50 anos de Golpe: Lembrar para nunca mais acontecer!
Mortos enterrados
Vossa luta seguiremos
A passos cadenciados
Com mais coragem nos ergueremos
Proletários, heróicos
Pelo crime fulminados
Vossa morte vingaremos
Castigando os culpados"
Hino apreendido nos arquivos do
Socorro Vermelho Internacional de Santos
(Pront. 561 – Delegacia de Polícia de Santos,
1º v. DEOPS/SP, DAESP).
Primeiro de abril, há 50 anos atrás se iniciava uma das piores passagens da história do Brasil. Organizado pelos grandes empresários com o apoio dos EUA, o Golpe Militar deu início à Ditadura que interrompeu os avanços dos direitos dos trabalhadores. Interrompeu matando, torturando e tomando a direção de mais de 1.300 sindicatos e associações de trabalhadores.
Golpe duro para toda a classe trabalhadora que teve todas as suas conquistas tomadas. Qualquer tipo de organização dos trabalhadores e/ou reivindicação era motivo para detenção, averiguação e, até mesmo, prisão, tortura e morte.
A repressão em Santos foi singular. Isso porque, a cidade tinha forte organização dos trabalhadores, sendo conhecida como Cidade Vermelha, ou Moscou Brasileira. Quase todos os sindicatos da região tiveram suas respectivas diretorias destituídas e sofreram na mão de interventores. Para se ter noção da enorme relevância que Santos tinha politicamente, por aqui aportou o navio Raul Soares que serviu exclusivamente de prisão para as principais lideranças sindicais da região.
A prefeitura também sofreu intervenção e Esmeraldo Tarquínio, eleito para prefeito democraticamente foi impedido de tomar posse. Foram sete interventores, sendo o último Paulo Gomes Barbosa, pai do atual prefeito de Santos.
Os servidores públicos de todas as esferas (federais, estaduais e municipais) ainda não tinham direito a organização sindical, e a Ditadura atrasou ainda mais a conquista deste direito. Somente em 5 de outubro de 1988, com a Constituição Federal, foi autorizada a criação de sindicatos de servidores públicos. Exatos 12 dias depois (17/10), o SINDSERV SANTOS foi registrado. Somos o primeiro sindicato de servidores municipais fundado no Brasil.
Mas, mesmo sem uma organização oficializada, os servidores de Santos já se mobilizavam e promoviam lutas. Com a abertura dos arquivos da Ditadura, podemos ver o quanto os funcionários públicos de Santos foram perseguidos nesse período. Nos prontuários do DEOPS/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo) há inúmeros servidores fichados. A maioria por ter participado da greve de 1948, paralisação que começou no dia 29 de novembro no setor de obras e jardins, alastrando-se rapidamente para o pessoal da garagem, oficinas de limpeza e cemitérios. Durou quinze dias e seus líderes acabaram presos.
Voltando pra 2014, encontramos um esquizofrênico "movimento" que pede nova intervenção militar. Sua alegação é que somente com essa atitude radical conseguiríamos acabar de vez com a corrupção. Argumento que não encontra nenhum respaldo na história, sendo que durante a Ditadura tivemos os governos mais corruptos deste país, mas (obviamente) nada foi denunciado.
Não há atalhos: Para acabar com a corrupção é preciso imprensa livre, liberdade de expressão, de manifestação e, principalmente, liberdade de organização dos trabalhadores independente de governos e patrões. Sem isso, não há como controlar e denunciar desvios de verbas públicas para bolsos privados, muito menos lutar por melhores condições de trabalho, salários dignos etc.
E, veja só que contradição, nem mesmo essa patética reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade teria direito de se manifestar.