Em reunião, Comunidade Escolar rejeita terceirização da cozinha

Uma reunião extraordinária do Conselho Escolar da UME Professora Margareth Buchmann foi realizada hoje (07/07) pela manhã. Os participantes decidiram rejeitar a terceirização e reivindicar a recomposição do quadro de funcionários da cozinha da escola.

“Nossa cozinha também é território educativo. Quem prepara a comida conhece as preferências, as restrições e os ritmos de cada criança. (…) Terceirizar é romper esses laços. É acreditar que qualquer pessoa pode substituir quem construiu, dia após dia, uma relação de confiança e segurança com nossas crianças”, diz parte da carta aberta.

Os servidores do Magistério lutam contra esse processo crescente de terceirização das cozinhas e da Educação Especial nas Unidades Municipais de Educação de Santos. Processo esse que, além de piorar a qualidade do ensino, é uma das principais causas no rombo financeiro da NOSSA CAPEP.

Leia a carta aberta da Comunidade Escolar na íntegra:

O que faz da nossa UME uma escola diferenciada não são os materiais e mobiliários que enchem os olhos de quem tem o privilégio de nos visitar. Eles são coadjuvantes diante daquilo que realmente é a nossa essência, que faz o nosso cotidiano pulsar: as relações humanas construídas nesse território.

Aqui, não seguimos métodos, seguimos abordagens de respeito às infâncias. Diferente das metodologias, que são genéricas e aplicáveis da mesma forma (sem levar em conta o contexto), as abordagens humanizam o trabalho pedagógico, porque são ações carregadas de intencionalidade e afeto. Não é só um fazer pedagógico, é um modo de ser, que leva em conta o indivíduo, o ser único, que está em um ambiente de vida coletiva.

As pessoas que aqui trabalham têm consciência do quanto são importantes para cada bebê que por aqui passa. Conhecem seus nomes, suas especificidades e suas histórias, fazendo parte delas, inclusive.

Neste lugar, pessoas não podem ser trocadas, simplesmente. O que é essencialmente humano não é substituível. As relações não se constroem da noite para o dia, e quando ignoramos isso por questões burocráticas, estamos invalidando a essência do que é educar na escola das infâncias. Tais ações nos fazem desacreditar da nossa razão social. Aceitar sem lutar é rasgar nossos diplomas, nossos documentos mandatórios, como a BNCC e o Currículo Santista, e tornar a educação um espaço de produção em série.

Nossa cozinha também é território educativo. Quem prepara a comida conhece as preferências, as restrições e os ritmos de cada criança. Sabe que a Maya não aceita bem os grãos de feijão, que o Ravi precisa de uma mamadeira, pois ainda está no início do processo de introdução alimentar, que o Sebastião, por seu histórico, precisa da comida batidinha e amassadinha com azeite, que o Marcel necessita de um olhar atento por suas alergias e intolerâncias. Esses detalhes não estão nos protocolos, estão no cuidado diário, no olhar atento, no afeto que transforma um simples lanche em um momento de acolhimento.

Terceirizar é romper esses laços. É acreditar que qualquer pessoa pode substituir quem construiu, dia após dia, uma relação de confiança e segurança com nossas crianças.

A educação para a primeiríssima infância não se faz com rotatividade. Faz-se com presença, com memória afetiva, com a certeza de que aquele cheirinho de doce de banana, que invade os corredores da escola, vai ficar guardado na lembrança de cada um como parte de seu lugar no mundo.

Nossas crianças não são meros usuários de um serviço. Nossa escola é feita de afeto, e afeto não se terceiriza!