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CÂMARA DE SANTOS LEGITIMA VIOLÊNCIA POLICIAL NA BAIXADA COM MEDALHA A PM ENVOLVIDO EM MORTE SUSPEITA NA OPERAÇÃO ESCUDO

Mostramos, no dia 7 de agosto deste ano, que o vereador Sérgio Santana (PL, 4º Mandato), da chamada bancada da bala da Câmara de Santos, conseguiu aprovar que o Poder Público Municipal santista gaste recursos dos munícipes com um evento de homenagem e com a confecção da Medalha de Honra ao Mérito “Brás Cubas” a um policial que participou de uma das mortes suspeitas durante a Operação Escudo.

Na última sexta (26), a mais alta honraria da Cidade foi de fato entregue ao cabo da Polícia Militar Wendel Evangelista Ferreira. Nenhuma repercussão na imprensa convencional sobre o receptor da homenagem ou sobre a dor da família de Vinicius de Souza Silva, 20 anos, morto na Vila Progresso, em Santos, durante a Operação Escudo, em 2023. Um jovem que perdeu a vida de maneira violenta em uma ação que moradores descrevem como marcada pelo terror e pelo abuso.

Como destaca a matéria do site Frequência Caiçara, relatos apontam que o corpo de Vinicius carregava marcas de agressão e ferimentos que contrariam a versão oficial de confronto, registrada pela Polícia Militar.

“Ainda assim, o boletim de ocorrência tratou sua morte como fruto de troca de tiros, mais um número dentro da lógica da letalidade que pautou a Operação Escudo — considerada uma das mais violentas da história de São Paulo, com pelo menos 28 mortos em poucas semanas. (…) O mesmo Estado que deveria investigar e responsabilizar seus agentes por violações escolhe, por meio de seu Legislativo, exaltá-los como heróis.”

No dia 7 de agosto, mostramos aqui na página que a Operação Escudo foi motivada por vingança institucional pela morte de um policial militar. A conclusão é de um relatório elaborado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense e pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo. O documento foi divulgado em 28 de julho, dois anos após o início da operação policial.

Dez dias após o relatório vir a público, o vereador Sérgio Santana emplacou o projeto de homenagem custeado com os recursos dos munícipes. O mesmo vereador com dedo podre para homenagens também tentou – e desistiu – homenagear a deputada federal Rosana Valle, defensora da PEC da Bandidagem.

Polícia de morte
De acordo com o boletim de ocorrência, a intervenção policial realizada na Vila Progresso, no dia 21 de agosto de 2023, vitimou Vinicius de Souza Silva, 20 anos. De acordo com a Agência Pública à época, o jovem foi a vigésima pessoa morta por intervenção policial durante a Operação Escudo, que iniciou no fim de julho daquele ano, como resposta à morte do soldado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), Patrick Bastos Reis.

“O corpo do Vinicius estava muito machucado, todo apanhado. Tinha marca de botina. Ele estava de barriga para cima, na parte do estômago e peito estava fundo e com marca de botina”, contou um familiar de Vinicius.

Uma testemunha afirmou à reportagem que a polícia chegou atirando contra um grupo de jovens que estava conversando e que “depois que ele (Vinícius) levou um tiro na coxa, não conseguiu correr com todo mundo. Caiu no meio do mato e a polícia matou ele pisando na cabeça. Ele foi pisoteado até ele parar de se mexer. Depois pegaram o corpo dele e jogaram numa lona, levaram para outro local e esperaram até o Corpo de Bombeiros chegar e levar o corpo dele”.

A Agência Pública teve acesso, com exclusividade, à declaração de óbito de Vinícius, emitida dia 22 de agosto pela Santa Casa da Misericórdia de Santos. O documento aponta que a causa da morte foi choque “hemorrágico, trauma torácico e ferimento por arma de fogo”.

A pedido da reportagem, o perito forense Eduardo Llanos analisou a declaração de óbito de Vinicius. Segundo Llanos, “para produzir um trauma torácico, a bala teria que subir pela perna, passar pela pelve, atingir a barriga e posteriormente o tórax. Não existe esse desvio de trajeto num corpo em movimento quando ele é atingido por um projétil na perna”. Ou seja, além de assassinato, houve tortura.

Os policiais alegam que durante o patrulhamento se depararam com homens armados e que houve troca de tiros. Testemunhas e familiares negam. Durante a ocorrência, os policiais atiraram 37 vezes: “Jeferson Bastidas da Silva efetuou cinco disparos, Rodrigo Paes de Lira três disparos, Wendel Evangelista Ferreira efetuou três disparos, Luiz Fernando Calixto Shenki efetuou cinco disparos, Juscelino Marcos dos Santos efetuou quatorze disparos e Bruno Nunes Viana efetuou sete disparos”, aponta a matéria baseada no B.O.

Homenagem em tempos de aumento da violência policial
Também em agosto foram divulgados dados alarmantes do último Anuário de Segurança Pública de 2025. Os números ilustram as consequências lamentáveis de ações policiais como a que o PM homenageado participou.

De acordo com o documento, São Paulo vive uma escalada de violência policial, enquanto a média no país registra queda nos índices de violência. As mortes violentas aumentaram, os assassinatos por intervenção policial dispararam e na Baixada Santista está o epicentro desses dados estarrecedores: duas das três cidades com maior proporção de mortes causadas por policiais estão na região – Santos e São Vicente.

O aumento dos óbitos decorrentes de ações policiais não é simples obra do acaso. Pelo contrário! É projeto de sociedade dos que estão no poder. São dados que refletem uma política de segurança pública operada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, que transformaram a Operação Verão/Escudo na Baixada Santista em modelo nefasto para todo o Estado.

Um movimento que atinge essencialmente a população preta e periférica e que, em Santos, como ficou claro na sessão solene da última sexta, é comemorado em homenagem com o título mais significativo da Cidade.

VEREADORES DE SANTOS, PARA QUEM ELES TRABALHAM?