Concurso Público na Orquestra é conquista dos músicos
Em novembro de 2017 os músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos (OSMS) foram informados que a gestão da Orquestra iria para uma OSC (Organização da Sociedade Civil).
Os servidores se mobilizaram para barrar a tentativa do prefeito de terceirizar a Orquestra. Organizaram o movimento “OSMS Viva“, envolveram os músicos não concursados, fizeram camisetas, panfletaram antes e depois dos concertos, passaram abaixo-assinado e fizeram apresentações independentes para poder explicar o que estava ocorrendo para a população.
Era a gota d’água de um processo de descaso que já durava mais de duas décadas. Desde o Concurso Público que selecionou os músicos que inauguraram a Orquestra, em 1996, não havia tido mais nenhum outro Concurso para repor os músicos que se aposentavam ou saiam da cidade. Dos 41 cargos de músico, só 9 estavam preenchidos. Para funcionar, o governo pagava para os outros músicos através de RPA (o famoso chequinho).
Se empresa privada (disfarçada de OCS) realmente entrasse, a situação iria piorar e muito. E o patrimônio cultural da cidade correria um sério risco de ter que fechar, como aconteceu em inúmeras cidades que terceirizaram sua orquestra (veja aqui).
A pressão fez o governo recuar!
O desmonte da orquestra era proposital para justificar a terceirização, mas os trabalhadores perceberam a tempo e foram à luta.
A batalha foi grande, mas valeu a pena! O governo teve que ceder a pressão dos trabalhadores e finalmente abriu o tão aguardado Concurso Público agora em janeiro.
Isso prova que unidos e mobilizados os trabalhadores conseguem sim defender seus direitos e avançar em novas conquistas.
SÓ A LUTA MUDA A VIDA!
Veja abaixo o bonito texto dos músicos que relata como foi essa luta:
O lugar da escuta
Para nosso público, a platéia. Mas, pergunto: e o nosso, dentro deste grupo chamado ORQUESTRA? Como funciona a escuta para nós, especificamente os músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos – OSMS?
É deste lugar que ocupamos que ouvimos as orientações do maestro e os comunicados da coordenação sobre nossas atividades, em curso há quase 25 anos. Esta escuta é diferente para nós, pois que nos acomodamos no espaço do palco em diferentes distâncias.
Por vezes, as informações e orientações nos chegam fragmentadas, pois que mesmo com a nossa audição apurada, as palavras são confusas num primeiro momento, necessitando da escuta também fragmentada dos colegas próximos, com o objetivo de verificar se escutamos o que pensamos ter escutado…
Foi o que aconteceu em novembro de 2017, ao chegar em nossos ouvidos palavras ditas a respeito de nosso trabalho, de nosso quotidiano, de parte significante de nossas vidas, que nossas atividades estariam em suspenso a partir do mês seguinte. Um “fantasma” foi solto em nosso Teatro Coliseu. Mas não, não o famoso da ópera, um outro muito mais assustador e devastador… um que seria capaz de silenciar a música de nossos instrumentos, a nossa história e destruir o patrimônio cultural musical dos santistas. O tal fantasma não nos era estranho, conhecíamos seu poder de destruição, o modelo de gestão por Organização Social (OS) era o princípio do fim e já havia feito seu trabalho aniquilador em outras orquestras.
A partir deste dia, fomos obrigados a olhar para além das notas escritas na partitura a nossa frente. Fomos obrigados a olhar para trás e relembrar de nossa orquestra em outros tempos, desde a sua fundação. Não foi tarefa desagradável reler nossos programas e nos depararmos com grandes trabalhos realizados, com a música tocada por nós mesmos ressoando em nossas memórias, apresentados ao público santista como a outros públicos.
Desagradável foi saber que não tivemos ouvidos e atenção para as mudanças que nos colocaram, no decorrer dos anos, em situação tão frágil.
O mês de novembro de 2017 foi decisivo. Obrigou-nos a mudança deste nosso lugar, o da escuta, para outras formas de expressão. Descobrimos que, ao nos ver com nossos instrumentos, nosso público nos reconhece. E havíamos escondido-os tempo demais…
Há um ditado na classe musical que diz “Músicos não gostam de falar”. É verdadeiro em partes, muitos gostam de falar. Mas a grande maioria gosta mesmo é de tocar. E foi o que nos levo às ruas, com sons e palavras, expandindo nosso palco para fora, para o seu lugar de direito, ao lado e junto ao nosso povo. Tocamos nossa música. Falamos de nossa frágil situação, falamos de nossa história, falamos do “fantasma” e falamos da solução: um novo edital para os cargos vagos da OSMS.
Hoje, há um sentimento poderoso que nos domina, pois que há 25 anos atrás estávamos envolvidos com a leitura do edital da Orquestra e os procedimentos de inscrição, assim como estudos para a realização das provas, escrita e prática.
Depois de aprovados, assumimos nossos cargos em maio de 1995. Estamos em janeiro de 2020 e daqui a quatro meses completaremos 25 anos ocupando este lugar de escuta, fundamentalmente modificado, tendo nossa voz acrescentada.
Espantamos o tal “fantasma”, pois que nossos futuros colegas estão hoje realizando a mesma leitura atenta do D.O. de Santos do dia 17 de Janeiro de 2020, nos trazendo um sentimento agradabilíssimo de continuidade e renovação.
Lutamos, tocamos e falamos para que o som melodioso deste patrimônio santista, a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, possa chegar aos ouvidos das atuais e futuras gerações.
Nosso profundo respeito e admiração à população santista, convidada a comemorar conosco a realização deste concurso, por seu importante apoio e sensibilidade.