Uma surpresa para quem acompanha a crise financeira da Santa Casa de São Paulo, instituição administrada por uma Organização Social de Saúde – a Irmandade Santa Casa de Misericórdia: uma auditoria independente realizada no complexo hospitalar revelou que a crise financeira na instituição envolve valores que são o dobro do que o divulgado inicialmente.
Em setembro, averiguação institucional mostrou que a dívida alcançava R$ 433,5 milhões. A nova auditoria, feita pela empresa BDO Brazil, indicou que o montante devido pela Santa Casa é superior a R$ 773 milhões.
Embora os números tenham deixado muita gente chocado, não chegam a ser uma grande surpresa aos trabalhadores e militantes pelo SUS 100% público. Casos como o da Santa Casa de SP, em números e balancetes são como uma caixa preta, se repetem cotidianamente sempre que uma Organização Social está frente da gestão de unidades públicas.
Irregularidades
O levantamento independente mostra que entre as irregularidades identificadas pela nova auditoria na administração da Santa Casa, destacam-se pagamentos de bônus com indicadores de preços desfavoráveis, compra de material superfaturado, contratação de empresas prestadoras de serviços em condições desfavoráveis, adoção de política de cargos e salários incompatível com sua condição financeira e até subutilização de equipamentos.
Fora o preço mais alto pago pelos medicamentos, a auditoria apontou outros indícios de superfaturamento. É o caso do contrato de lavanderia. A Santa Casa deveria pagar R$ 1,98 por quilo de roupa, mas a empresa terceirizada contratada cobrava R$ 3,00. Nó neste exemplo, o gasto excedente é de R$ 2,6 milhões por ano. Também no serviço de limpeza, mais indícios de desvios. Os auditores apontaram que a entidade pagava pela contratação de 422 funcionários, mas apenas 360 trabalhavam.
Contratações duvidosas
A o documento também observou que a contratação de funcionários é superior ao aumento das atividades do hospital. Para se ter uma ideia, o hospital tem 21 trabalhadores por leito, quando a média de outras unidades é de cinco.
Em julho passado, a Santa Casa, que é o maior centro de atendimento filantrópico da América Latina, fechou o pronto-socorro, suspendendo as cirurgias eletivas e os exames laboratoriais, afetando aproximadamente 6 mil pessoas. Um dia após o anúncio do fechamento, a Santa Casa reabriu o pronto-socorro e retomou os atendimentos.
Conforme matéria já publicada neste site (leia aqui), alegando crise financeira, médicos, enfermeiros e funcionários estão sem receber há quase 10 dias. Na última sexta-feira os profissionais fizeram um protesto com abraço simbólico no hospital. Eles ameaçam greve caso seus direitos não sejam cumpridos.
Em nota, a assessoria de imprensa da Santa Casa afirma que os salários do mês de novembro (vencimento no dia 5 de dezembro), 92% dos funcionários receberam o valor integral. A previsão é de que o salário dos 8% que faltaram seja pago ainda esta semana.
De acordo com a instituição, a prioridade foram os funcionários que recebem salários mais baixos. Sobre os 13º salários, foi paga uma parte da primeira parcela aos funcionários que recebem até R$ 3 mil. “Ainda não há previsão de quando será pago o valor restante nem para os que recebem acima de R$ 3 mil”.