A VERDADEIRA E DEMOCRÁTICA ESCOLA PÚBLICA
Os desafios para transformar a escola pública hoje fiscalizadora e repressora em um verdadeiro espaço democrático e prazeroso de troca de conhecimentos, vivências e saberes serão o tema da palestra GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA, a ser ministrada pelo escritor e educador Vitor Paro na próxima quarta-feira, dia 29, às 19 horas, no Auditório D. Davi Picão da UniSantos (Av. Carvalho de Mendonça, 144 – Campus Vila Mathias).
Paro é escritor e professor titular no Depto. de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação da USP e vem a convite do Sindicato dos Servidores Municipais de Santos (SINDSERV).
A iniciativa visa promover a oportunidade dos educadores da rede municipal refletirem sobre o assunto e também de se aprimorarem. Também serão convidados para o evento, que é aberto ao público, os alunos do curso de Magistério da Escola Acácio.
Victor Paro é conhecido por suas idéias acerca da importância da prática da educação democrática como elemento de inclusão de crianças e jovens e de sucesso no aprendizado escolar. Em entrevista ao site do SINDSERV ele falou sobre a questão da violência nas escolas, processos de avaliação pedagógica e administração escolar.
Segundo o educador em termos imediatos não existe mágica para reduzir a violência com medidas tomadas apenas a partir da escola. “Isso exige uma reflexão mais ampla que deve ser feita e atacada por meio de políticas públicas. O que a escola tem de fazer é ser, realmente, educativa. Mas não essa educação que é vista hoje em dia, em que as crianças são proibidas de se manifestar, de brincar; em que os alunos não são estimulados a serem sujeitos”.
Paro afirma que existe um engano em pensar que a escola tem que procurar medidas ou alternativas para simplesmente evitar a violência. O que ela deve fazer é servir a comunidade de fato; não porque isso pode diminuir os índices de mau comportamento dos jovens, mas porque essa é a sua função.
Função esta que está longe de ser cumprida. “Hoje esses programas que mantêm as escolas abertas aos finais de semana são uma hipocrisia, pois reproduzem o dia-a-dia da sala de aula, que é marcado por uma relação de controle entre professor e o aluno e não por uma interação verdadeira de partilha de conhecimentos, culturas e experiências. Infelizmente hoje em dia é desagradável para o aluno estudar. Não há prazer e por isso não há aprendizado. Aprender tem que ser estimulante e agradável sempre”.
Segundo Paro, o grande equívoco no modelo de educação presente nas escolas é o conceito errôneo que se tem de gestão escolar e da própria relação professor x aluno. “Falar em gestão escolar não significa pegar formulinhas técnicas para se aplicar recursos e fiscalizar a utilização desses recursos. A concepção de educação é muito mais ampla: educar é formar cidadãos que sejam capazes de se assumirem como sujeitos perante a sociedade, perante o mundo que os cerca. A administração escolar tem que ser a mediadora desse processo, que se dá mais intensamente na sala de aula”.
O especialista diz ainda que hoje o entendimento acerca do processo de educar é o mercadológico. “As escolas acham que têm de emitir certificados e formar trabalhadores assalariados para o mercado de trabalho. Os alunos têm de ir bem no Enem ou passar no vestibular de universidades particulares com péssima qualidade de ensino. Enquanto isso, ninguém toca na questão integral que é despertar no aluno o gostar de aprender, o querer aprender, a sede do saber”.
Paro também faz uma crítica aos modelos de avaliação vigentes denominados progressão avaliada ou progressão continuada. Aparentando uma falsa dicotomia, esses sistemas como estão sendo praticados hoje acabam sendo a mesma coisa. “Infelizmente não existe no Estado de São Paulo a verdadeira progressão continuada, que é aquela que avalia o aluno como um todo e o tempo todo. Os métodos de reprovação continuam existindo, só que a criança passa de ano”.
Já a progressão avaliada é ainda pior, principalmente porque atende a um apelo de uma sociedade que cresceu sendo reprovada e hoje reproduz a prática da reprovação. “Cumpre aos educadores instalados nas várias esferas do poder executivo e quem têm um pouco de consciência fazerem diferente disso e mudarem a trajetória da escola pública brasileira”.
O educador é autor, entre outros, dos seguintes livros:
– Reprovação Escolar: renúncia à educação (Ed. Xamã);
– Administração Escolar: introdução crítica (Ed. Cortez);
– Gestão Democrática da Escola Pública (Ed. Ática);
– Por Dentro da Escola Pública (Ed. Xamã);
– Escritos sobre Educação (Ed. Xamã);
– Qualidade do Ensino: a contribuição dos pais (Ed. Xamã).
Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no SINDSERV, por meio do telefone 3228-7400.