O PDR parece interessante, não é? Entenda essa armadilha ideológica:
No final de março a Prefeitura anunciou o PDR (Participação Direta nos Resultados), uma "iniciativa inovadora" que, segundo o governo, os servidores irão adorar e os munícipes também. Porém, após fazermos uma análise mais detalhada, descobrimos então pra que vêm essa PDR.
Filosofia empresarial
Fruto da mentalidade de quem acha que tudo na iniciativa privada é uma maravilha, a PDR vêm no intuito de intensificar a "produção" de trabalho dos servidores e diminuir ainda mais o número de funcionários. Nas entrelinhas do discurso oficial fica clara a visão que a administração municipal têm dos serviços prestados por seus funcionários. Para ela, trabalhamos com má vontade, relaxo, desinteresse. Por isso acredita que pode nos espremer mais um pouquinho para atingir suas metas.
Como reduzir tempo de espera da população para procedimentos diversos, diminuir tempo de agendamento, estancar as horas extras dos funcionários, ampliar atendimentos e aumentar funções com o mesmo número de funcionários e a mesma estrutura? É só uma questão de vontade? Sabemos que não!
Sabemos também que as metas provavelmente serão atingidas. Mas isso não terá relação nenhuma com "maior engajamento dos colaboradores", "maior cooperação entre as equipes" ou qualquer outra baboseira de palestra empresarial. As metas serão alcançadas pois, junto com elas, vêm outras "filosofias" ensinadas pelo "deus mercado": Pressão por produtividade e assédio moral.
Os professores que também trabalham para o Estado sabem muito bem o que é ter uma política de péssimos salários complementados com bônus de todas as ordens, inclusive PDR. Se você conhece algum, pergunte como é a pressão para que os professores passem de ano quase todos os alunos, mesmos os que não entenderam nada das matérias lecionadas. O assédio moral vem até mesmo de colegas de trabalho, que ficam cegos querendo atingir as metas.
Melhor ainda, pergunte para um funcionário do Estado aposentado como está sua vida com uma merreca de salário, já que todos os bônus (inclusive o PDR) não são incorporados.
A verdade é que onde essa filosofia empresarial se instala, "valorizando" o servidor com bônus ao invés de salário, o que deveria ser um benefício torna-se uma prisão e, em muitos casos, vira moeda de troca por apoio político quando o ano é eleitoral.
Nenhuma contrapartida
Porque metas apenas para os trabalhadores? Porque o governo não assume compromissos que, esses sim, deixariam todos os trabalhadores mais motivados e, consequentemente, melhorariam os serviços à população? Sugeriríamos alguns:
-Sanar a carência de funcionários em todos os setores necessários;
-Recuperar o poder de compra dos servidores perdidos por anos sem reajuste;
-Diminuir o número de alunos por sala;
-Cesta Básica de acordo com a média de uma Cesta Básica em Santos, e não dois terços dela;
-Instalar ar-condicionado nas salas de aulas, leitos hospitalares e outros locais imprescindíveis. Não têm dinheiro? Retire os aparelhos dos gabinetes;
-Auxílio alimentação digno em uma cidade onde a refeição é a mais cara em todo o Estado de São Paulo (veja aqui ou aqui);
-Diminuição dos cargos comissionados, etc.
Mentira tem perna curta
Lembram a choradeira da Prefeitura durante nossa Campanha Salarial? Pois é, tudo mentira! Apenas para planejar essa PDR, em míseros 3 meses, o governo pagou R$ 490.000,00 para a Fundação Vanzolini. Detalhe, sem licitação alguma (veja aqui, página 9). E caso a Ouvidoria e as seis secretarias inicialmente selecionadas (Assistência Social, Defesa da Cidadania, Educação, Finanças, Gestão e Saúde) alcancem todos os objetivos, o gasto totalizará R$ 9.400.000,00.
Ou seja, com o total de bônus (9 milhões e 400 mil) mais o dinheiro gasto para o planejamento (490 mil) e levando em conta que a Prefeitura anunciou que o reajuste de 7,5% equivaleria ao gasto de 64 milhões (veja aqui, página 3), temos que só com esse dinheiro gasto na PDR daria pra dar pelo menos mais 1% de aumento para toda a categoria. Ficaríamos com 8,5%. Ué, 7,5% não era o limite para não ultrapassar a Lei de Responsabilidade Fiscal?!?!
Não tem mágica
Quer os trabalhadores mais motivados e um serviço público de melhor qualidade? Que tal escutar os próprios trabalhadores que não se cansam de denunciar falta de profissionais em diversos cargos e falta de condições estruturais mínimas para realizar um bom atendimento ao munícipe?!?