SEM DAR EXPEDIENTE VEREADOR PODE TER JORNADA DE CINCO HORAS POR SEMANA

Charge3 300Por uma série de aspectos do trabalho parlamentar, é comum ouvir que os políticos ganham no mole, levam vida fácil e outras expressões para significar a mesma coisa. Para um ocupante de mandato público, como um vereador em Santos, o mínimo de tempo de trabalo por semana pode chegar a apenas cinco horas. Ou seja, se o mesmo comparecer às sessões. Isto multiplicado por quatro semanas chega a 20 horas mensais. Um trabalhador comum tem jornada ao redor de 240 horas/mês. Se for considerado o salário bruto de um parlamentar santista, de cerca de R$ 10 mil reais, mais benefícios, o valor dividido pela jornada de 20 horas dá uma cifra de R$ 500 reais por hora de serviços prestados. Nada mal para os padrões brasileiros.

Para não cair no lugar comum, da crítica fácil, a reportagem do Vereadores de Santos – Para quem eles trabalham? foi em busca de dados reais. Os nomes citados nesta reportagem são fictícios a fim de não gerar represálias, uma vez que houve identificação de nossa personagem junto aos gabinetes consultados. O site buscou uma munícipe eleitora, aleatoriamente, que se dispusesse a tentar marcar uma audiência com três ou quatro vereadores. Em quase todos os casos, os assessores tentaram marcar a conversa para a hora das sessões. Um claro sinal de que os parlamentares procurados não costumam dar expediente em seus gabinetes. Daí a conclusão de que atuam predominantemente apenas em plenário, durante as sessões ordinárias. Considerando sessões longas, de duas horas e meia cada, sendo duas por semana, ao final, resulta em torno de cinco horas de trabalho.

Claro que os vereadores podem realizar serviços externos em seus mandatos. Podem realizar audiências públicas, participar de reuniões, vistorias e até viagens a serviço. Mas, o trabalho de campo visou identificar o comportamento básico dos parlamentares, como por exemplo, dar expediente na Casa Legislativa. Os contatos com os gabinetes foram realizados pela eleitora durante o período de 22 de junho e 9 de julho.

Dia 22 de junho, às 14h03 a eleitora Maria José da Silva ligou para o gabinete do vereador A. A pessoa que atendeu pediu para ligar novamente às 14h25. Telefonando300“Às 14h31, falei com Edson. Ele disse que era assessor. Disse que eu era eleitora, expliquei todo o contexto e ele perguntou onde eu morava, a rua, a casa… Falei que gostaria de conversar com ele, o vereador em quem eu havia votado. Ele perguntou se era para trabalhar na campanha, se era assunto pessoal e um monte de coisas. Insistiu para que eu abrisse o assunto. Argumentei novamente que era eleitora e tal. Ele falou para eu ir na segunda-feira, no horário da sessão, às 18h00. Falei que seria inviável por que tinha que buscar as crianças na escola. Ele falou que em outro horário, só com ele, assessor. Continuei insistindo e ele falou que o vereador fazia trabalhos externos relacionados ao mandato. Perguntei se ele não ficava nenhum dia no gabinete para atender os eleitores”. O assessor disse ainda que o vereador não tinha hora certa por que andava com horários muito apertados por causa da campanha. Em 6 de julho houve nova ligação para o gabinete deste vereador. A resposta obtida foi a mesma.

Para o vereador B, uma das ligações também foi em 22 de junho. Esta, às 15h19. “Falei com Mariana. Esta disse para tentar mais tarde, com Paula. Às 15h50, falaram que a Paula não estava, mas ela em seguida resolveu atender. Perguntou de onde eu conhecia o vereador, se era sobre emprego na campanha, assunto pessoal etc etc. Falei que era eleitora, tinha votado nele e queria falar com o vereador em quem eu votei. Ela não gostou muito. Falou que o vereador estava muito ocupado com coisas de campana, gravando vídeos e tal. Insistiu para eu ir na hora da sessão. Eu disse que não podia e indaguei se ele não reservava um dia para atender os eleitores. Ela não gostou muito. Anotou meu telefone e ficou de ligar. Durante as próximas semanas não houve retorno algum”.

Maria José da Silva ligou para o gabinete do vereador C, também em 22 de junho, às 15h33. “Quem atendeu passou para o assessor Jairo. Igualmente ao anterior, ele sugeriu a conversa para a hora da sessão. Este explicou que o vereador estava em São Paulo Paulo resolvendo assuntos políticos para a região. Anotou dados, perguntou o assunto e falei que era sobre segurança. Insistiu se eu não poderia falar com ele. Disse que preferia falar com o vereador. Este retonou às 16h22, perguntou se eu poderia ir às 17h00, que o vereador atenderia, próximo à sessão. Respondi que estava muito em cima e foi sugerida a segunda-feira, quando a audiência foi agendada. Na segunda, não fui. O assessor ligou e tentou agendar outra data. Ele ainda me retornou a ligação em 30 de junho”.

Ainda foram feitas ligações para um quarto vereador. A primeira, em 6 de julho, às 16h45. “Era uma sexta-feira, ninguém atendeu. Liguei depois, em 9 de julho, e a pessoa que atendeu tentou agendar para a hora da sessão”.

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