Médico admite que fez cirurgia com recursos públicos em mulher de acusado de desvios via OS

Médico admite que fez cirurgia com recursos públicos em mulher de acusado de desvios via OS

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Mais uma mostra de como o mau uso do dinheiro público é corriqueiro nas unidades de saúde terceirizadas para as Organizações Sociais (OSs).

O médico Roberto Gimenes, ex-diretor clínico do Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), admitiu que fez uma cirurgia com uso de recursos públicos para colocação de um balão intragástrico na mulher de Ronaldo Foloni, um dos diretores da OS Vitale, gestora do equipamento municipal.

Foloni é acusado pelo Ministério Público de integrar um grupo que desviou pelo menos R$ 4,5 milhões do Ouro Verde.

Em depoimento, ele contou que o procedimento não era previsto pela instituição e, por isso, é alvo de uma investigação realizada pelo governo.

“Me pediram para colocar dentro do departamento de endoscopia, onde eu era também coordenador, além de diretor clínico do hospital […] Então, a irregularidade eventualmente porque o hospital, por ser público, não poderia ter comprado esses balões para colocar nesses pacientes. (…) Primeira vez (…) Não era uma rotina, o hospital tinha uma capacidade para fazer”, explicou.

Ele foi uma das cinco testemunhas ouvidas pela 4ª Vara Criminal, na tarde da a última terça-feira (12).

Gimenes é servidor municipal, mas diz que o vínculo estabelecido no período em que a Organização Social Vitale ficou à frente da administração do hospital foi rompido em fevereiro.

Ele foi intimado a prestar esclarecimentos na condição de testemunha de Fernando Vitor Torres Nogueira Franco, apontado pelo MP como lobista responsável pelas negociações entre entidade e Prefeitura.

O réu cumpre prisão preventiva desde dezembro de 2017. Entre os outros os beneficiados pelo suposto esquema de desvios, segundo as investigações, estão Ronaldo Pasquarelli, Paulo Câmara e Daniel Câmara, apontados como donos da Vitale e que cumprem prisão domiciliar desde homologações das delações premiadas pelo Tribunal de Justiça do estado (TJ-SP); além da presidente da OS, Aparecida de Fátima Bertoncello; e o diretor Foloni, que seguem presos.

O médico alegou que só teve contato com alguns dos réus após a OS assumir serviços no hospital. Ele é alvo de apurações do Grupo de Atuação e Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em virtude de representação que trata de possíveis irregularidades na atuação.

A Secretaria de Saúde informou, em nota, que há um processo administrativo em tramitação no Departamento de Processos Disciplinares Investigatórios (DPDI) contra o médico. “A investigação é sigilosa. A administração está à disposição do Ministério Público para prestar qualquer tipo de esclarecimento”, diz texto da assessoria sem mencionar detalhes sobrre o caso.

Provas
Para o Gaeco, as testemunhas até o momento ouvidas vem reforçando a tese de que havia um sistema para desvio de dinheiro público no Ouro Verde. “Os relatos que aparentemente poderiam ajudar a defesa, na opinião do Ministério Público reforçam acusação. Nada do que foi dito afasta os crimes imputados aos réus.”

“Se não há o envolvimento direto de outros agentes públicos, há uma omissão que permitiu que isso acontecesse. (…) Há indicativos de participação de outros agentes públicos, inclusive do alto escalão, que os desvios acontecessem de forma reiterada e sistemática.”

A próxima audiência do caso foi marcada pela 4ª Vara Criminal para 7 de agosto, quando os réus devem ser interrogados. Antes disso, uma testemunha será ouvida por meio de carta precatória.

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