Denunciando sobrecarga laboral, enfermeiros do Hospital São Paulo (HSP), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), paralisam atividades desde o dia 10. Eles reclamam de problemas na gestão da unidade pela organização social de saúde SPDM e a insuficiência de contratações.
Como mostra o site Outra Saúde, a situação vem se tornando cada vez mais crítica desde as demissões em massa ocorridas em 2022, durante a troca da superintendência do hospital. (Veja a matéria na íntegra aqui)
O auxiliar de enfermagem e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Unifesp (Sintunifesp), Rodrigo Bizacho, disse em entrevista que à época pelo menos duzentos funcionários foram demitidos. Isso aconteceu no início da gestão do atual superintendente do HSP, o médico Nacime Mansur.
Em entrevista ao Estadão, Mansur alegou que a medida se devia a uma crise financeira na instituição. Mas o resultado concreto da “reestruturação” tem sido a exaustão dos funcionários, obrigados a se responsabilizar por muito mais pacientes do que indicam as normas técnicas.
Os trabalhadores ouvidos pela reportagem e que preferiram não se identificar por temer retaliações denunciam: “Não descansamos desde a pandemia e, de lá pra cá, só piorou. Não tenho nem palavras pra descrever como piorou”, relatou uma enfermeira do Hospital São Paulo ao jornal A Verdade.
Bizacho confirma e complementa que as poucas contratações que ocorrem são anuladas pelo alto número de pedidos de demissão. ”O absenteísmo cresceu muito. Nossos colegas estão pegando atestado médico por cansaço físico e mental, eles vão no médico e dizem: ‘doutor, eu saí do plantão e não estou aguentando mais’. Fatalmente, isso sobrecarrega a equipe do dia seguinte, que também fica exausta. Quando você tem um adoecimento nesse nível, se vê que é um problema estrutural, que tem que ser trabalhado em várias frentes. O atendimento aos pacientes deixa de ser digno.”
Abaixo segue mais trechos da matéria do site Outra Saúde:
A greve no Hospital São Paulo envolve uma singular confusão entre interesses públicos e privados. Dos 51 hospitais universitários federais existentes no Brasil, trata-se do único gerido por uma Organização Social da Saúde (OSS), a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
“Quem são os proprietários da SPDM? Professores titulares da Unifesp”, complementa o próprio Nacime Mansur em sua entrevista de 2022 ao Estadão. Para ser mais preciso, o organograma da SPDM aponta que 5 dos 8 membros de seu Conselho Administrativo são docentes da universidade, bem como os dois integrantes de sua Diretoria Executiva. A diluição de fronteiras entre OSS e instituição federal de ensino superior levanta questionamentos sobre problemas éticos e conflitos de interesses.
Poderosa, a SPDM também gere cerca de 30% dos serviços de atenção primária à saúde na capital paulista. No Hospital São Paulo, trabalham funcionários contratados em regime CLT pela OSS e servidores públicos da Unifesp – entre eles, muitos quadros da enfermagem –, que relatam duros embates com a gestão.
A greve defende a realização de novas contratações como uma forma de começar a enfrentar o problema da sobrecarga e afastar os riscos à segurança de funcionários e pacientes. No entanto, os trabalhadores frisam que transformações mais amplas são necessárias para o pleno funcionamento da unidade hospitalar, um serviço de referência em procedimentos de alta complexidade.
“O Hospital São Paulo recentemente apareceu em um levantamento internacional como um dos melhores hospitais do mundo. Somos campo de estágio e também promovemos muita pesquisa e extensão. Nós esperamos que as medidas que estamos propondo garantam pelo menos um respiro”, concluiu Rodrigo Bizacho.
CONTRA TODAS AS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO!
Como se vê, terceirizar os serviços é fragilizar as políticas públicas, colocar a população em risco e desperdiçar recursos valiosos com ineficiência, má administração ou até má fé de entidades privadas que visam lucro a qualquer custo.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as organizações sociais (OSs), organizações da sociedade civil (OSCs) e oscips e não passam de empresas privadas interessadas em substituir a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado com força de trabalho barata e precarizada. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos. Embora a precarização seja mais visível na Saúde, isso ocorre em todas as áreas da administração pública, como Educação, Cultura e Assistência Social.
O saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS, das demais políticas públicas e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS e demais serviços essenciais, de desmantelamento dos direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão por meio das Organizações Sociais e entidades afins é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização dos serviços públicos!