Ela viu o pessoal do plantão da noite do PS Central conversando e tomando cerveja na mesa do lado, comemorando que o acidentado tinha uma corrente de ouro e que eles tinham ganhado na loteria. Eles começaram a passar essa corrente de mão em mão, colocar no pescoço, ver quem ia ficar com a corrente. Eles estavam fazendo uma negociação. Ela me ligou desesperada e falou: ‘vem para cá que é a corrente do seu pai!’”, conta.
Segundo o filho da vítima, essa corrente pertencia a sua mãe, que faleceu em 2016. “Ela deu de presente de casamento para o meu pai. Tem um valor muito mais sentimental para a gente do que um valor econômico. Eu fui para lá. Imediatamente eu identifiquei a corrente no pescoço do motorista, que a gente foi descobrir que era o motorista da ambulância. Ele falou que receptou do técnico de enfermagem. Quando a gente foi ver lá na delegacia, foi o mesmo técnico que recebeu e falou com o meu irmão lá no Pronto Socorro Central”.
Boletim de ocorrência
A Tribuna teve acesso ao boletim de ocorrência do caso. No documento diz que os policiais militares narraram que estavam em patrulhamento de rotina, quando foram acionados para atendimento de ocorrência de desinteligência numa padaria no Bairro do Boqueirão. Eles foram até o local e lá havia um desentendimento, no qual um homem estava acusando o técnico de enfermagem do PS Central de estar com uma corrente de ouro de seu pai. Por conta disso, ambos foram conduzidos até a Central de Polícia Judiciária (CPJ) sem uso de algemas.O homem que acusou o enfermeiro afirmou no boletim que no sábado (11), seu pai sofreu um acidente de moto e chegando ao PS Central, seu irmão recebeu de uma moça e do enfermeiro um relógio e um pingente.
Depois, o homem e seu irmão foram até a delegacia para receberem o celular e a motocicleta do seu pai. Neste momento, o motorista do carro envolvido no acidente disse que seu pai estava com a corrente e o viu entrando na ambulância com ela.
Neste domingo (12), sua madrasta foi tomar café da manhã na padaria e encontrou a equipe que estava no plantão noturno falando de uma corrente. Ela estava sendo passada de ‘mão em mão’, para ver quem iria ficar e disseram que teriam ganhado na loteria.
Por conta disso, a mulher ligou para o enteado para que fosse até a padaria. O homem quando chegou no estabelecimento viu um dos homens com a corrente no pescoço. Ele confrontou quem estava com o acessório e disse que foi o técnico de enfermagem que o
entregou.O filho do paciente reconheceu a corrente em razão de ter sido presente da sua mãe falecida e que sabe que é uma corrente de ouro 18k, de corte italiano, 3×1, pesando por volta de 13g e avaliada em R$ 5 mil. Como sua mãe faleceu, ele alegou que não tem a nota
fiscal.Versão do irmão
Na versão do irmão, ele alegou que para se inteirar do ocorrido foi até o PS Central. O funcionário pediu que entrasse para ver o paciente que estava desacordado. Ele foi levado até a sala e explicaram a questão de saúde do pai.Um funcionário do PS entregou as roupas, o relógio e o pingente da corrente. Ele questionou onde estava a corrente e teve como resposta que ela não apareceu. Quem entregou os pertences foi uma mulher, mas o enfermeiro disse que não tinha ‘corrente nenhuma achada’.
Segundo a versão do irmão, lhe disseram que poderia ter ocorrido uma agressão e linchamento no acidente. Entretanto, quando foi na delegacia, o motorista envolvido disse que viu o seu pai entrando na ambulância de correntinha.
O que diz a madrasta
A mulher do paciente contou que seu enteado lhe ligou pedindo que fosse até o PS Central. Chegando lá, ele já estava por lá com uma sacola com os pertences do acidentado, onde estavam um relógio, as roupas, chinelo e blusa rasgada.Na mão do enteado entregaram um pingente de santinha e um crucixo de corrente. Ela estranhou o fato de a corrente não ter sido devolvida. A equipe disse que talvez ele pudesse ter sido agredido, pois estava machucado.
Os enteados foram para delegacia e o motorista contou que viu a vítima do acidente entrar na ambulância de correntinha.
Na manhã deste domingo (12) ela foi até a padaria no Boqueirão e se sentou do balcão, ao lado da equipe de saúde. Em dado momento, viu o enfermeiro com a corrente na mão, segurando-a para cima e passando de mão em mão, até chegar na mão de um ‘altão’. Ela ouviu alguém comentar sobre pacientes e dizer que ganharam na loteria.
Alguém perguntou quem iria ficar com a corrente e este alto disse que ficaria e colocou no pescoço. Começou a enviar vídeos do ocorrido para o enteado e pediu para que fosse até lá. Chegando lá, o enteado abordou o homem que devolveu a correntinha e disse que pegou de outra pessoa.
Os suspeitos
Um investigado disse que trabalha como motorista socorrista de uma empresa terceirizada que presta serviço ao Hospital Irmã Dulce. Ele afirmou que a corrente não é de sua propriedade e que não conhece a pessoa que estava na mesa (enfermeiro), apenas de vista.O homem contou ainda que o funcionário ofereceu a corrente e disse que tinha perdido a nota há um tempo. Segundo o socorrista, o acessório foi deixado com ele para avaliar, para saber se era de ouro ou não para posteriormente comprá-la.
O técnico de enfermagem, que foi indiciado e preso, em depoimento à polícia afirmou que trabalha como técnico de enfermagem no PS Central, como terceirizado. Afirmou ainda que comprou a corrente de um homem em situação de rua entre 5 e 6 horas da manhã deste domingo (12) pela quantia de R$ 70. Isso porque o vendedor pediu a quantia de R$ 100, porém ele não tinha.
O vendedor ainda lhe pediu um cigarro e foi embora. O técnico de enfermagem relatou que foi na padaria tomar café da manhã e ofereceu a corrente de ouro a quem estava lá. Ele pediu a quantia de R$ 500 e falou que o motorista de ambulância poderia ficar com ela, já que não usa corrente.
O funcionário (enfermagem) pensou que não valia nada. O funcionário destacou que em nenhum momento teve acesso ao paciente quando o familiar foi buscar as coisas. Segundo ele, a moça da faxina tinha achado o pingente no chão.
Afirmou que quem atendeu o paciente foi outro técnico de enfermagem do PS Central. Outro funcionário fez a transferência do paciente do PS Central para o Hospital Irmã Dulce. Ele negou que tenha roubado a corrente.
Para o colega de trabalho, ele teria alegado que a corrente era sua e em nenhum momento disse que comprou do morador de rua, pois se não ele não compraria.
Ele foi preso em flagrante, mas solto após pagar fiança de R$ 5 mil. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o objeto foi recuperado e devolvido aos familiares da vítima. A ocorrência foi registrada como receptação na CPJ de Praia Grande, e o suspeito permanece à disposição da Justiça.
O que diz a Prefeitura
A Secretaria de Saúde Pública (Sesap) da Prefeitura de Praia Grande informou que está acompanhando o caso e aguarda a apuração oficial dos fatos pelos órgãos de segurança.O que diz o Hospital
O Complexo Hospitalar Irmã Dulce informou que a denúncia está sendo apurada e que a unidade contribuirá com as investigações policiais.