CRESCE FAVELIZAÇÃO EM SANTOS
Pesquisa do IBGE revela o crescimento da favelização em Santos: quase 80% de acréscimo. Revela, também, a falência do Governo municipal. Após o oba-oba eleitoral, a verdadeira face, oculta, da cidade de Santos aparece. Leia a matéria publicada em A Tribuna:
População cresce 0,3% em 10 anos. Moradias em favelas aumentam 79,5%
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dez anos Santos cresceu pouco demograficamente. Só 0,3%, o que equivale ao acréscimo de apenas 1.417 pessoas na população, de 419.400 residentes em 2010.
Observados superficialmente, os dados, relativos aos dos Censos de 2000 e 2010, traduzem uma Santos com população estabilizada e sem problemas de metrópoles superpovoadas.
Mas, quando a análise é feita por bairros, descobre-se que a cidade polo da Baixada Santista tem suas porções de crescimento desordenado. E essa realidade está bem longe das áreas nobres, situadas, principalmente, na Zona Leste do Município.
Levantamento do IBGE a pedido de A Tribuna mostra que, entre os dez bairros com maior crescimento populacional, apenas um – o José Menino – está na Zona Leste.
Os demais situam-se na região dos morros e da Zona Noroeste, em áreas que não sofreram verticalização e abrigam aglomerados subnormais, nome técnico dado pelo IBGE às populares favelas.
Proporcionalmente, os bairros que mais sofreram com incremento de pessoas são: Morro Santa Maria (alta de 86,4%), Alemoa (80,5%), Bom Retiro (33,4%) São Manoel (29,9%) e Nova Cintra (26,3%). Juntas, as cinco áreas experimentaram o acréscimo de 6.350 pessoas de 2000 para cá.
Vários fatores podem explicar esse movimento inverso na tendência de ocupação de Santos. Mas as consequências, certamente, têm a ver com outra estatística do IBGE: a de que Santos ganhou, em dez anos, 4.766 domicílios em favelas. Hoje são 10.767, contra 5.998 em 2000, o que mostra um incremento de 79,5% e m moradias precárias nos 24 núcleos cadastrados pelo IBGE.
Por questões metodológicas, o instituto não tem como dizer quais foram e em que bairros estão inseridas as favelas que mais aumentaram de tamanho: em 2000, a contagem era por setores censitários. Em 2010, por aglomerados.
Entretanto, quem está há anos vivendo nesses locais afirma que houve uma explosão na quantidade de famílias residentes em áreas invadidas. Lucas Marcelino da Silva, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Morro Santa Maria, conta por que o bairro quase dobrou em quantidade de moradores.
“Não é segredo pra ninguém que as favelas do Santa Maria cresceram com o avanço da ocupação do Tetéu, formando áreas de invasão e de risco como a Favela do Cuscuz e o Vale Verde”.
O segundo bairro com ocupação mais expressiva é, curiosamente, uma área industrial. A Alemoa passou de 570 habitantes para 1.029. Lá, onde antigamente funcionava o aterro sanitário da Cidade, está a Vila dos Criadores, com 281 domicílios.
A presidente da Associação dos Moradores, Kelly de Oliveira, há 14 anos no local, relata que a população aumentou muito. Ela faz parte das 190 famílias que não foram removidas para o Ilhéu Alto e estão aguardando novas casas. “De lá para cá, já tem umas 400 famílias sem cadastro de novo. A Prefeitura não isolou a área. Ficou um campo aberto. O povo, que não tem onde morar, invade mesmo”.
Planejamento
O secretário de Planejamento de Santos, Bechara Abdalla Pestana Neves, salienta que, como o crescimento populacional geral da Cidade foi inexpressivo, o aumento populacional em alguns bairros deve-se a movimentos migratórios. Outra hipótese é de crescimento vegetativo – quando o local estudado tem taxa de natalidade mais alta que a de mortalidade.
Porém, ele lembra que os números do IBGE de que a Prefeitura dispõe são preliminares. “Não tenho registros de aumento populacional em áreas de invasão. Os censos do IBGE sofreram mudanças de metodologia, o que pode ter interferido nos dado s finais”.
Comentário Rafael Motta – Subeditor de A Tribuna
A verdade, afinal, vem à tona. Catorze anos após as primeiras mudanças na legislação que permitiram a transformação do setor imobiliário em Santos, o último Censo mostra seus resultados: em dez anos, a população cresceu 0,3%; o número de moradias em áreas de favela, 79,5%.
Esse desastre em termos de planejamento urbano revela que, passados quatro mandatos – e inúmeros outros anteriores, em décadas passadas -, não s e fez quase nada de concreto para a melhoria das condições habitacionais da população que mais precisa de governo, qualquer governo.
Justificar que a favelização aumentou de forma descomunal com ‘movimentos migratórios’ (transferência de pessoas para zonas mais pobres) ou ‘crescimento vegetativo’ (ausê;ncia de controle de natalidade, pelo que se depreende) comprova: a Prefeitura falhou em Santos.
Essa falta é ainda mais grave à medida que o Censo não especifica quantos moram em cortiços, essa fonte inesgotável e vergonhosa de insalubridade que remete a Cidade a velhas épocas de tuberculose e indicadores sociais que mancham o bem-estar geral vendido para o consumo externo.
Pode-se alegar que o Município preparou o programa Santos Novos Tempos e mantém outro, denominado Alegra Centro Habitação. Porém, por que avançam tão lentamente? Por que a Prefeitura não encontra os donos dos antigos casarões da zona central, para deles exigir providências?
Tão preocupante quanto as dúvidas relativas ao s urgimento de grandes empreendimentos (se haverá água suficiente para todos, como ficará o trânsito, onde todos estacionarão) é saber o que restará à população das favelas cada vez maiores de Santos. Será essa uma preocupação de fato no próximo governo?